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‘Economia não cresce se a classe média não aumentar’, diz presidente da Roland Berger

Para executivo da consultoria alemã, é necessário que toda a sociedade se una em torno de um projeto de crescimento, ou o País estará condenado à estagnação

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

Para Antonio Bernardo, presidente da consultoria alemã Roland Berger no Brasil e América Latina, a economia brasileira não vai crescer se a classe média não aumentar. E, para isso, serão fundamentais pontos como a modernização da indústria e o aumento da produtividade. E, para atingir esses objetivos, ele acredita que será necessário um esforço conjunto de toda a sociedade, num movimento semelhante ao já visto em outros países. 

Bernardo lembra que, cinco anos atrás, a Alemanha, por exemplo, conseguiu reunir forças políticas adversárias numa coalizão voltada para ações estratégicas para o desenvolvimento do país. Já a Espanha acaba de constituir a “Equipe-País”, formada por grandes empresários, cientistas, acadêmicos - no total,um grupo de 130 pessoas - para apoiar a sua reconstrução.

O presidente da consultoria alemã Roland Berger no Brasil e América Latina,Antonio Bernardo. Foto: Roland Berger/Divulgação

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Nessa linha, a consultoria criou e apresentou a grandes empresários um plano chamado Re-Imaginar Brasil 2030, com diretrizes para uma retomada sustentável do crescimento. Para Bernardo, um dos pilares é, sem dúvida, a indústria. Segundo ele, não existe país de grande peso econômico que não tenha uma indústria de transformação forte.

“Sabemos que a indústria tende a reduzir a sua participação no Produto Interno Bruto (PIB), mas não pode ser tão rápido como está acontecendo no Brasil”, argumenta. Hoje, essa fatia está na casa de 11%. Para reverter esse quadro, ele diz que é preciso investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Atualmente, o Brasil aplica 1,3% do PIB, enquanto a Coreia do Sul, que era mais pobre que o Brasil 40 anos atrás, investe 4,5%.

Outro ponto levantado pelo consultor é a maior abertura do mercado para os produtos estrangeiros, a fim depromover a concorrência. Isso permite que produtos brasileiros integrem as cadeias globais de valor. Hoje, as trocas internacionais correspondem a 29% do PIB brasileiro , enquanto na Alemanha e no México essas fatias correspondem a 88% e 64%, respectivamente. “O Brasil tem uma economia muito fechada.”

Bernardo aponta ainda a necessidade de reduzir o peso do Estado na economia por meio de privatizações e da reforma administrativa. “Temos de ter menos Estado e o melhor Estado.” Ele argumenta que o papel do Estado deve ficar concentrado em serviços fundamentais, como saúde, educação, segurança e Justiça, a fim de reduzir a desigualdade social. As reformas tributária e política se encaixam nessa estratégia.

Também seria um ponto crucial ampliar a presença do País em setores que representam “as indústrias do futuro”, ligados ao meio ambiente, à sustentabilidade e a energias alternativas, por exemplo. E, claro, aumentar os investimentos. “O Brasil está investindo cerca de 15% do PIB, não dá”, diz o consultor. Nas suas contas, seria necessário aumentar essa taxa para algo entre 22% e 23% do PIB para atingir a meta de alcançar uma renda per capita anual na casa de US$ 15 mil - ante os atuais US$ 8,5 mil.

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Segundo Bernardo, o plano desenhado pela consultoria conta com o apoio de pelo menos 15 empresários, de grandes companhia. Para ele, se nada for feito, a tendência é a estagnação. “O País vai continuar tendo uma grande desigualdade social, com uma economia vivendo de recursos naturais e crescendo muito pouco.”