02 de dezembro de 2020 | 15h41
BRASÍLIA - O Brasil ainda precisa recuperar a confiança de outros países na área ambiental para destravar o acordo entre Mercosul e União Europeia, afirmou o embaixador da UE no País, Ignacio Ybáñez, ao Estadão/Broadcast. De acordo com ele, o governo do presidente Jair Bolsonaro deu sinais positivos recentemente. A negociação, porém, só vai ser levada para aprovação nos parlamentos dos países envolvidos quando houver dados concretos de redução do desmatamento na Amazônia.
Bolsonaro ignora queimadas e desmatamento e diz que o Brasil está de 'parabéns' na questão ambiental
"Recebemos uma resposta muito positiva do governo brasileiro indicando compreender nossa preocupação e que estariam preparados para estabelecer garantias", afirmou Ybáñez. "Queremos que isso seja feito o mais rápido possível, mas temos que recriar as condições de confiança, que agora mesmo não existem. É bom ter o senso de urgência, mas temos que ser cautelosos."
Por enquanto, os dados mostram que o desmatamento da Amazônia teve alta de 9,5% no último ano e voltou a atingir a maior taxa desde 2008, segundo estimativa divulgada no início da semana pelo próprio governo. De acordo com o embaixador, o Brasil precisa comprovar com números que os índices de desmatamento regrediram à tendência observada antes de 2018, quando o aumento da devastação se intensificou.
Na próxima semana, a Delegação da União Europeia no Brasil fará uma conferência com representantes do governo brasileiro e empresas na tentativa de envolver esses setores na implementação do acordo e alertar sobre a importância do desenvolvimento sustentável nos negócios, justamente em função dos dispositivos negociados entre os dois blocos econômicos. O evento será nos dias 8 e 9 por videoconferência.
O acordo entre Mercosul e União Europeia foi fechado em junho de 2019, mas ainda depende de uma revisão final no texto e de aprovação de todos os países envolvidos. A escalada do desmatamento na Amazônia freou a negociação e foi criticada internacionalmente. A União Europeia diz ter urgência na consolidação, mas decidiu adotar cautela esperando dados concretos do Brasil sobre o desmatamento para evitar que o acordo seja rejeitado em algum país, o que impediria a implementação.
Na última sexta-feira, 27, o vice-presidente da Comissão Europeia para área do comércio, Valdis Dombrovskis, se reuniu com o vice-presidente Hamilton Mourão, coordenador do Conselho Nacional da Amazônia, para expressar o posicionamento do bloco.
A postura de Bolsonaro na área ambiental é criticada internacionalmente. Recentemente, o presidente brasileiro pediu para não ser chamado de "inimigo do meio ambiente". Por outro lado, acusou países de importar madeira ilegal do Brasil e apontou interesses comerciais no agronegócio como o motivo da pressão internacional.
"É bom que o governo brasileiro e o conjunto da sociedade brasileira não vejam que essas críticas (contra o Brasil) têm uma justificação protecionista. Há protecionistas dentro da União Europeia e setores que podem não gostar do acordo, mas a preocupação com a sustentabilidade é genuína", afirmou Ybáñez.
Para o embaixador, é possível consolidar o acordo durante o mandato de Bolsonaro, mas a negociação precisa ser considerada para além dos governantes de plantão. O pensamento da equipe econômica para a abertura comercial, enfatizou, impulsiona as conversas. "O acordo tem que ser feito entre países e povos, não entre políticos."
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