18 de julho de 2022 | 04h00
É doce ingenuidade imaginar que a campanha eleitoral poderá servir para um debate profundo sobre as vicissitudes econômicas do Brasil e orientar as medidas que o próximo presidente virá a tomar. Deveria ser assim, claro.
O período pré-eleitoral poderia servir para o embate de propostas e a apresentação de compromissos. Mas até as capivaras do Rio Pinheiros sabem que não é dessa forma que funciona entre nós. Há, tradicionalmente, uma corruptela de programa de governo para a campanha e, mais adiante, o enfrentamento das duras condições para a adoção das medidas que forem mais convenientes, dentro daquilo que é politicamente viável.
Desta vez é um pouco pior. O que o presidente Jair Bolsonaro pode dizer sobre a política econômica de um eventual (sugere-se aqui fazer o sinal da cruz) segundo mandato? O truque de chamar o Posto Ipiranga não funciona mais e uma tentativa similar será apenas vexatória.
Mesmo a cascata verborrágica do ministro da Economia, Paulo Guedes, virou hoje apenas o que sempre foi: cascata. O governo atual, patrocinador emérito da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da esculhambação fiscal, tem muito pouco a oferecer mesmo quando o jogo é apenas atirar sobre a mesa propostas populistas genéricas. Depois do fracasso exorbitante do atual governo, Bolsonaro terá dificuldade até mesmo para mentir.
Nas hostes petistas, avançar em um programa de governo também é oneroso. Começa pelo fato de que não há necessidade premente de apresentar alguma coisa que faça sentido. O eleitor médio se conforta com promessas tão vagas quanto generosas, daquelas que não cabem no orçamento.
Claro que não se poderá argumentar que o dinheiro virá do combate à corrupção, tema constrangedor para o partido, mas sempre será possível fugir de questões específicas com respostas etéreas que remetam aos deveres metafísicos da solidariedade entre os homens.
Mas o que impede mesmo o avanço na definição de um programa do PT é saber se a política econômica do ex-presidente Lula será petista. O mercado financeiro se conforta em pensar que não, enquanto os economistas ligados ao partido travam uma luta intestina, movida por um misto de vaidade e fé, que transforma o grupo em um ninho de mafagafos.
Para a campanha, de qualquer forma, não interessa avançar em propostas, já que parece suficiente explorar o resultado caótico da política atual. Tudo somado, ficaremos com poucas pistas para adivinhar quais medidas nos aguardam no próximo ano.
*ECONOMISTA, FOI DIRETOR DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL E PROFESSOR DE ECONOMIA DA PUC-SP E FGV-SP. E-mail: luiseduardoassis@gmail.com
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