A Eletrobrás anunciou hoje o fechamento de um acordo entre a o governo de Goiás, Furnas e Itaipu para o equacionamento da dívida da distribuidora estadual Celg. Segundo o acordo, a distribuidora começa a pagar agora as faturas mensais referentes ao suprimento atual de energia elétrica e apresenta uma proposta para renegociação dos valores antigos. A Eletrobrás pretende utilizar este acordo como um modelo para o setor. Celg e CEB (Brasília), duas estatais, são responsáveis por cerca de 95% do endividamento das distribuidoras com Furnas. Hoje o débito das duas companhias com o fornecimento de energia está em R$ 1,1 bilhão ? R$ 500 milhões com Furnas e R$ 600 milhões com Itaipu. Mas, mesmo que fosse zerada a dívida, isso não colocaria o caixa de Furnas de volta ao azul, por causa da dificuldade com a venda de energia no mercado atacadista. O novo modelo de energia elétrica, que entrou em vigor no início ano, retirou dos acordos entre geradoras e distribuidoras 25% da energia contratada para ofertá-los no mercado. Seria uma tentativa de incentivar o mercado atacadista de energia (MAE). O fracasso dos leilões de energia do ano passado e a sobra de cerca de 5 mil megawatts de eletricidade no mercado serão responsáveis por uma perda de receita estimada em R$ 1,950 bilhão para as geradoras este ano. A principal prejudicada será Furnas, a maior geradora nacional, que, segundo estimativas, vai deixar de arrecadar entre RS$ 700 milhões e R$ 900 milhões. Na preparação para este novo cenário, as geradoras fizeram leilões de energia no ano passado para assegurar ganhos maiores do que os do MAE, que já teve o preço do megawatt/hora fixado em R$ 684 e hoje está em R$ 4. ?Furnas fez apenas um leilão, em novembro, liberando 1.865 mw/h, mas só vendeu 95 mw/h, ao preço de R$ 68. A sobra a empresa é obrigada a vender no MAE, a R$ 4. Nos contratos, o preço médio era de R$ 47. A diferença é o que representará a perda?, diz o analista Marcos Severine, do banco BBA. O caso mais flagrante do fracasso dos leilões foi o da Cesp, que liberou 900 mw/h e só vendeu 1 mw/h. A Eletronorte, que também terá uma grande perda de receita este ano, projetada em R$ 200 milhões, considerando a manutenção dos preços atuais da energia, vendeu somente 17% do que ofertou. O presidente da Associação Brasileira de Geradores de Energia, Flávio Neiva, diz que a redução dos contratos iniciais, com a liberação de 25% da energia por ano, foi prevista sob uma perspectiva de crescimento no consumo de energia. Assim, toda a energia ?descontratada? seria recolocada no mercado em um novo contexto. Mas, o racionamento provocou uma queda no consumo e não houve recolocação desta energia. Não houve comprador para os volumes descontratados. A Abrage levou o problema à ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef e acredita que a situação pode se agravar no ano que vem, quando outros 25% serão retirados dos contratos iniciais. "A redução dos contratos já está acarretando sérios problemas às empresas, pois houve uma queda abrupta de receita", confirma Neiva. Segundo ele, apenas 20% da energia descontratada foi posta no mercado de novo, o que representa 5% do total da energia disponível no Brasil. Outros 20%, portanto, ficaram sem comprador. Ele reconhece que Furnas foi a mais prejudicada, mas lembra que outras empresas, como Cemig e Copel, também enfrentam problemas. "Já houve empresas querendo desligar as turbinas, porque não dá para operar tendo prejuízo. O problema é que isso reduz a confiabilidade do sistema", diz. Esta seria uma providência, portanto, que não teria o aval do Operador Nacional do Sistema (ONS). O presidente de hidrelétrica Itaipu, Jorge Samek, afirma que o excedente de energia provocou uma situação inusitada: por falta de mercado, a usina binacional ?está vertendo um Rio Iguaçu inteiro por dia, em volume de água?. O caso da energia elétrica é singular, já que o que é gerado ou é colocado no mercado ou se perde, porque, ao contrário de outros produtos, este não permite estocagem. ?Não dá para armazenar, então tem que jogar fora este potencial gerador.?