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Economistas dão apoio a Schwartsman contra o Banco Central

Grupo de 61 economistas lançou manifesto contrário à decisão do Banco Central de processar seu ex-diretor por críticas à gestão da instituição

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Foto do author Célia Froufe
Por Alexa Salomão , Francisco Carlos de Assis (Broadcast) e Célia Froufe (Broadcast)
Atualização:
Para Schwartsman, houve tentativa de intimidação Foto: Fabio Motta

Um grupo de 61 economistas, pesquisadores e empresários lançou ontem um manifesto em repúdio à postura do Banco Central (BC) em relação ao também economista Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwartsman Associados e ex-diretor da Área Internacional do BC. A instituição tentou processar Schwartsman por considerar declarações dadas por ele à imprensa ofensivas ao trabalho do BC. 

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O manifesto foi lançado inicialmente pelo grupo de economistas, mas na internet circula uma petição pública repudiando a decisão do Banco Central, a qual qualquer pessoa pode assinar. No abaixo assinado aparecem os nomes dos economistas que lançaram o manifesto.

Os integrantes do grupo se declaram "perplexos" com a situação: "Todos nos acostumamos, durante anos, a ouvir críticas muito piores e inverídicas - como a de que o BC seria manipulado pelos bancos - sem qualquer retaliação. O respeito à crítica e ao debate transparente sobre a condução da política monetária, inclusive, tem sido um aspecto fundamental da atuação do BC", diz o manifesto.

Para o grupo, recorrer a Justiça contra a opinião de um especialista é usar "instrumento de repressão à divergência", que representa, na opinião do grupo, "um retrocesso inaceitável": "Constranger alguém judicialmente, configura uma prática incompatível com os valores que uma democracia deve ter e cultivar", diz o texto.

Entre os que assinam o manifesto estão o diretor da A.C.Pastore & Associados, Affonso Celso Pastore; Andre Lara Resende, um dos formuladores do Plano Real; Edmar Bacha, outro pai do Plano Real; o acionista da gestora Gávea Investimentos e ex-presidente do BC, Armínio Fraga; Amauri Bier, ex-secretário executivo do ministério da Fazenda; o ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa; o presidente do Insper Educação e Pesquisa, Claudio Haddad; os pesquisadores Eliana Cardoso, Fabio Giambiagi, José Alexandre Scheinkman e Eduardo Giannetti; Gustavo Franco, sócio da Rio Bravo Investimentos e ex-presidente do BC; o diretor da MB Associados José Roberto Mendonça de Barros; e o sócio da Mauá Sekular Investimentos e também ex-diretor do BC Luiz Fernando Figueiredo.

Não vejo o processo como algo pessoal. Ele é político e tem como finalidade mandar um recado ao mercado. É como se estivessem dizendo: se eu faço isso com um ex-diretor, o que eu não faria com vocês - Alexandre Schwartsman, sócio da Schwartsman Associados

Ao explicar a posição do grupo, o vice-presidente do Insper, Marcos Lisboa, que participou da organização do documento, citou o juiz americano Learned Hand, cujos argumentos em defesa da livre expressão criaram a jurisprudência dos Estados Unidos. As palavras de Hand: "Somos tolerantes com aqueles com quem discordamos porque existe a chance de eles estarem certos e nós errados. E se eles estão certos e suprimimos seus argumentos, perdemos o benefício da sua sabedoria."

Política.

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Schwartsman disse ontem ao Broadcast, que considera política, e não pessoal, a queixa-crime que O BC abriu contra ele na Justiça Federal em São Paulo.

Ainda de acordo com o economista, a iniciativa do procurador-geral do BC, Isaac Sidney Menezes Ferreira, de processá-lo é uma tentativa de mandar um recado ao mercado financeiro, uma forma de mostrar para os analistas que vai atrás de qualquer um que criticar sua política monetária. "É como se estivessem dizendo: se eu faço isso com um ex-diretor, o que eu não faria com vocês", comentou Schwartsman.

A queixa-crime foi rejeitada pela juíza federal Adriana Delboni. Para ela, as críticas feitas ao BC "de fato se mostraram bastante contundentes, porém, faz-se necessário salientar que não ultrapassaram os limites do mero exercício de sua liberdade de expressão".

Segundo o procurador-geral do Banco Central, o economista está se fazendo de vítima ao comentar a queixa-crime. "Os fatos não podem ser invertidos. A vítima do episódio é o Banco Central, que foi insultado. O BC jamais processou ou processará aqueles que divergem da condução da política monetária."

Ferreira afirmou que vai recorrer da decisão da Justiça Federal de São Paulo. A peça de acusação do BC se desenvolve sobre tese de que o economista impõe à autoridade monetária uma pecha criminal ao afirmar que sua gestão é temerária.

Para Schwartsman, esse argumento é frágil porque a inflação está em 6,51% no acumulado de 12 meses e, de acordo com as previsões, deve se manter no teto da meta em setembro o que, na sua visão, significa que "a gestão do BC é temerária, sim".

A decisão do procurador-geral do BC de abrir uma queixa-crime contra Schwartsman tem por base duas entrevistas do economista aos jornais Brasil Econômico e Correio Brasiliense no início do ano. Nas entrevistas, o ex-diretor do BC afirmou que a gestão do BC "atua de forma subserviente (ao Palácio do Planalto), incompetente e frouxa".

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Veja a lista completa do grupo de economistas que fizeram o manifesto:

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1. Affonso Celso Pastore
2. Afonso Bevilaqua
3. Alexandre Rands
4. Andre Lara Resende
5. André Portela
6. Armínio Fraga Neto
7. Carlos Eduardo Gonçalves
8. Carlos Eugênio da Costa
9. Carlos Melo
10. Carlos Viana de Carvalho
11. Carolina da Costa
12. Claudio Ferraz
13. Claudio Haddad
14. Cristina Terra
15. Eduardo Giannetti
16. Eduardo Zilberman
17. Elena Landau
18. Eliana Cardoso
19. Fabio Giambiagi
20. Guilherme Nobrega
21. Gustavo Franco
22. Gustavo Gonzaga
23. João Cesar Tourinho
24. João Manoel Pinho De Mello
25. José Alexandre Scheinkman
26. José Roberto Afonso
27. José Roberto Mendonça de Barros
28. Luiz Fernando Figueiredo
29. Maria Cristina Pinotti
30. Mansueto Almeida
31. Márcio Gomes Pinto Garcia
32. Marco Bonomo
33. Marcos de Barros Lisboa
34. Naercio Menezes Filho
35. Pedro Cavalcanti Ferreira
36. Roberto Castello Branco
37. Roberto Ellery Jr
38. Roberto Luis Troster
39. Rodrigo Azevedo
40. Ruy Ribeiro
41. Samuel Pessoa
42. Sergio Firpo
43. Sergio Lazzarini
44. Tiago Berriel
45. Tiago Cavalcanti
46. Vinicius Carrasco

47. Nelson Barbosa (Texto atualizado às 9h50)

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