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Em Davos, algumas promessas e muitas dúvidas

Elite econômica internacional ouviu pouco de Jair Bolsonaro e muito de Paulo Guedes; gostou do que ouviu, mas quer mesmo é ver as mudanças na economia sendo feitas

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Foto do author Alexandre Calais
Por Alexandre Calais
Atualização:

Caro leitor,

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O presidente Jair Bolsonaro, com alguns de seus ministros, viajou para para a Suíça esta semana. Foi se encontrar com banqueiros, investidores, empresários, e também com dirigentes de outros países. É o Fórum de Davos, encontro anual que reúne líderes econômicos globais para discutir, claro, assuntos econômicos. E havia uma grande expectativa do que Bolsonaro iria apresentar.

Não tem sido um encontro sem turbulências para os brasileiros, como tem mostrado a cobertura do evento feita pela nossa equipe de enviados especiais. Mas também não se pode dizer que o saldo é ruim. O discurso de Bolsonaro, muito curto, muito vago, não satisfez as expectativas, como mostrou o jornalista Rolf Kuntz. E deixou dúvidas sobre se o governo terá mesmo a capacidade de entregar o que está sendo prometido, segundo a nossa colunista Monica de Bolle. Mas também houve encontros bilaterais, almoços com investidores, nos quais a impressão deixada pelo presidente foi melhor, conforme relatou nosso correspondente Jamil Chade.

Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes durante reunião em Davos. Foto: Alan Santos/PR -22/1/2019

Circulando entre seus pares, o ministro da Economia, Paulo Guedes, faz efetivamente as vezes de arauto da mudança que o Brasil pretende atravessar neste governo. Em almoço com uma centena de presentes, voltou a apontar a reforma da Previdência  como prioridade número um. É o que os investidores querem ouvir. Como nos disse o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, Guedes foi “muito contundente”, e tem pressa com as reformas.

Ontem, o ministro deu mais alguns sinais do que quer fazer. Em entrevista à nossa correspondente Célia Froufe, disse que pretende reduzir o imposto de renda das empresas  de 34% para 15%, compensando a queda de arrecadação com a cobrança de tributo sobre dividendos. Hoje, o Brasil tem, pelo menos entre os países mais importantes, a maior carga tributária para empresas, como mostramos em reportagem no final do ano. Mudar isso poderia estimular investimentos.

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Depois, em uma outra entrevista, Guedes retomou uma promessa de campanha, a de zerar o déficit das contas públicas este ano ­– o que provoca enormes dúvidas entre economistas. Para isso, conta com a ajuda do BNDES e com um amplo programa de privatizações.

A venda de estatais, porém, não será uma tarefa simples, como apontou nossa colunista Elena Landau, que entende do assunto: foi a diretora da área de desestatização do BNDES no governo Fernando Henrique Cardoso.

Nos capítulos anteriores desta coluna, mostramos que, em assuntos econômicos, Bolsonaro faz bem em deixar a defesa das medidas para Paulo Guedes - o presidente já deixou claro há muito tempo que não tem domínio sobre o assunto. Em Davos, isso ficou ainda mais evidente. Mas, no final das contas, a impressão deixada na Suíça não será tão importante assim. O que vai importar mesmo é se as medidas econômicas serão realmente implementadas.

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