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Economistas comentam a Operação Twist anunciada hoje pelo Federal Reserve

 Vários economistas ouvidos pelo blog Real Time Economics, do Wall Street Journal, comentaram a "operação Twist" lançada pelo Federal Reserve norte-americano.

Por Renato Martins e da Agência Estado
Atualização:

Vários economistas ouvidos pelo blog Real Time Economics, do Wall Street Journal, comentaram a "operação Twist" lançada pelo Federal Reserve norte-americano. Para Nigel Gault, da IHS Global Insight, o Fed "não decepcionou as expectativas dos mercados, mas a reação inicial do mercado de ações foi negativa, porque o comunicado do Fed referiu-se a 'riscos negativos significativos para a perspectiva'. O Fed está fazendo o quanto pode para lidar com esses riscos - e nós achamos que mais cedo ou mais tarde ele vai voltar a adotar o afrouxamento quantitativo -, mas não tem nenhuma ferramenta que possa, por mágica, voltar a estimular o crescimento econômico. O 'Twist' poderá manter o juro dos Treasuries de 10 anos de 10 a 20 pontos-base abaixo do nível em que ele estaria sem a adoção da medida, mas os juros já estão extremamente baixos; alguns pontos-base a menos não mudam a perspectiva". Eric Green, da TD Securities, disse que "os três votos dissidentes, mesmo número de agosto, não significam nada neste ponto, e não significam nada para um novo afrouxamento quantitativo no futuro, se Bernanke o quiser. Consenso é bom, mas não é necessário. Este é o Fed de Bernanke, seu legado, e ele pretende cumprir a promessa de que a 'japonisação' 'não pode acontecer aqui'. Bernanke não quer um segundo mandato, ele quer controlar seu legado. Suspeitamos que teremos mais provas disse no futuro". Dana Saporta, da Crédit Suisse Securities, questionou: "Por que o Fed se dá ao trabalho? Será que essas mudanças de política vão estimular a economia real e reduzir a taxa de desemprego? Isso é discutível, mas a maioria dos dirigentes do Fed provavelmente concorda que: 1. Esses programas mantêm as condições financeiras mais frouxas do que seriam de outra maneira; 2. Os custos de fazer alguma coisa são baixos, já que o risco de inflação é pequeno; e 3. Fazer alguma coisa é melhor do que não fazer nada no ambiente atual". Na opinião de Michael Gapen, da Barclays Capital, "a decisão de reinvestir os pagamentos do principal de bônus das agências de crédito hipotecário e de títulos lastreados em hipotecas é notável, mas a maioria dos dirigentes do Fed vê a política da instituição nessa área como quase fiscal. Portanto, interpretamos a decisão do Fed de manter-se envolvido no mercado de financiamento a hipotecas como uma indicação de que alguns membros estão preocupados com o estado do crédito hipotecário e do setor de moradias, à luz do crescimento lento e dos riscos elevados para a perspectiva". David Resler, da Nomura Global Economics, disse que "o tamanho e a duração do programa Twist implica compras mensais de US$ 50 bilhões ao longo do período previsto de oito meses. A combinação de compras de títulos lastreados em hipotecas e a extensão da maturidade média da carteira de títulos do Fed deve prover mais apoio do que se esperava para o mercado de moradias". Para Ray Stone, da Stone & McCarthy, o programa de extensão da maturidade média da carteira de Treasuries do Fed "envolve vender US$ 400 bilhões em títulos do Tesouro com prazos de 3 meses a 3 anos. Essas vendas representam cerca de 75% da posição do Fed nesse setor. O Fed vai investir os recursos obtidos com essas vendas na compra de US$ 400 bilhões em Treasuries com vencimentos em 6 a 30 anos. As vendas e as compras de títulos deverão ser concluídas até o fim de junho de 2012. O que impressiona é o fato de o Fed prever que 29% dessas compras serão no setor de 20 a 30 anos. Desde que o Fed vai comprar de maneira desproporcionada os títulos de maior liquidez, isso implica que o Fed deverá comprar US$ 116 bilhões em bônus de 30 