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Em BH, quartos de hotel são usados como escritórios

Com superoferta de quartos desde a Copa do Mundo, capital mineira usa criatividade para ampliar ocupação

Por Leonardo Augusto
Atualização:

BELO HORIZONTE -Saem as camas e a televisão, entram mesa e cadeiras para reuniões. Quartos estão sendo transformados em escritórios na rede hoteleira para reduzir perdas com excesso de oferta e baixa procura por hospedagem em Belo Horizonte. Com aproximadamente 30 mil vagas, a capital tem hoje forte ociosidade tanto em dias úteis como em fins de semana. Além da transformação do local de dormir em área de trabalho, hotéis passaram a ser usados também para a realização de festas particulares, com DJs incluídos como atração.

Vista panorâmica da cidade de Belo Horizonte, visto do Viaduto Santa Teresa Foto: Haroldo Kennedy|Creative Commons

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A redução no faturamento do setor e a busca por alternativas para elevar receita ocorreu principalmente depois da Copa do Mundo de 2014. Para a competição, foram construídos na cidade 34 hotéis, que aproveitaram incentivos para se juntarem aos 180 que já existiam na cidade. Ao mesmo tempo, com a crise econômica, houve redução no turismo de negócios, que predomina na capital mineira. O resultado foi a demissão de 211 mil pessoas no setor nos 12 meses encerrados em fevereiro, aponta a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Minas Gerais (Abih-MG).

Segundo a Hotel Invest, consultoria que realiza um panorama nacional e latino-americano sobre o setor, o ano será difícil para os hotéis em todo o País, mas a situação é especialmente grave em Belo Horizonte, onde há uma clara superoferta. Segundo dados apurados pela Hotel Invest em abril, a taxa de ocupação do município é de 47%, a mais baixa entre as capitais nacionais pesquisadas, como Salvador, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Para uma operação ter um ponto de equilíbrio, fontes do setor dizem que a ocupação precisa girar em torno de 60% dos quartos.

Criatividade. É por isso que os administradores de hotéis na capital mineira estão em busca de alternativas. “O que preciso é colocar as pessoas dentro dos nossos estabelecimentos”, afirma o diretor de marketing da administradora Vert Hotéis, em Belo Horizonte, Bruno Guimarães. A rede pretende chegar até julho com 10% dos 545 quartos que tem na cidade sendo utilizados como escritório.

A rede quer oferecer espaço em um sistema que ficou conhecido como coworking – em que diferentes empresas dividem um mesmo espaço. Hoje, 40 quartos já são usados com essa finalidade. “Pode parecer pouco, mas é importante ressaltar que, dentro do hotel, as pessoas tendem a utilizar também o restaurante e outros serviços, contribuindo para o crescimento do faturamento”, ressalta Guimarães. Os quartos separados para o coworking são utilizados principalmente para reuniões ou realização de cursos.

Hotéis em todo o Brasil sempre alugaram salões geralmente disponíveis no térreo dos prédios ou nos andares inferiores para reuniões e congressos. “O problema é que o custo é muito alto para colocar uma área como essas para funcionar. Um exemplo de despesa que sobe muito nesses casos é a com ar condicionado”, frisa o diretor de marketing da Vert.

Economia. A empresária Vanessa Alcice, que atua no setor de treinamento de pessoal, encerrou o contrato de aluguel da sala em que trabalhava e passou a utilizar o sistema de coworking em um hotel de Belo Horizonte. “Além da locação, pagava também secretária. Havia ainda os gastos com luz e telefone”, conta Vanessa. Conforme a empresária, que paga R$ 30 por hora no sistema de quartos transformados em escritórios, seus custos com a mudança na forma de trabalho foram reduzidos em 70%.

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A presidente da Abih em Minas Gerais, Patrícia Coutinho, que é proprietária de um hostel em Belo Horizonte, conta que o planejamento que buscou para ampliar receita foi a realização de festas, mesmo para quem está ou não hospedado em seu estabelecimento. “A criatividade tem de ser usada nesse momento”, diz. De acordo com a empresária, os preços das tarifas de hotel hoje são equivalente aos praticados em 2010. “E os custos, principalmente com água e luz, aumentaram muito”, compara a empresária.

Em algumas redes, a saída foi usar o terraço dos prédios para a realização de festas – a organização e a contratação do DJ fica por conta do próprio hotel. O modelo da atração já tem até nome em inglês: “roof top”.

“Pode parecer pouco, mas é importante ressaltar que, dentro do hotel, as pessoas tendem a utilizar também o restaurante e outros serviços.”  

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