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Motoboys fazem manifestações pelo País, mas entregas seguem com poucos problemas

Cerca de cinco mil entregadores fecharam Ponte Estaiada, na zona sul da cidade de São Paulo

Por Renato Jakitas
Atualização:

O boicote nacional dos entregadores e motoboys de aplicativos, organizado nesta quarta-feira, 1º, em todo o País, vem sendo até agora marcado por protestos nas principais cidades e, por hora, pouco impacto prático para a operação das plataformas de serviços, segundo relatos do iFood, Rappi, Loggi e Uber Eats.

A categoria, que teve forte crescimento ao longo da pandemia do novo coronavírus, convocou uma greve por grupos de WhatsApp, movimento realizado por lideranças difusas, em um primeiro momento sem a participação dos sindicatos, que posteriormente aderiram ao boicote.

Entregadores de app fecharam a Ponte Estaiada, na zona sul da cidade de São Paulo. Foto: Alex Silva/Estadão

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Ao longo do dia, houve protestos na Grande São Paulo, região de Campinas e de Piracicaba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Distrito Federal e em capitais do Nordeste, Norte e Centro Oeste.

A reivindicação era por melhores condições de trabalho. A pauta englobou desde a definição de uma taxa fixa mínima de entrega por quilômetro rodado até o aumento dos valores repassados aos entregadores por serviços realizados. A categoria também cobrou das empresas uma ajuda de custo para a aquisição de equipamentos de proteção contra a covid-19, como máscaras e luvas. As empresas afirmam que estão fornecendo os equipamentos.

Apesar da mobilização nas ruas, as empresas de aplicativos não relataram interrupção na recepção dos pedidos. Segundo o iFood, que tem 145 mil entregadores cadastrados em seu sistema, o serviço de entregas se manteve ao longo do dia. "Ainda não é possível avaliar impactos das manifestações de hoje. Naturalmente, num dia de protestos, são esperadas flutuações no serviço, mas as entregas continuaram a ser feitas", diz a empresa, em nota. O tom é o mesmo adotado pela plataforma Uber Eats e Rappi. Procurada, a Loggi não respondeu à reportagem. Reservadamente, as empresas dizem que é preciso esperar o fim do dia para avaliarem os impactos. 

São Paulo

​Na Capital, os protestos começaram por volta das 9h em ao menos 16 pontos da cidade. Os motoboys dificultaram acessos dos shoppings Morumbi, Center 3 Paulista, Center Norte, Tatuapé e Tietê. Também houve manifestações em frente aos galpões da Loggi em Guarulhos, Vila Olímpia e no bairro do Peri-Peri. 

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Por volta das 12h, cerca de três mil motoboys saíram da porta do sindicato da categoria, o Sindimoto, na zona sul da cidade, e saíram em marcha pela Marginal Pinheiros até o Tribunal Regional do Trabalho (TRT), na Avenida da Consolação, onde realizaram um buzinaço. No final da tarde, por volta das 17h, um grupo com cerca de cinco mil motoboys interditaram a Ponte Estaiada, no bairro do Brooklin.

"O importante é que a categoria consegui conscientizar a população sobre a precariedade dos serviços de entregas. Falta segurança. É um trabalho muito precário", diz o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah.

Rio e BH

No Rio, cerca de 100 profissionais saíram em caravana de motocicletas do Centro da cidade em direção à zona sul, com cartazes que pediam melhores condições de trabalho. Além de maior remuneração pelas entregas, o grupo reivindicava a criação, por parte dos aplicativos, de uma base em cada região para que eles possam ter acesso a banheiros.

Em Belo Horizonte, o protesto teve início pela manhã, na porta da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e seguiu até a Praça Sete, no Centro. Os entregadores carregavam cartazes e faixas contra a precarização da profissão. 

Entregadores de aplicativos em protestos pelas ruas de Belo Horizonte (MG) nesta quarta-feira, 1º Foto: CRISTIANE MATTOS/O TEMPO

Nas redes sociais, a mobilização da categoria de Belo Horizonte pediu o uso de hashtag #BrequedosApps e sugeriu que consumidores não usassem os aplicativos nesta quarta para solicitar comida, e que fizessem pedidos em restaurantes próximos às suas residências. Solicitaram ainda que, em caso de pedidos via aplicativos, que dessem nota baixa para as empresas.

Também nas redes sociais, integrantes da manifestação afirmavam que cerca de mil trabalhadores participaram do protesto. Imagens e fotos mostravam que o número era inferior a esse, mas era suficiente para ocupar toda a largura da rua em frente ao Parlamento e ao longo de aproximadamente meio quarteirão.

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A principal reivindicação da categoria em Belo Horizonte é em relação a valores pagos por entrega e por quilômetro rodado. "Antes da pandemia, as taxas estavam favoráveis. Eram R$ 5,95, R$ 6 por entrega. Hoje pagam R$ 5,15. Ficamos debaixo de chuva, sol, sob risco constante de acidente o tempo todo", afirmou a entregadora de aplicativo Vanessa Barbosa, nas redes sociais. A motociclista disse ainda que as empresas pagam R$ 0,80 por quilômetro rodado, e que o ideal seriam R$ 2.

Notificações

Na terça-feira, 30, uma das empresas de entrega de comida via aplicativo, a iFood, colocou uma série de argumentações em sua caixa "notificações", com o título "Iniciativas para entregadores" e "Abrindo nossa cozinha para você". A empresa afirma que, atualmente, "70% dos pedidos feitos via iFood são entregues pelo próprio restaurante", e que "uma menor parcela das entregas é feita por entregadores parceiros da plataforma".

A plataforma afirma ainda que "em maio último, um entregador ganhou em média R$ 21,80 por hora trabalhada", e que "nove em cada dez entregadores que utilizam o aplicativo valorizam ter flexibilidade de horário e liberdade para compor sua renda", citando como fonte das informações o instituto Locomotiva. Segundo a empresa, "o valor mínimo pago por entrega é de R$ 5, que geralmente é pago para os pedidos mais próximos".

Segundo a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia, que reúne as empresas de aplicativos, o diálogo está aberto para negociações e não haverá nenhum tipo de retaliação ao protesto realizado hoje. 

A entidade afirma que desde o começo da pandemia foram realizadas várias ações de apoio ao entregador, como distribuição gratuita ou reembolso de materiais de higiene e limpeza, como máscara, álcool gel e desinfetante. A associação afirma que também foi criado um fundo para pagamento de auxílio financeiro para profissionais diagnosticados com covid-19 e que os entregadores estão cobertos contra acidentes pessoais durante a entrega.

O tom é o mesmo da Associação Brasileira Online to Offline, que também reúne empresas do tipo. "Independentemente do tamanho do impacto que a mobilização teve nas operações dos apps, sabemos que muitos entregadores não concordam com todas as pautas ou não podem sacrificar um dia de trabalho. O que realmente importa é a mensagem que eles quiseram passar", afirma o presidente Vitor Magnani/ COLABORARAM LEONARDO AUGUSTO, ESPECIAL PARA O ESTADO, E DENISE LUNA

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