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Economistas defendem maior desvalorização do real

Por Vinicius Neder e Mariana Sallowicz
Atualização:

RIO - A tendência de valorização do dólar é global e persistente, mas, para ter os efeitos positivos sobre a economia real, será preciso que o câmbio suba além dos atuais R$ 3,15 (ontem, fechou em R$ 3,154, com alta de 0,93%), alertaram economistas em seminário no Rio. O lado negativo é que essa alta adicional terá efeitos maiores sobre a inflação do que os vistos até aqui. O principal benefício do dólar mais alto é o favorecimento das exportações e o desincentivo à importação de bens produzidos localmente. Como a alta do dólar é global, ou seja, se dá também em relação a outras moedas, esses efeitos positivos não ocorrem e a economia brasileira continua desequilibrada nas contas externas, aumentando a vulnerabilidade. "Um almoço em Florença continua com o mesmo preço em reais nos últimos três anos", exemplificou o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central (BC), em palestra no seminário promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). O chefe do Centro de Estudos Monetários (CEM) do Ibre/FGV, José Júlio Senna, avalia que uma depreciação cambial adicional "parece absolutamente indispensável". Diante disso, o BC deveria olhar não apenas para a inflação geral, mas para a composição entre inflação de serviços e dos produtos. Para o economista-chefe do BTG Pactual e ex-diretor do BC, Eduardo Loyo, a recente alta do dólar está longe do fim e uma depreciação adicional do real é necessária para rebalancear o "setor real" da economia. "Não acho que o que aconteceu agora, recentemente, foi que a gente chegou mais cedo do que se imaginava ao ponto que já íamos chegar", afirmou Loyo. Pastore destacou que o Brasil está entrando em recessão, o que faz caírem os investimentos estrangeiros diretos (IED). Nesse quadro, a entrada de investimentos estrangeiros de curto prazo no mercado financeiro é fundamental para cobrir o déficit em conta corrente. "Há quem ache que é fácil, que o BCE injeta moeda no mundo e ela vem para o Brasil. Viria para o Brasil se o Brasil estivesse com risco baixo, mas o risco está subindo, então ele vai para os EUA, valorizando o dólar", disse Pastore.

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