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Economia européia ainda não ameaça relação com o Mercosul

No entanto, ela poderá ser prejudicada se a desaceleração econômica da Europa persistir

Por Agencia Estado
Atualização:

As relações comerciais entre Mercosul e União Européia (UE) só poderão ser ameaçadas se a desaceleração econômica européia persistir. Por enquanto, diplomatas brasileiros e especialistas europeus acreditam que o processo negociador entre UE e o Mercosul não deverá ser influenciado pelo cenário político-econômico conturbado. A Europa vive uma semana tumultuada em meio a índices de crescimento abaixo do previsto, além de amargar um desemprego nunca antes registrado. "Não podemos falar em recessão, mas em desaceleração. Entretanto, se este quadro se mantiver, aí sim a Europa poderá tomar medidas protecionistas, atingindo os países em desenvolvimento, como Argentina e Brasil", afirma o embaixador e economista Jorge Remes Lenicov, da Missão da Argentina nas Comunidades Européias, em Bruxelas. "As negociações Mercosul-UE têm uma agenda fixada, mais estratégica, e não deverão ficar entorpecidas pela conjuntura econômica européia". Para o embaixador José Graça Lima, representante da Missão brasileira, "a decisão, de natureza política, de buscar um acordo nas bases acertadas leva em conta os benefícios recíprocos de longo prazo e não fica sujeita a considerações conjunturais". Atualmente, a UE tem um índice de 1% de crescimento do PIB, não cumprindo o objetivo previsto de 1,4%. Aponta ainda uma baixa na taxa de criação de emprego de 1% a 1,5% entre o primeiro e o segundo semestre de 2001, segundo o último informe anual sobre emprego, divulgado pela Comissão Européia. O documento prevê para este ano um aumento de emprego de apenas 0,3% frente ao 1,2% registrado em 2001 e 1,8% de 2000. A situação vivida pela Europa é reflexo de outras tendências econômicas e pode ser explicada por vários fatores, afirma o economista Frédéric Bergans, da universidade Livre de Bruxelas: a queda das bolsas, a fragilidade da demanda interna e européia sem poder de fogo para alimentar a retomada do crescimento, a situação econômica norte-americana, a retração em geral do comércio mundial e as incertezas políticas provenientes dos riscos dos conflitos no Iraque e no Oriente Médio. "A Europa nunca foi, nem talvez jamais seja, uma locomotiva do crescimento macroeconômico global. Com o euro fortalecido, poderá até crescer mais do que o previsto, descontada a preocupação com o índice inflacionário, que não permitirá queda na taxa de juros", afirma. Por enquanto, o interesse europeu no Mercosul está bem refletido no programa de trabalho fechado no Rio de Janeiro, em julho, mas ninguém garante que não sofra alterações. Não pela desaceleração econômica ou pela possível guerra entre Estados Unidos e Iraque, mas em decorrência do único elemento externo com peso para influir no andamento do processo negociador Mercosul-UE: a aguardada oferta norte-americana na Alca para acesso a mercados, agora com Trade Promotion Authority (TPA) - autorização para o Executivo negociar acordos de livre comércio. A oferta dos Estados Unidos só deve ser apresentada entre março e maio do ano que vem, enquanto a melhora das ofertas européias e do Mercosul está prevista para fevereiro. Uma oferta ambiciosa norte-americana força tanto o Mercosul, quanto a UE, a aumentar as ambições com ganhos para o bloco sul-americano. Mas se a oferta norte-americana for modesta, todo o esforço de melhora e retomada de iniciativa poderá ser pouco evidente, segundo análise do embaixador Graça Lima, reforçando que o Brasil está em uma conjuntura de novo governo no Brasil e transição na Argentina.

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