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Economia continua aquecida, diz professor

Por Agencia Estado
Atualização:

A economia pode estar crescendo acima do que é possível, o que justificaria a política conservadora do Banco Central em relação aos juros básicos da economia. Esta é a opinião do diretor da Tendências e professor da PUC-RJ José Márcio Camargo. Ele acha que persiste um descompasso entre o aquecimento da economia e o grau de utilização da capacidade instalada da indústria, o que poderia levar o Banco Central (BC) a aumentar uma vez mais os juros. Durante entrevista ao programa Conta Corrente, da Globo News, Camargo justificou que o crédito continua aumentando a uma taxa impressionante. "Não houve uma redução da taxa de crescimento do crédito, nem para a pessoa física nem para a pessoa jurídica. Isto significa que a demanda continua crescendo muito fortemente", salientou. "Dado que o estoque de capacidade produtiva está próximo do seu limite, o BC tem de se precaver quanto ao fato de que se a economia continuar a crescer nesse ritmo - e isso é o fundamental - pode vir a gerar uma pressão inflacionária mais alta." Ata light Por outro lado, o professor ressaltou que a ata do Copom veio muito mais leve do que a anterior, demonstrando que a inflação estaria começando a ceder, principalmente em relação aos preços livres e de mercado. "A taxa de variação dos preços de mercado vinha crescendo ao longo do segundo semestre do ano passado, em janeiro pela primeira vez ela cede um pouquinho e a tendência é de ceder um pouco mais em fevereiro", disse. O diretor da Tendências acha que existem razões para acreditar que, de alguma forma, a política monetária está começando a fazer efeito e a taxa de inflação está caindo. "O Banco Central sinalizou um pouco que se os indicadores continuarem nessa direção então nós poderemos ter o fim do ciclo de aperto monetário. Não acredito na próxima reunião, mas provavelmente na reunião seguinte." Redução no spread De acordo com o professor da PUC-RJ, o governo fez uma série de reformas institucionais para o mercado de crédito que melhoraram a eficiência da intermediação financeira nos últimos dois anos, reduzindo o spread entre a Selic e o tomador final de empréstimos. Porém, contraditoriamente, ele estaria pagando juros mais altos exatamente em função disso. "Os trabalhadores hoje podem tomar crédito vinculado à folha de salários a uma taxa que é a metade do que era um ano e meio atrás", lembrou José Márcio Camargo. E, conseqüentemente, sobra menos dinheiro para o governo tomar emprestado, o que acaba elevando a taxa de juros básicos. Porém salientou: "Mas isso significa que a economia está caminhando na direção correta de mais eficiência: o preço do bem é igual para todo mundo." Queda na renda O diretor da Tendências comentou ainda a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE, divulgada nesta quinta-feira. De acordo com ele, a pesquisa apresentou resultados surpreendentes. "O fato de a renda de todos os trabalhadores ter caído é ruim, mas o fato de que caiu mais para os mais ricos do que para os mais pobres é bom", frisou. "Nós vamos ter que analisar com um pouco de cuidado a pesquisa para ver por que desta vez a renda dos mais ricos caiu mais rapidamente do que a dos mais pobres. Em geral no Brasil, numa recessão, a distribuição de renda tende a piorar e, quando cresce, também tende a piorar." Previdência: nova reforma José Márcio Camargo ainda destacou que o déficit da Previdência continua sendo o principal problema fiscal do País, apesar do recorde de arrecadação de R$ 8 bilhões no mês de janeiro. E, fazendo coro às recentes recomendações do FMI, previu a necessidade de uma nova reforma no setor. "O Brasil hoje gasta 13% do PIB com Previdência Social, sendo que tem 7% de idosos na sua população", explicou. "Nós estamos muito acima da média, o que tem a ver com o fato de que o sistema é extremamente generoso em todos os sentidos. Eu acho que nós vamos para outra reforma em breve."

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