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Economistas pedem mais audácia ao governo argentino

Por Agencia Estado
Atualização:

As medidas anunciadas domingo à noite pelo ministro de Economia, Jorge Remes Lenicov, podem servir para resolver apenas a situação conjuntural da Argentina, mas ainda não podem ser consideradas como programa ou plano econômico sustentável, como exige o FMI, dizem os principais analistas econômicos argentinos. "Precisava mais audácia, principalmente no que se refere a cortes no gasto público e à redução nos custos políticos, além de reformas que estavam em andamento e ficaram interrompidas, e de estímulo ao crédito", disse à Agência Estado Guillermo Corzo economista da Fundação Capital. Para ele, o que o governo anunciou domingo está direcionado mais para resolver problemas de estoque do que de fluxo. "Existem dúvidas sobre a questão fiscal e monetária, condições básicas para que a Argentina comece a caminhar outra vez", afirmou Corzo. Para o economista da Fundação Capital, um dos principais escritórios de consultoria financeira do país, as medidas anunciadas por Lenicov contêm grandes dúvidas, com resultados ainda incertos. Uma delas se refere à pesificação da economia, afirmou Corzo. Depois de pouco mais de uma década, período no qual a sociedade adotou o dólar como unidade de conta, fica difícil saber como será feita a "desdolarização" da noite para o dia, principalmente quando o fantasma da inflação começa a pairar sobre o país outra vez. Outra grande incógnita se refere à pressão do FMI, a qual poderá ficar traduzida na liberação do câmbio, que passará a ser único e flutuante após quase 11 anos de paridade entre o peso e o dólar. Essa realidade pode condicionar a cotação do dólar, embora o "corralito" - confisco dos depósitos - financeiro possa servir como mecanismo de equilíbrio. "Não se sabe ainda qual e como será reação dos correntistas que têm depósitos em dólares, principalmente porque sabem que a moeda norte-americana não está mais a 1 peso ou a 1,40, mas acima de 2 pesos", afirma Corzo. Os credores não-financeiros, por exemplo, que emprestaram em dólares não terão compensação alguma quando cobrem as dívidas a 1 peso. O certo é que, na próxima quarta-feira, quando acaba o feriado bancário, o mercado de câmbio deve viver outro dia nervoso. Analistas calculam que os importadores têm operações pendentes de liquidação de US$ 5 bilhões, o que deve pressionar a cotação do dólar. A isso, deve somar-se ainda a pressão do público nas casas de câmbio e bancos, como vinha ocorrendo nas últimas quatro semanas. Para piorar, as medidas que amenizaram o "corralito" devem injetar na economia entre 1,5 bilhão e 2 bilhões de pesos, que podem ser revertidos ainda na busca de dólares, agregando mais pressão sobre o câmbio. Embora o governo tenha informado que tem reservas (US$ 14 bilhões) e, até o final do ano, outros recursos provenientes do superávit comercial (US$ 12 bilhões) para enfrentar essa pressão, a dúvida permanece. Por isso, os analistas afirmam que é essencial o apoio externo. "Sem aval e sem dinheiro do FMI a situação ficará complicada", avaliou Corzo, por telefone de Buenos Aires. Tampouco ficou claro quanto o Banco Central vai emitir em pesos para compensar as perdas do sistema financeiro. Se houver descontrole na emissão de moeda, as medidas anunciadas este domingo podem ir por água abaixo. Além disso, o ministro não explicou também como ficarão as tarifas de serviços públicos. "É disso que dependerá a inflação futura", afirmou Corzo. Para os economistas, as medidas giram em torno do possível e não em cima do desejável. Leia o especial

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