14 de outubro de 2021 | 05h00
BRASÍLIA - Mesmo com rusgas políticas nos últimos meses, o comércio entre o Brasil e a China continuou intenso, inclusive durante a pandemia de coronavírus. Prestes a se tornar a maior potência econômica do globo - o que deve ocorrer ao final desta década - todos os esforços da China estão calcados em um crescimento sustentado. O Brasil seria parte importante desse novo modelo de expansão do país asiático, já que tem grande área de preservação e busca oferecer produtos cada vez menos nocivos ao planeta.
Este é um dos temas principais que devem permear a 6ª edição da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), prevista para ser realizada no Brasil no início do próximo ano. Para dar subsídios ao governo brasileiro durante o principal mecanismo de diálogo bilateral dos dois países, o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) preparou o relatório “Sustentabilidade e Tecnologia como Bases para a Cooperação Brasil-China” com propostas sobre os pontos que deveriam ser abordados.
O documento será entregue nesta quinta-feira, 14, ao vice-presidente, Hamilton Mourão, e à ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina. Mourão é o presidente da Cosban pelo Brasil e o vice-presidente Wang Qishan, pela China. “O documento tem como propósito explicitar meios para a consecução de objetivos sobre os quais já há um significativo grau de consenso”, explicou o presidente do CEBC, embaixador Luiz Augusto Castro Neves.
“Brasil e China podem se beneficiar de uma cooperação mais profunda nessa área, por meio da adoção de compromissos que visem a valorização e a expansão de práticas e tecnologias sustentáveis no comércio bilateral”, afirma o documento do CEBC. Pequim tem a meta de zerar as emissões líquidas de gases que provocam o efeito estufa (GEE) até 2060. Este também era o prazo do Brasil, mas em abril, o presidente Jair Bolsonaro adiantou o objetivo em 10 anos, durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima.
“A sustentabilidade ganhou um papel central nas políticas públicas da China e é uma questão de sobrevivência também. Então, esta é uma questão relevante para a China e para a agropecuária brasileira também”, diz a diretora-executiva do CEBC, Cláudia Trevisan.
Entre os pontos elencados no relatório na área de sustentabilidade e agricultura está a criação de uma câmara de compensação (clearing) para facilitar as trocas comerciais entre os países. “A ideia é ter uma alternativa ao dólar. Pode ter um importador na China ou um exportador no Brasil que não tenha acesso a uma linha de crédito em dólar. Isso ajuda a diversificar o perfil, reduz custos e abre caminho para exportadores de menor porte”, diz a diretora.
Outro ponto é o de já antecipar as relações para que as trocas entre os dois países possam ocorrer assim que um mercado mundial de carbono for desenhado – há a expectativa de que isso ocorra durante a Conferência do Clima, COP26, marcada para o mês que vem na Escócia. “A proposta é a de que haja um mecanismo de cooperação para preparar o terreno para o mercado global de carbono, então China e Brasil poderão interagir rapidamente. A China deve ter grande demanda por créditos de carbono, e o Brasil tem a oferecer. Vemos isso como uma grande oportunidade futura”, diz Cláudia.
Há ainda recomendações para troca de conhecimento sobre agricultura sustentável e para ampliar investimentos em finanças verdes e sincronia de procedimentos regulatórios voltados à aprovação de biotecnologia agrícola, entre muitas outras. Já na parte de inovação e tecnologia, há sugestões como intercâmbio técnico, entre empresas e governos e disseminação de informações sobre fundos de venture capital disponíveis na China para o setor privado brasileiro e sobre as oportunidades de investimento no ecossistema de inovação e startups do Brasil para fundos chineses.
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14 de outubro de 2021 | 05h00
BRASÍLIA - O governo está sempre em busca de investimentos estrangeiros para colocar em ação projetos que beneficiam o avanço do Brasil. Nem sempre, no entanto, os países estão interessados em alocar recursos em alguns projetos, principalmente os de infraestrutura de longuíssimo prazo, mas a China, prestes a se tornar a maior potência econômica do globo no fim desta década, pode ser atraída por este tipo de empreendimento. A avaliação foi feita pela diretora-executiva do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Cláudia Trevisan, que já morou no país asiático.
Ela conversou com o Estadão/Broadcast para detalhar o relatório “Sustentabilidade e Tecnologia como Bases para a Cooperação Brasil-China”, que será entregue nesta quinta-feira, 14, ao vice-presidente, Hamilton Mourão, e à ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina. A intenção, de acordo com ela, é dar subsídios ao governo brasileiro para a 6ª edição da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), prevista para ser realizada no Brasil no início do próximo ano.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Sim, a sustentabilidade ganhou um papel central nas políticas públicas da China. Está no centro do 14º Plano Quinquenal, de 2021 a 2025, e a China está assumindo um papel de liderança nas negociações internacionais em relação ao clima. É uma questão de sobrevivência também, para ter um crescimento que seja sustentável no longo prazo. Então, esta é uma questão relevante para a China e para a agropecuária brasileira também. É algo que está cada vez mais presente nos mercados para os quais o Brasil exporta. Não há ainda na China, como na Europa, o posicionamento do consumidor, mas a tendência é a de que isso se expanda. Como a China é o maior mercado para os produtos agropecuários brasileiros, se o Brasil quer sua agropecuária cada vez mais sustentável, esta questão pode ser olhada como parte da solução do combate à mudança climática.
Esta é uma das propostas do documento: que haja um mecanismo de cooperação para preparar o terreno para o mercado global de carbono – que pode ser anunciado durante a COP26, em Glasgow, no mês que vem. Então China e Brasil poderão interagir rapidamente. A China deve ter grande demanda por créditos de carbono, e o Brasil tem a oferecer. Vemos isso como uma grande oportunidade futura.
O importante é que a gente agregue valor a essas commodities. Em vez de soja, vender carne e, em vez de carne in natura, vender o alimento processado. Também tem mercados ali de produtos que exportamos pouco e têm potencial, como o café. A China é um dos maiores mercados consumidores. Nas áreas urbanas, o país do chá está virando o país do café. Há ainda outros nichos, como moda, cosméticos, tudo o que tem a ver com biodiversidade...
O Brasil já tem uma série de protocolos consolidados, como a Agricultura de Baixo Carbono (ABC). Tem vários protocolos que reduzem as emissões e que são potenciais... então, é importante aumentar a troca de informações que facilitem investimentos da China no Brasil porque esta é uma prioridade para a China. Há um estímulo do Banco Central local para investimentos em finanças verdes, e o Brasil tem tudo para ampliar sua participação.
Primeiro, é preciso relativizar essa ideia de que os chineses estão comprando tudo. Houve uma concentração de investimentos no setor elétrico do Brasil, foi o maior, em torno de 45% do total, mas isso não quer dizer que a China está dominando o setor elétrico no País. As participações são minoritárias. E, em outros setores, a participação da China também não é majoritária, como o de óleo e gás e de mineração. Nenhum deles torna a China um grande player. O Brasil precisa de investimentos estrangeiros e a China tem interesse em investir em setores que nem sempre atraem outros países, como infraestrutura de longuíssimo prazo. Além disso, a regulação do Brasil já conta com regras antimonopólio ou pró-competitivas.
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