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Economistas defendem mais poupança pública

Redução do ritmo de crescimento dos gastos correntes do governo abrirá espaço ao consumo e investimentos

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Por Fernando Dantas
Atualização:

A solução apontada por muitos economistas para aumentar a poupança nacional e dar mais solidez e durabilidade a uma trajetória de crescimento rápido seria um controle da expansão dos gastos correntes do governo, com o aumento da poupança pública abrindo espaço para o investimento e o consumo do setor privado. Márcio Garcia, da PUC-Rio, acha que o Brasil está optando pelo caminho mais arriscado, mas não necessariamente desastroso, de aumentar o déficit em conta corrente para poder investir e crescer mais. "Se a conjuntura internacional permanecer favorável, dá para prosseguir assim, mas sempre pode dar errado", ele comenta. José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Princeton, considera que, com o nível elevado da arrecadação de impostos no Brasil (na comparação com outros países emergentes), o governo deveria dar uma contribuição maior para a poupança nacional. "A gente já sabe que um dos grandes diferenciais entre o desempenho dos asiáticos e da América Latina no final do século passado foi o maior investimento deles em infra-estrutura", ele diz, citando uma área na qual os governos tipicamente investem. Os investimentos públicos são considerados poupança, ao contrário dos gastos correntes. A poupança pública no Brasil, aliás, está aumentando, embora em ritmo aquém do que os críticos da política econômica acham recomendável. Samuel Pessôa, da Fundação Getúlio Vargas no Rio, nota que a poupança pública é igual ao resultado operacional do setor público (no qual se desconta a correção monetária dos juros da dívida pública) mais os investimentos. Isso colocaria a poupança pública hoje na ordem de 4% a 5% do PIB. Fernando Montero, economista da corretora Convenção chama a atenção, porém, para o fato de que a poupança privada e a pública são intercomunicantes e as ações do governo que eventualmente aumentam a primeira podem reduzir a segunda. Ele exemplifica com cortes de juros e aumento de impostos, que aumentam a poupança pública, mas podem reduzir a privada - no primeiro caso, pelo incentivo ao consumo e, no segundo, pela redução da renda. Já o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, das Faculdades de Campinas (Facamp), embora também defenda a poupança pública em momentos de crescimento, ressalva que o importante é a montagem de um sistema financeiro apto a financiar os investimentos, como no caso dos países asiáticos. "Eles partiram de uma renda muito baixa, com volume de poupança insuficiente, mas o segredo foi fazer com que o sistema financeiro financiasse o crescimento, canalizando crédito para o investimento; a partir daí, o investimento gerou crescimento, e o crescimento gerou renda e poupança suficientes", explica Belluzzo.

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