Publicidade

Economia busca equilíbrio

Por Alberto Tamer
Atualização:

Estão falando muita insensatez sobre o Brasil, lá fora. Até o Financial Times e o Economist entraram nessa. O crescimento econômico do Brasil é artificial, vai acabar numa bolha, e daí por diante. Primeiro, a economia já está desaquecendo, confirmam os últimos indicadores. Nada mais de 11% anualizados. Cresceu muito por causa da política de estímulos fiscais, aumento de liquidez, medidas adotadas para superar rapidamente os dois trimestres de recessão, mas agora já está desacelerando. Vamos crescer ainda muito, sim, pois a demanda interna se mantém aquecida com o aumento da renda principalmente da classe D, famílias (não só pessoas, famílias) que ganham até dez salários mínimos, R$ 1.533,00, com reajuste real, descontada a inflação de mais de 50%. Há o aumento dos juros, sim, mas seu efeito sobre a demanda é gradual; será sentido mais adiante. Mesmo assim, a economia deve crescer entre 6,5% e 7% este ano. Não se pode dizer que isso represente um superaquecimento persistente. Seria insustentável se o Banco Central e a equipe econômica não estivessem atentos. China? Não. Não se pode também dizer que estamos crescendo no "ritmo chinês". Quando muito, ao ritmo do "consumo"chinês. A demanda interna, sim, 10%, mas a economia como um todo, não. Eles produzem mais, exportam mais, acumulam saldos comerciais crescentes, avançam ousadamente no mercado mundial. Têm reservas de mais de US$ 2 trilhões e manipulam sua moeda. Dizem que o yuan agora flutua, mas continuam controlando o câmbio. Podem absorver os efeitos laterais da entrada de dólares. E, acima de tudo, a China tem uma economia centralizada, administrada pelo governo, pelo Partido Comunista que é mais capitalista que o Partido Republicano dos Estados Unidos. A diferença é que controla um país onde só é livre quem ele deixa.Podemos crescer 7%? Uma analise lúcida, consistente e equilibrada feita para a coluna por Ilan Goldfajn, também colunista do Estado, doutor em economia pelo MIT, Instituto de Tecnologia de Massachusets, um dos melhores do mundo, e ex-diretor do BC. "O segundo trimestre foi mais fraco. O mundo se desacelerou, o consumo das commodities, as exportações, os investimentos. Mas isso vai mudar. No Brasil, o consumo arrefeceu porque as pessoas perderam temporariamente a vontade de comprar e a isenção do IPI acabou. Mas, agora, isso vai se reverter porque as pessoas têm mais renda." O Brasil pode crescer 7,5% este ano, mas precisa de reformas para manter esse ritmo no futuro. A economia deve desacelerar ao longo do tempo, na medida em que o BC está mudando a postura da política monetária, afirma Goldfajn à coluna. Ou seja, estamos crescendo muito, sim, mas a acomodação a níveis sustentáveis já está sendo feita. É pena que os colegas do Economist e do Financial Times não o ouviram antes de escrever nem atentaram para isso. O problema está lá fora. Estados Unidos, Europa, onde ninguém se entende. Como diz o ex-ministro Delfim Neto, "a confusão é geral". Obama conseguiu convencer o Congresso americano a prorrogar o sálario- desemprego, o que vai implicar mais US$ 3 bilhões de auxílio aos demitidos. Bernanke apresentou ontem à Camara dos Deputados um relatorio muito incisivo ao Congresso. Reconhece que o cenário econômico permance "incomumente incerto".E então? Então que, tendo em vista as últimas medidas da equipe econômica e do BC, o governo se mostra consciente de que a economia cresceu muito, mas já desacelera. Ninguém mais sai gritando contra a elevação dos juros. Pode ser que eu esteja enganado, mas há sinais de que o governo está consciente de que economia só pode crescer mais de 7% de forma sustentada se houver investimento e produção. E que em Brasília se caminha para um equilíbrio.Vamos torcer para que a coluna esteja certa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.