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Eleições no Brasil podem atrapalhar a Alca, diz negociador dos EUA

Por Agencia Estado
Atualização:

As eleições presidenciais no Brasil, em outubro, podem atrapalhar o andamento das negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Essa é a opinião de um dos principais negociadores comerciais dos Estados Unidos, Peter Allgeier. "Isso (a eleição) certamente deixa o planejamento das negociações mais complicado a partir de outubro", afirmou o norte-americano em Genebra. Apesar dos sinais de preocupação dos EUA com o futuro das negociações diante das mudanças políticas na principal economia da América Latina, Allgeier afirma que espera que o próximo governo brasileiro siga negociando o acordo hemisférico. "Estamos confiantes de que, seja qual for o governo eleito no Brasil, o País cumprirá suas responsabilidades e obrigações, tanto como co-presidente do grupo negociações como na condição de participante do processo", disse. A partir de novembro, Brasil e Estados Unidos irão compartilhar a presidência das negociações para a criação da Alca, exatamente durante os últimos dois anos antes do estabelecimento do novo bloco comercial. Os detalhes sobre a co-direção do processo, porém, já começam a ser debatidos. "Ainda nesta semana teremos conversas com diplomatas brasileiros, em Genebra, para tratar da coordenação da co-presidência do bloco entre os dois países", afirmou Allgeier. O negociador norte-americano reconhece que a instabilidade política em vários países da América Latina também é um obstáculo para a construção do novo bloco comercial. "A crise política certamente gera complicações", afirmou. Ele lembra, porém, que já houve dificuldades políticas no passado e que os países conseguiram manter as negociações vivas. "Espero que assim seja até janeiro de 2005 (data em que entraria em vigor o acordo hemisférico)", disse. Mas mesmo diante da possibilidade de mudança de governo no Brasil e da instabilidade nos demais países da região, Allgeier acredita que as negociações não devam ser adiadas para o próximo ano. "Olhe a situação econômica do hemisfério. Mais do que nunca, a região precisa da integração econômica que está sendo oferecida pela Alca", disse. Segundo ele, a abertura dos mercados é um "ingrediente essencial" para salvar as economias da crise e que deve ser complementado com reformas internas nos países da região. "Sem a abertura (dos mercados), é menor a chance de recuperação econômica na América Latina", afirmou. Resta saber, porém, se a abertura comercial que defende Allgeier também inclui a liberalização do comércio em direção ao território norte-americano. Nos últimos meses, a Casa Branca vem adotando uma série de medidas protecionistas que estão deixando os países do hemisfério preocupados sobre a possibilidade da Alca representar de fato, um maior acesso ao mercado dos Estados Unidos. Allgeier, porém, tenta passar uma mensagem de confiança e de que, entre dezembro deste ano e fevereiro de 2003, os países apresentarão suas propostas sobre a abertura dos setores de serviços, agricultura, bens industriais, investimentos e compras governamentais. Diante de todos esses desafios, outra pergunta que permanece é se o governo de George W. Bush conseguirá convencer o Congresso a assinar um acordo comercial com uma região com tantos problemas econômicos e políticos. "Essa é nossa responsabilidade", afirma Allgeier.

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