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Em meio a briga, Valrhona perde loja no País

Unidade nos Jardins de um dos chocolates mais caros do mundo tem prejuízo e vai fechar em abril

Por / F.S.
Atualização:

A chocolateria francesa Valrhona, que não vende uma barrinha por menos de R$ 20 e cobra até R$ 1,2 mil por embalagens de presente, está no meio de uma briga comercial com o proprietário da única loja da marca no País. A presença da empresa no varejo está com os dias contados. O empresário Fabio Bonchristiano, que abriu a unidade nos Jardins há dois anos, promete encerrar as atividades depois da Páscoa, no início de abril, citando problemas no recebimento de produtos e um prejuízo acumulado de aproximadamente R$ 1,5 milhão.Do outro lado, os representantes da chocolateria, que faz parte do grupo Bongrain, o mesmo da Polenghi, rebatem que o parceiro não teria cumprido parte do contrato. De acordo com Alexandre Boyer, gerente de negócios da Valrhona no País, Bonchristiano teria excedido a linha de crédito prevista para a sua unidade - e isso teria resultado no problema de entrega de produtos.O representante brasileiro admite que tomou R$ 300 mil em crédito, mas afirma que o empréstimo foi parte de um acordo posterior aos problemas com as entregas. "Fui obrigado a comprar produto no Santa Luzia (mercado gourmet paulistano) para a minha loja", diz. O empresário diz que assinou um termo de dívida com a empresa, mas espera ser compensado pelas dificuldades da Valrhona em enviar produtos. "Por causa do fim do crédito, eu pago antecipado todos os produtos que recebo desde outubro de 2010", diz. "Mesmo assim, houve caso de guia de importação que voltou três vezes por erro de preenchimento."Bonchristiano diz ainda que a empresa fechou alguns pontos de venda na Europa, em cidades como Roma e Bruxelas.O representante da marca francesa diz que a companhia continua a operar lojas no sistema de parcerias, exatamente como ocorre no Brasil. Ele admite, no entanto, que houve fechamento de unidades. "Tivemos sucesso em alguns casos e não fomos tão bem-sucedidos em outros. E algumas lojas acabaram fechando", diz Boyer.Nas próximas duas semanas, a meta de Bonchristiano é vender o máximo possível do estoque que possui. O que sobrar, ele pretende repassar para chocolaterias multimarca ou então vender para empresas, que podem distribuir os chocolates como brinde fino para clientes ou parceiros. De qualquer forma, o empresário diz que o movimento da loja não justifica o pagamento do aluguel em um bairro nobre (cerca de R$ 20 mil por mês, segundo o Estado apurou).Gourmet. O fechamento da loja não representará a saída da marca Valrhona do País. Isso porque a empresa fazia a distribuição diretamente para as docerias e restaurantes - que representa 75% do faturamento do negócio no Brasil. Bonchristiano ficou com o direito de operar o varejo - chegou a ter uma segunda unidade no Shopping Iguatemi, fechada poucos meses depois da inauguração - e de explorar o mercado de brindes empresariais.O empresário brasileiro admite que a maior parte de seu faturamento vinha justamente dessa atividade paralela - a loja acaba servindo mais como show room para a clientela. No entanto, apesar das restrições que o próprio preço do produto impõe, Bonchristiano afirma ter conseguido desenvolver uma clientela que "não perguntava o valor" na hora de comprar. "Tinha vários clientes que compravam embalagens de presentes a R$ 1,2 mil a unidade", lembra.Embora Boyer afirme que o fechamento da loja não vá afetar o mercado gourmet, a verdade é que restaurantes já tiveram problemas com o fornecimento da Valrhona no passado. Uma reportagem de 2009 do caderno Paladar, relatava que clientes tinham dificuldades de acesso ao produto e se viam obrigados a substituí-lo por outras marcas, entre elas a suíça Barry Callebaut.Prestes a desistir da iniciativa com a Valrhona, Bonchristiano pretende seguir no mercado de chocolates finos - só que trabalhando com diversas marcas. O empresário diz não ter descartado continuar a ter a Valrhona no mix. Isto é, se conseguir resolver a briga com a empresa.

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