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Eike Batista estreia como palestrante em evento para empreendedores

Com grito de 'ladrão' vindo do auditório, parte da plateia deixou o local rapidamente depois da entrada do empresário

Foto do author Luciana Dyniewicz
Por Luciana Dyniewicz
Atualização:

FLORIANÓPOLIS - Eram 22h de sábado, 6, quando o empresário Eike Batista subiu a um pequeno palco montado no Centrosul, o maior centro de eventos de Florianópolis, que já recebeu shows como do cantor Roberto Carlos. O dia ali, para cerca de 3 mil pessoas, havia começado às 8h, com uma temperatura de 8°C. Era natural que, cansado, o público começasse a ir embora. Mas, quando Eike apareceu, sob um forte grito de “ladrão” vindo do auditório, parte da plateia deixou o local rapidamente.

Até então, o centro de eventos estava lotado para ouvir a estrela da noite – que não era o homem que já foi o sétimo mais rico do mundo, mas, sim, Thiago Nigro, youtuber conhecido como Primo Rico e autor de livros com dicas para as pessoas fazerem fortunas. Enquanto Eike começava sua fala, uma fila se formou do lado de fora com pessoas tentando uma foto ou um autógrafo de Nigro. Dentro, restaram uns 70% da plateia de Nigro.

Empresário se mostrou menos habilidoso para interagir com a plateia em palestra Foto: Fabrício de Almeida/Imagem e Arte

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Foi a estreia de Eike como palestrante. Desde o início de 2018, ele já vem fazendo aparições online. Criou um canal no YouTube, hoje com 141 mil inscritos, e uma conta no Instagram, com 56,2 mil. Sua conta com mais seguidores é a do Twitter, onde falava diretamente com investidores – e cuja prática foi condenada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) – com 1,2 milhão de seguidores.

É por ela que vem dando dicas sobre empreendedorismo e interagindo com seguidores. Na semana passada, um seguidor escreveu: “Eike, minha prima quer ser empresária e tem você como maior inspiração. Manda um abraço pra ela”. Ao que ele respondeu: “UM CARINHOSO ABRAÇO PARA SUA QUERIDA PRIMA”, com letras maiúsculas para homenagear o pai, que gostava de escrever assim e morreu há pouco mais de um ano.

O empresário se mostrou menos habilidoso para interagir com a plateia. Deu uma palestra técnica, mas desorganizada, indo e voltando aos diferentes assuntos. Disse que está com projetos para investir em mineração e em nanotecnologia. Falou sobre produtos como grafeno (material produzido a partir do grafite) e a capacidade de exploração de petróleo no pré-sal brasileiro. “O grafeno fará que uma bateria de celular seja carregada em cinco minutos e que um avião seja 40% mais leve. Estamos trabalhando com empresas de aviação”, afirmou.

Foi um pouco desanimador para o público que havia iniciado o dia cantando “Superfantástico”, o clássico do Balão Mágico, e participado de interações como uma em que o palestrante perguntava “Tem valente aí?” e as pessoas respondiam “Sim, aqui tem vencedor”.

“Ele tem uma visão bem diferente de todos os palestrantes. Talvez o pessoal não compre muito a ideia dele, por tudo que ele construiu e desconstruiu, e talvez a forma de passar a informação não chame muito a atenção”, disse o empresário da área de eventos Eduardo Marafiga, um dos muitos que deixaram a palestra antes do fim. Ele não foi o único a ter essa impressão.“Foi um pouco técnica, talvez isso tenha afastado um pouco as pessoas”, disse Maisa Perondi, dona de uma indústria de lingerie no interior de Santa Catarina.

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Condenado em primeira instância a 30 anos de prisão por envolvimento no esquema de corrupção do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, o empresário, que recorre em liberdade, aproveitou a palestra para apresentar sua versão sobre o caso – “o réu confesso Sérgio Cabral disse que não houve toma lá da cá com Eike Batista” – e mostrou o vídeo com o depoimento de Cabral.

Responsabilizou os executivos que contratou pela quebra do império X – “Onde eu falhei? Auditoria de pessoas”, mas admitiu que a autoconfiança também contribuiu para perder sua fortuna, que, no auge, chegou a US$ 34,5 bilhões. “Achei que, com tanto sucesso, depois de construir 12 minas mundo afora, por que ia errar no petróleo?”

Eike também deu dicas para os que passarem por crises – “Entrar num ciclo ruim, acontece. Não tenham vergonha. Entrem e saiam pela porta da frente” –, numa das poucas vezes em que aplausos interromperam sua fala.

Durante a palestra de uma hora, não economizou nos autoelogios e se disse grato a Deus por suas habilidades: “Deus me permitiu ter o talento de gerar projetos que as pessoas consideravam impossíveis” ou “Não sei o tamanho dos projetos que vocês botam em pé. Deus me deu um talento de juntar elementos e sempre buscar eficiência”.

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Apesar de criticar seu auxiliar, o engenheiro Raul Bezerra, que ali era responsável por passar os vídeos (“Raul, você está lerdo, se estivesse ligado na minha cabeça, seria mais rápido”), citou o colega ao lembrar da importância de se trabalhar em grupo. “Você não faz nada sozinho. Sem o Raul aqui, eu estava perdido.”

A palestra, que começou com um vídeo em que Eike anunciou seu retorno ao mundo dos negócios, terminou com um grupo de 30 pessoas pedindo selfie com o empresário. Um deles era Vinicius Cantarin, dono de uma agência de marketing que afirmou admirar muito Eike Batista. “Dou mais valor ao que ele construiu e ao que ele está construindo do que a seus erros. Vejo que ele aprendeu com o erro, com o passado. Teve humildade de usar isso como aprendizado e agora vai seguir um caminho novo.”

Eike decidiu recomeçar, apesar de ter ter aconselhado a todos saberem a hora de parar. “Muita gente fala que não sabe fazer outra coisa (da que está acostumado). Paciência. Você tem de saber quando parar, porque você não é tão eficiente quantos outros.”

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