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Em 6 meses, dívida cresceu R$ 112 bi com inflação e Selic

De janeiro a junho, o Tesouro Nacional gastou R$ 97,98 bilhões com juros; no fim de junho, total da dívida chegou a R$ 1,8 trilhão

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Por Adriana Fernandes e Renata Veríssimo
Atualização:

A combinação perversa de alta da inflação e da taxa de juros provocou um aumento de quase R$ 112 bilhões na dívida pública federal no primeiro semestre. Somente a correção dos juros sobre os débitos do governo nos mercados interno e externo consumiram 87,96% do avanço. Ao final de junho, a dívida total bateu em R$ 1,8 trilhão. De janeiro a junho, o Tesouro Nacional gastou R$ 97,98 bilhões com o pagamento de juros. A venda de títulos no período também superou o volume de papéis resgatados em R$ 13,41 bilhões, o que também contribuiu para o aumento do endividamento público. Os dois empréstimos concedidos pelo governo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) responderam por boa parte dessa emissão maior que os resgates de papéis do primeiro semestre. O banco de fomento recebeu R$ 35 bilhões do governo para reforçar seu capital, ampliando sua capacidade de emprestar para empresas. Os empréstimos do Tesouro foram repassados ao BNDES por meio de títulos públicos, a maioria de curto prazo. O governo também aproveitou o apetite maior dos investidores por papéis prefixados - que têm a remuneração definida na hora do leilão - e atrelados a índices de preços para emitir mais títulos. Com a inflação em alta, os investidores aumentaram a procura pelos papéis que pagam a variação do IPCA, o índice "oficial" de inflação. A venda das NTN-B foi 35,8% maior do que as do primeiro semestre do ano passado. Já as emissões de títulos com rentabilidade prefixada foram 40% maiores. Na contramão, o Tesouro vendeu 18,11% a menos de LFTs, papéis com correção atrelada à taxa Selic e considerados piores para a administração da dívida porque a remuneração que o governo precisa pagar a quem compra esse papel varia de acordo com a taxa básica de juros. Um dos objetivos do Tesouro é reduzir a presença desses papéis no estoque da dívida, o que pode fortalecer a "potência" da política monetária do Banco Central. Menor da história. Ao longo do primeiro semestre, o Tesouro conseguiu reduzir a parcela da dívida vinculada à Selic ao nível mais baixo da história: 30,91% do estoque. Na outra direção, a parcela de títulos prefixados fechou junho no mais alto nível da série, com 38,13% do total. Para os prefixados, quanto maior o volume, melhor para a gestão da dívida, já que o Tesouro sabe de antemão quanto vai ter de gastar para remunerar os investidores. O coordenador de Operações da Dívida Pública do Tesouro, Fernando Garrido, avaliou que a boa demanda pelos prefixados tem ajudado a melhorar a composição da dívida pública. Ele informou que o Tesouro seguirá com a política de redução de LFTs e aumento da participação dos títulos prefixados.Garrido, porém, minimizou o aumento de mais de R$ 111 bilhões da dívida. Segundo ele, o crescimento já estava previsto na estratégia traçada no início do ano para gerenciar a dívida, que prevê que o estoque pode fechar 2011 entre R$ 1,8 trilhão e R$ 1,9 trilhão. Para Garrido, se por um lado o aumento da taxa Selic encarece a dívida, no médio prazo a redução da inflação tende a diminuir esse custo.

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