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Economia em 2022: contas públicas serão tendão de Aquiles

Ano será difícil com cenário global volátil e incerteza política doméstica

Por Paulo Leme
Atualização:

Depois da ressaca do réveillon, ninguém merece ler uma coluna pessimista para começar o ano. No entanto, lamento informar que enfrentaremos mais um ano difícil pela frente devido à deterioração da conjuntura econômica e o aumento da incerteza política. 

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O cenário global será volátil e desafiador, principalmente devido ao aumento global da inflação e o aperto da política monetária liderado pelos bancos centrais da Inglaterra, dos Estados Unidos (Fed) e do Canadá. Além de concluir o seu programa de compra de ativos em março, o Fed provavelmente aumentará a taxa de juros em 1% em 2022 e 1,5% em 2023.

O aperto da política monetária nos EUA reduzirá o fluxo líquido de capitais às economias emergentes, apreciará o dólar, e desvalorizará o real. Além disso, a nova onda de covid-19 reduzirá o crescimento dos EUA para 3,5% e o estouro da bolha imobiliária reduzirá o crescimento do PIB da China para 4,5%. Para a economia mundial, isto significa que o crescimento do PIB global cairá de 6% em 2021 para 4% em 2022. 

Felizmente, as nossas contas externas são sólidas, o que nos ajudará a enfrentar o cenário externo mais difícil no contexto das eleições de 2022. Infelizmente, o mesmo não se aplica às contas fiscais. Apesar de que o coeficiente dívida pública PIB caiu para 81,6% em 2021, é provável que, em 2022, a dinâmica da dívida pública irá piorar, devido ao forte aumento da taxa real de juros, à estagnação do PIB e ao aumento eleitoral do déficit primário.

Política monetária restritiva nos EUA reduzirá fluxo de capitais às economias emergentes; tendência é real se desvalorizar Foto: Fábio Motta/Estadão

Em 2022, as contas públicas serão o nosso tendão de aquiles. Dependendo de quem estiver liderando as pesquisas eleitorais, é provável que a dinâmica da dívida pública piore e as expectativas de inflação desancorem, elevando mais ainda as taxas longas e curtas de juros. A incerteza política e a multiplicidade de cenários eleitorais ruins aumentarão o risco país e desvalorizarão o real. 

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A corrida presidencial só terá início em junho. No momento, o grid de largada é desanimador, por sugerir que manteremos os mesmos protagonistas com quem o Brasil já perdeu a corrida global do crescimento, produtividade, inovação e prosperidade.

Nós, brasileiros, somos otimistas. Mas, no momento, o cenário da terceira via é mais um artifício de conforto psicológico do que realidade. Sem o engajamento dos formadores de opinião e daqueles que desejam contribuir para melhorar o país, talvez chegaremos a 2023 sentindo saudades de 2021.

*PROFESSOR DE FINANÇAS NA UNIVERSIDADE DE MIAMI E PRESIDENTE DO EXECUTIVO COMITÊ GLOBAL DE ALOCAÇÃO, XP PRIVATE 

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