anos, ou cerca de 2/3 do que o Tesouro emite a cada ano". Os analistas da RDQ Economics escreveram que "nada disso é política monetária, é uma combinação de gestão de dívida e política para o mercado de crédito. Não esperamos que as compras de títulos lastreados em hipotecas sejam uma grande ajuda para o mercado de moradias, porque não é o nível dos juros hipotecários o que está restringindo as compras ou a atividade de refinanciamento. O comunicado, com mais destaque nos riscos negativos, provavelmente vai desequilibrar mais o mercado de ações do que assegurar os investidores". Na opinião de James O'Sullivan, da MF Global, "os céticos vão argumentar que questões estruturais vão impedir que os juros de prazo mais longo estimulem a economia. De fato, os dirigentes do Fed em geral concordam que a sensibilidade da economia ao nível dos juros foi prejudicada pelos efeitos remanescentes de um excesso de construções de moradias e por um crescimento excessivo no endividamento do setor privado,, o que dilui o impacto potencial. Contudo, a maioria dos dirigentes do Fed também acredita que a recuperação teria sido mais fraca do que foi, caso a política monetária fosse menos acomodatícia. Na verdade, novos recuos nos juros provavelmente serão modestamente estimulantes, O desafio, é claro, é o grau a que o crescimento está sendo constrangido por vários fatores, alguns deles derivam das "tensões recentes nos mercados financeiro globais'". Guy LeBas, da Janney Montgomery Scott, disse que "há poucos sinais de que mais acomodação tem ou pode ter um efeito significativo no crescimento da oferta. Ao invés disso, vemos essa nova política como uma tentativa do Fed de obter condições econômicas melhores por meio de blefes, convencendo os consumidores e os mercados de que os juros baixos terão um grande impacto, apesar das poucas evidências nesse sentido. Tendo em vista a grande dependência psicológica em relação às últimas decisões do Fed, podemos chamar essa coisa toda de Operação Twist and Shout "torcer e gritar", nome de uma das primeiras músicas dos Beatles. A boa notícia - sem mencionar o fato de que é uma das principais razões de o Fed estar disposto até mesmo a considerar esse programa - é que, ao contrário do afrouxamento quantitativo, a Operação Twist vem com muito menos risco de inflação, por não envolver o acionamento das impressoras de dinheiro". Augustine Faucher, da Moody's Analytics, observou que "a preocupação de que o Fed esteja perdendo dos dois lados de seu mandato duplo de garantir a estabilidade dos preços e o nível de emprego é o que determinou essa medida agressiva. O crescimento continua muito decepcionante e a taxa de desemprego está presa acima dos 9%. Os formuladores da política esperam que a inflação se desacelere, talvez para um nível que provoque novamente os temores de deflação. Tendo em vista esses fatores, o Fed decidiu tomar mais uma medida não convencional. Novas medidas agressivas são prováveis. O Fed provavelmente vai expandir seu balanço patrimonial novamente, mais tarde neste ano, em uma nova rodada de afrouxamento quantitativo. Ele poderá até mesmo ir além de comprar Treasuries, passando a comprar bônus corporativos e mesmo ações. Ele também poderá reduzir o juro pago aos bancos pelas reservas que eles mantêm no Fed, para encorajar o crédito". "Nada que o Fed ainda tem em seu arsenal, inclusive a decisão de hoje, terá um grande impacto no crescimento da economia real. O nível dos juros nunca foi um impedimento ao crescimento no atual processo de recuperação, e sem dúvida não o é agora. Além disso, tomadores com boa qualidade de crédito já tem acesso a financiamentos, e é duvidoso que qualquer coisa que o Fed faça vá encorajar os bancos a aumentarem os empréstimos para tomadores com menos qualidade de crédito. E eles não deveriam fazer isso, mesmo", opinou Joshua Shapiro, da MFR.

As informações são da Dow Jones.

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