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Eles agora consomem

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Por Redação
Atualização:

A cúpula das duas cúpulas (G-8 + G-5) que terminou ontem no Japão mostrou, como se esperava, mais palavrório do que determinação no ataque aos grandes problemas globais. Essa impotência ou, melhor expressado, essa falta de vontade política de fazer algo mais consistente talvez mostre que os problemas ainda precisem piorar para então começarem a melhorar. Subjacente aos grandes temas há um fato inegável. Enquanto apenas os ricos consumiam, a poluição ambiental aumentava e os suprimentos eram desperdiçados, mas o processo não produzia escassez. As crises do capitalismo eram de superprodução. O problema era escoar as montanhas de estoques. A partir do momento em que duas dezenas de países pobres passaram à condição de emergentes e iniciaram o processo de consumo com o objetivo de alcançar o padrão dos ricos, a escassez se acentuou. Passaram a faltar energia, matérias-primas e alimentos. E os preços dispararam. Em conseqüência da falta de alimentos (e de outras matérias-primas), um grande número de países acionou seu arsenal de medidas defensivas, como a imposição de restrições a exportações ou o aumento das posições compradas nos mercados futuros. Isso, por sua vez, acentuou a escassez e a alta de preços. E, é claro, há os especuladores, que sempre puxam a corda mais esticada. No caso da escassez de alimentos, os comunicados oficiais não evitam troca de acusações. Os países pobres, carregados de razão, argumentam que ela é, em grande parte, conseqüência da política protecionista dos países ricos, que há décadas despejam subsídios na produção de grãos e, assim, tiram competitividade da agricultura em países pobres. Os países ricos, por sua vez, argumentam que o crescimento do consumo nos emergentes vem acontecendo rapidamente demais e que por isso precisa ser contido por meio de políticas macroeconômicas, como a valorização das moedas nacionais, o aumento dos juros e a adoção de critérios trabalhistas que, na prática, aumentam os custos de produção dos países emergentes. Em apenas dez anos, cerca de 400 milhões de asiáticos, antes excluídos dos mercados de trabalho e de consumo, foram incorporados ao sistema global. No momento, seu objetivo é alcançar uma fração do padrão de consumo dos ricos, o que é suficiente para acentuar os desequilíbrios. Um tanto dispersas e pouco sistematizadas, há pelo menos três posições que tentam a superação da escassez. Há aqueles para os quais é preciso atacar os sintomas. Sugerem mais controles nos mercados futuros ou mais supervisão por parte de instituições estatais para coibir a especulação. A segunda posição é a dos otimistas, que entendem que este é o jeito pelo qual a economia mundial avança, aos trancos, a partir da superação natural dos desequilíbrios. É a posição dos que desprezam a limitações dos recursos naturais e entendem que tudo se resolve com mais investimentos e mais produtividade. E, em terceiro lugar, há aqueles para os quais não há saída senão mudar o padrão global de consumo. Se o povão espalhado pelas grotas do planeta passar a consumir, não haverá o que chegue e a vida, tal como conhecemos hoje, ficará impossível. Talvez a saída seja uma mistura dessas duas últimas posições. Mas, decididamente, não é coisa para já. CONFIRA Afundou - Em apenas seis dias, os preços do petróleo em Nova York caíram 6,3%, para US$ 136,05 por barril de 159 litros. Não houve fato especial que explicasse esse tombo. A única novidade que pode ter sido tomada como pretexto para esse movimento foi a declaração dos líderes do Grupo dos Oito (G-8), que afirmaram ter "profunda preocupação" com a escalada dos preços. Na avaliação dos observadores que se revezam nas análises, a queda dos últimos dias está longe de definir uma tendência. Isso significa que é preciso mais tempo para se obter elementos conclusivos.

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