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Efeitos do dólar corroeram lucro de 60 empresas, diz pesquisa

Pela terceira vez desde a mudança do regime cambial, em janeiro de 1999, os efeitos do dólar sobre o endividamento corroeram totalmente o lucro operacional de um grupo de 60 empresas.

Por Agencia Estado
Atualização:

Pela terceira vez desde a mudança do regime cambial, em janeiro de 1999, os efeitos do dólar sobre o endividamento corroeram totalmente o lucro operacional que um grupo de 60 empresas produtivas conseguiu fazer no terceiro trimestre deste ano. Um levantamento da Economática mostra que o lucro operacional avançou 58,1%, mas as despesas financeiras líquidas aumentaram 90,1% e o grupo fechou o período com prejuízo líquido de R$ 172,5 milhões. "O lucro operacional das empresas foi para o ralo das despesas financeiras", disse o presidente da Economática, Fernando Exel. O quadro só não foi pior porque o grupo de empresas conseguiu faturar 11,8% acima do que no ano passado, engordando o lucro operacional próprio. Caso o câmbio permaneça num patamar mais baixo nos próximos meses, o quadro poderá ser atenuado. Para Exel, contudo, os estragos feitos pelo câmbio no segundo e terceiros trimestres deixarão, ainda, marcas nos balanços anuais. O levantamento foi realizado com base nos 60 primeiros resultados de companhias abertas divulgados até a sexta-feira passada. Não inclui, contudo, os resultados da Petrobras, que pelo seu peso podem distorcer a tendência da maioria das empresas. As oscilações sobre o ano passado foram ajustadas com base no IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ou seja, são variações reais, acima da inflação no período. Receitas O estudo mostra que o grupo de empresas fechou o trimestre com receita líquida de R$ 25,327 bilhões, R$ 2,664 bilhões acima do trimestre no ano anterior. O executivo da Economática avalia que o aumento é expressivo e deve-se, principalmente, às empresas exportadoras. O aumento de receitas da Gerdau, por exemplo, foi de R$ 980 milhões, Aracruz R$ 223 milhões, Marcopolo R$ 219 milhões e CST, R$ 216 milhões, segundo a consultoria. "Contribuíram mais, realmente. Mas, no geral, houve alta de receita", afirmou Exel. O aumento das receitas contribuiu, ao menos, para reduzir o prejuízo líquido do grupo, na comparação com o mesmo período do ano passado. No terceiro trimestre do ano passado, o prejuízo das mesmas 60 companhias havia sido de R$ 563,4 milhões. O prejuízo apurado no trimestre deste ano acabou sendo 69,4% mais baixo do que no ano passado. O prejuízo deste trimestre reflete, principalmente, o aumento de R$ 2,484 bilhões para R$ 4,722 bilhões das despesas financeiras líquidas. "A maioria tem grande parte da dívida em dólares. Foi a única forma que encontraram para crescer. Com os juros altos no País, a saída foi captar recursos no exterior, com custo mais baixo", declarou Exel. Segundo o executivo, o lucro operacional, que havia crescido, "desapareceu porque a alta do dólar foi monstruosa". Endividamento O estudo mostra também que o endividamento financeiro total das empresas pesquisadas aumentou nada menos do que R$ 11,696 bilhões, do terceiro trimestre do ano passado para o mesmo período em 2002. Isto representa um aumento de 22,9% sobre o total da dívida financeira, de R$ 51,101 bilhões no período em 2001, para R$ 62,797 bilhões este ano. O desempenho das companhias nos próximos meses vai depender do patamar da cotação do dólar. "É verdade que, dependendo do câmbio no fim do ano, poderá se passar uma borracha nisso tudo e as empresas teriam uma receita financeira", disse. Mas ainda assim, as empresas fechariam o ano contabilizando as perdas dos dois trimestres anteriores. "O acumulado do ano vai refletir isso. Se o dólar acalmar, não vai acrescentar muito no desempenho do ano, porque o estrago já foi feito. Teremos resultados bem pobres, pelo impacto do que ocorreu no segundo e terceiro trimestres", afirmou o presidente da Economática.

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