PUBLICIDADE

'Economist' pergunta por que crescimento do Brasil fica atrás da Argentina

Revista compara crescimento e políticas econômicas dos dois países.

Por Da BBC Brasil
Atualização:

Com artigo intitulado A lebre e a tartaruga, a revista britânica The Economist, que chega às bancas na sexta-feira, compara o crescimento econômico do Brasil e da Argentina e tenta explicar por que os "vagarosos brasileiros estão alcançando a veloz economia argentina". "Pegue duas economias vizinhas, ambas extremamente dependentes de preços de commodities para obter bons resultados na balança comercial. Aplique a uma delas uma política monetária ortodoxa e veja ela acolher investidores estrangeiros e adotar o câmbio flutuante. Entregue o comando da outra a empreendores que recorreram à fixação de preços, proibição ou taxação de algumas de suas próprias exportações, e que mentem abertamente sobre a taxa de inflação. O resultado? O malandro - Argentina - continua a crescer a uma taxa de 9%, enquanto que, por contraste, o bem comportado Brasil segue vagaroso. É hora de reescrever os livros de economia? Os argentinos acham que sim. Mas há sinais de que o Brasil ainda pode chegar na frente." Segundo o artigo, o Brasil adota uma política econômica mais cautelosa, voltada, principalmente, para o combate à inflação e para evitar o risco de um grande déficit na conta corrente do país. "Na Argentina, essa cautela é sinal de fraqueza. Os políticos do país parecem determinados a mostrar que tudo que a América Latina precisa para crescer tão rápido quanto a China é arrancar a camisa-de-força do 'neoliberalismo' e de seus principais patrocinadores - aqueles horrorosos detentores de títulos e o FMI." Previsões erradas A Economist se refere à previsão errônea de vários economistas de que a Argentina iria enfrentar um desaquecimento econômico nos últimos cinco anos e afirma que, segundo uma fonte próxima à presidente Cristina Kirchner e ao seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, "esses economistas erraram diversas vezes. Talvez seja hora de acharmos novos economistas". Para a revista, para entender como dois líderes de esquerda vieram abraçar políticas tão diferentes, é preciso olhar como seus respectivos países responderam aos problemas econômicos de 2001-2002. "A Argentina, depois de vários anos em crise, abandonou a taxa de câmbio fixa, desvalorizando o peso e dando um calote na dívida pública. O Brasil, que mantinha o câmbio flutuante desde 1999, respondeu à turbulência em seus mercados de câmbio e dívidas em 2002 apertando ainda mais suas políticas fiscal e monetária." Segundo a The Economist, a desvalorização do peso funcionou e em 2005 a maior parte da capacidade industrial do país estava de volta em ação, mas como os novos investimentos eram insuficientes para sustentar o rápido crescimento, o governo abriu os cofres, aumentando salários e aposentadorias. A revista acrescenta que "o crescimento continuou, mas a inflação pulou para 20% ao ano. Ninguém sabe o número exato, já que o governo o maqueia." Baixo crescimento "Em contraste, o Banco Central do Brasil persegue uma meta de inflação, e não da taxa de câmbio. O real valorizou com a alta recorde do preço das commodities, gerando reclamações dos empresários industriais. Mas o Banco Central manteve a taxa de juros em 11,25% desde setembro passado. E ainda assim, a demanda doméstica é forte. Neste ano, com a alta acentuada do volume de importações, o Brasil deve apresentar um pequeno déficit de conta corrente, pela primeira vez desde 2002." O crescimento argentino (de 8% no último trimestre de 2007) provavelmente se deve mais ao aumento do preço da soja no mercado internacional do que à política econômica do governo Kirchner, afirma Daniel Volberg, do banco de investimentos Morgan Stanley, entrevistado pela revista. Segundo Volberg, se as previsões feitas em 2003 para o crescimento do PIB mundial e evolução dos preços de commodities estivessem corretas, a Argentina teria crescido apenas 3,7%. Em contraste, o Brasil teria perdido apenas 1,6 pontos percentuais de sua taxa de crescimento de 6,4% no mesmo período. "Então, apesar de os dois países terem se beneficiado enormemente das condições externas favoráveis, o Brasil está melhor posicionado do que pode parecer. Por causa da baixa inflação, em termos reais o crescimento da renda brasileira começou a alcançar a dos argentinos. Mas o Brasil tem muito mais espaço de manobra se a situação piorar. A Argentina, em contraste, se colocou em uma posição delicada. Qualquer diminuição da receita gerada pelas exportações prejudicaria sua base de arrecadação fiscal, e o Banco Central argentino dificilmente poderia imprimir mais dinheiro do que o nível atual." A Economist conclui afirmando que o investimento direto estrangeiro cresceu 84% no Brasil, no ano passado, em comparação com um crescimento de apenas 12% na Argentina. "Os brasileiros podem ser perdoados por acessos ocasionais de inveja em relação aos vizinhos, mas as coisas boas acontecem para quem sabe esperar." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.