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Efeito subprime pode tirar US$ 2 tri do crédito

Segundo Goldman Sachs, sistema bancário deve reduzir concessão de empréstimos nos EUA para cobrir prejuízos

Por Patrícia Campos Mello e WASHINGTON
Atualização:

A crise das hipotecas de alto risco (subprime) pode reduzir em US$ 2 trilhões a oferta de crédito nos Estados Unidos, segundo relatório do economista Jan Hatzius, do Goldman Sachs. De acordo com ele, as perdas com papéis lastreados em hipotecas devem chegar a US$ 400 bilhões nos próximos meses. Embora esse valor não seja grande (equivale a apenas 2,5% do valor de mercado das companhias abertas americanas, por exemplo), vai ter efeito em cadeia, levando a uma redução de US$ 2 trilhões na oferta de crédito, o suficiente para desacelerar a economia. Hatzius argumenta que as perdas de bancos, corretoras, fundos hedges (arriscados) e empresas de hipoteca apoiadas pelo governo, como a Fannie Mae, levarão essas companhias a reduzir drasticamente a oferta de empréstimos, o chamado efeito multiplicador da crise de hipotecas. "As implicações macroeconômicas podem ser dramáticas", diz Hatzius. "Mesmo que (a redução de crédito em US$ 2 trilhões) seja gradual e haja compensações em financiamentos de outros setores, o impacto na atividade econômica pode ser substancial." Desde 2005, US$ 1,5 trilhão foi emitido em papéis lastreados por hipotecas subprime e US$ 1 trilhão lastreado em um nível de menor risco que o subprime. Cerca de US$ 400 bilhões deverão ter calote. O problema é que as perdas no mercado de hipotecas são bem diferentes dos prejuízos no mercado acionário. Os detentores de hipotecas são, em sua maioria, bancos ou instituições que precisam manter em seus balanços determinadas proporções entre capital e empréstimos. Portanto, quando há perdas, precisam reduzir seus financiamentos para compensar. Esse encolhimento de US$ 2 trilhões na oferta de crédito equivale a 7% de todo o endividamento dos consumidores, empresas não financeiras e governo do país. "A redução do crédito por causa das perdas com hipotecas são um risco bem maior do que as pessoas acham e aumenta pressão sobre a economia", diz Hatzius. Segundo Pri De Silva, analista da consultoria Credit Sights, os preços dos imóveis não devem se recuperar em 2008, o que forçará mais empresas de hipotecas e bancos a reservar capital para potenciais calotes. Isso, por sua vez, reduz a capacidade dos financiadores de conceder empréstimos. Outro efeito multiplicador da crise subprime são as perdas dos cartões de crédito, diz De Silva - muita gente está financiando uma parcela maior das contas nos cartões para conseguir pagar as prestações da hipotecas. "As coisas não estão cheirando muito bem", diz.

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