Mónica Cervigón está desempregada. Deixou o trabalho de vendedora há cinco meses ao perceber que, com vendas em queda, as comissões já não eram suficientes nem para pagar despesas do trabalho. A espanhola de 39 anos, porém, está animada. Juntou economias e comprou equipamentos para abrir um salão de beleza em Quijorna, pequena cidade de 3 mil moradores perto de Madri. Não é só Mónica que está otimista. Agosto começou com uma série de dados positivos e a esperança crescente de que o pior da crise da Europa pode finalmente estar ficando para trás. Depois de vários trimestres com piora do quadro, números divulgados nos últimos dias apontam para a reação da economia europeia. Da queda do desemprego na Espanha ao aumento na produção de veículos no Reino Unido, o continente tem recebido alguns motivos para respirar mais aliviado.Entre os economistas, o alívio vem especialmente da possibilidade de que as medidas adotadas nos últimos anos estão começando a fazer efeito. O dado mais comemorado foi o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), indicador que mede o movimento nas empresas em aspectos como produção, pedidos e compra de fornecedores. Em julho, o índice da zona do euro subiu para 50,5, acima dos 48,7 de junho. Essa foi a primeira vez desde janeiro de 2012 que o número superou 50 - nível que sinaliza o crescimento da economia.Recuperação. Tal reação aparece em praticamente toda a região. Por países, a Itália teve o melhor número em 26 meses e a Espanha, em 25 meses. "A pesquisa confirma um bem-vindo retorno ao crescimento, aumentando a esperança de que a região pode finalmente sair da recessão. Após falsos indícios, a melhora da confiança e outros indicadores justificam pelo menos um pouco de otimismo", diz o economista responsável pela pesquisa, Rob Dobson. Até agora, a Europa amarga recessão desde o quarto trimestre de 2011.Fora das empresas, sinais positivos também começam a ser vistos na rua. Na Espanha, o índice de desemprego continua acima de 26%, mas o número de espanhóis sem trabalho cai gradativamente. Já são cinco meses seguidos de redução - uma tendência positiva que não era vista desde 2007. Em julho, quase 65 mil pessoas foram contratadas.No país vizinho, o desemprego em Portugal caiu no segundo trimestre, a primeira melhora do indicador desde 2011, quando o país pediu o resgate internacional. Na Itália, a economia continua em contração, mas o ritmo da queda da atividade no segundo trimestre foi a metade do esperado pelos economistas. No Reino Unido, as vendas no varejo de julho foram as melhores em seis anos e a produção de automóveis saltou 12,7% no mês passado.Nuvens à frente. Apesar da sequência de dados positivos, poucos comemoram. Entre os economistas, o grupo dos mais céticos diz que a melhora pode ser temporária e os ventos poderão piorar nos próximos meses. "O senso de que o pior já passou melhorou o humor dos mercados. No entanto, uma série de eventos a partir de setembro compõe uma zona de risco que pode fazer onda nesse mar de tranquilidade", alertam economistas do BNP Paribas. Na lista de preocupações, estão as eleições na Alemanha, o início do debate sobre lei eleitoral na Itália, a revisão do resgate português e a possível necessidade de nova ajuda financeira à Grécia. Há, ainda, aspectos que não estão na agenda. A reação do emprego na Espanha, por exemplo, é recebida com muita cautela porque o "efeito verão" pode estar inflando os resultados. Segundo reportagem do jornal El País, se o efeito sazonal fosse considerado, o total de desempregados teria, ao contrário, subido em 7,5 mil em julho.Outra ameaça são as contas públicas. Analistas dizem que a crise política em países como a Espanha e a Itália pode fortalecer a pressão por medidas consideradas populistas, que tendem a elevar os gastos e poderiam deteriorar as contas públicas. No Reino Unido, economistas advertem ainda que parte da reação da economia é liderada pelo setor imobiliário. Indicadores como a compra de imóveis têm reagido mais rápido do que o restante da economia. O problema é que o governo adotou um programa que garante parte das hipotecas contratadas pelas famílias. Ou seja, o governo bancará parte do prejuízo em caso de calote. Para a agência de classificação de risco Fitch Ratings, a dívida pública sofrerá se a inadimplência crescer rápido. Na pequena Quijorna, Mónica Cervigón diz não acompanha tão de perto o noticiário econômico, mas mostra que faz parte do time que está cautelosamente otimista. O plano da nova empresária era contratar uma cabeleireira com contrato permanente para o salão que já tem até nome: Le Canart. "Mas, após conversar com algumas pessoas e fazer contas, devo contratar essa pessoa como autônoma e oferecer uma porcentagem dos serviços. Acho que é mais prudente neste momento."