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Em meio a incertezas, BC inicia reunião para definir taxa de juros nesta terça

Pelas comunicações recentes da autoridade monetária, tendência é que a Selic permaneça em 6,50% a.a., mas preço dos ativos negociados no mercado sugere que decisão pode ser diferente

Por Fabrício de Castro
Atualização:

BRASÍLIA-  O Banco Central inicia nesta terça-feira, 19, sua reunião de política monetária de dois dias em meio ao dilema de aumentar ou não os juros após a disparada do dólar. Pelas comunicações mais recentes da instituição, a tendência é de que a Selic (a taxa básica de juros) permaneça em 6,50% ao ano, mas o próprio BC já deixou claro que sua decisão será efetivamente tomada apenas durante a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que termina na noite de quarta-feira.

Entre 49 instituições financeiras consultadas pelo Projeções Broadcast, todas elas esperam que o Copom – formado pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, e pelos oito diretores da instituição – mantenha a Selic no atual patamar, que representa o menor valor da história.

Dúvidas em torno dos próximos passos do BC estão diretamente ligadas ao avanço do dólar ante o real Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino

O problema é que os preços dos ativos negociados no próprio mercado financeiro sugerem que a decisão pode ser diferente. Na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, os contratos futuros de juros indicavam na tarde desta segunda-feira, 18, 41% de probabilidade de o BC elevar a Selic em 0,25 ponto porcentual, para 6,75% ao ano, contra 59% de chance de manutenção em 6,50% ao ano.

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As dúvidas em torno dos próximos passos do BC estão diretamente ligadas ao avanço do dólar ante o real. Em 2018 até o dia 18 de junho, o dólar à vista acumulou alta de 12,83%, com a moeda americana saltando de R$ 3,32 para R$ 3,74. Do encontro anterior do Copom, em 16 de maio, para agora, a divisa dos EUA subiu 1,78%.

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A elevação do dólar ante o real é justificada em parte pelo cenário externo, onde o processo de alta de juros nos Estados Unidos faz a moeda americana subir ante as demais divisas. Para piorar, há o mal estar dos investidores com a corrida eleitoral brasileira, que tem na liderança das pesquisas nomes como os do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e do ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE). A visão é de que Bolsonaro e Ciro colocam em dúvida a continuidade das reformas econômicas a partir de 2019.

Nas últimas semanas, Goldfajn tem repetido à exaustão que a Selic não será usada para segurar a taxa de câmbio. Esta foi uma estratégia adotada pelo Brasil em décadas passadas e por outros países emergentes mais recentemente. A Argentina, por exemplo, elevou sua taxa básica de juros de 27,25% em janeiro para os 40% atuais para combater a fuga de dólares do país.

A situação do Brasil seria diferente porque não há, pelo menos por enquanto, forte pressão de saída de dólares. Além disso, Goldfajn tem repetido que o BC vai levar em consideração os efeitos secundários da alta do dólar sobre a inflação. Na prática, os dirigentes do BC não vão considerar o avanço em si da moeda americana, mas o quanto ela pode influenciar na remarcação de preços.

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Como a recuperação da economia está em marcha lenta, o próprio BC afirma que os efeitos da alta do dólar sobre a inflação tendem a ser menores.

Focus. No Relatório de Mercado Focus do BC, que compila as projeções econômicas de dezenas de instituições financeiras, a expectativa é de que a Selic permaneça em 6,50% ao ano até meados de 2019. O documento, divulgado nesta segunda, aponta para elevação da taxa básica apenas em maio do ano que vem, para 6,75% ao ano.

O Focus mostra ainda projeções controladas para a inflação em 2018 e 2019, de 3,88% e 4,10%, respectivamente. Já a estimativa de alta para o Produto Interno Bruto (PIB) é de 1,76% neste ano e de 2,70% no próximo.

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O grupo financeiro japonês Nomura espera manutenção da Selic em 6,50% na reunião do Copom desta semana, mas não descarta totalmente a possibilidade de aumento. “Naturalmente, considerando a recente turbulência no mercado de câmbio e a possível transmissão do real mais fraco para as expectativas de inflação, uma alta também é possível nesta reunião”, afirma relatório divulgado ontem e assinado pelos economistas para a América Latina, João Pedro Ribeiro e Mario Castro. Recentemente, outras casas, como o banco UBS Brasil, a MCM Consultores e a corretora Spinelli, também anteciparam a previsão de alta da Selic de 2019 para 2018.

“Não vemos por ora necessidade de uma alta da Selic ainda este ano e, a depender da reputação do próximo time no BC, não seria necessária uma alta já no início de 2019”, avaliou a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. “As incertezas, no entanto, recomendam cautela, sendo que o discurso do BC provavelmente não fechará as portas para altas.” /COLABOROU ALTAMIRO SILVA JUNIOR

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