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Em nova fase, Casa do Saber abraça a era digital

Empresa de cursos livres assume lado empresarial e prioriza ensino a distância

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Por Fernando Scheller
Atualização:

O empresário Jair Ribeiro teve uma ideia durante um jantar de confraternização regado a vinho. E se ele reunisse o interesse dos amigos por filosofia, psicologia e sociologia e criasse cursos específicos para alimentar a alma de um público ávido por conhecimento? Foi essa a gênese, em 2004, do que viria a se tornar a Casa do Saber. Apesar de ter crescido bastante desde então, e de ter uma presença online já relevante, o projeto educacional nunca assumiu verdadeiramente seu lado empresarial. Mas isso está prestes a mudar.

Ganhando escala.Casa do Saber terá sede física 'conceito' e vai investir em digitalização para ampliar oferta online Foto: Casa do Saber

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 Em plena pandemia, a Casa do Saber empreendeu uma pequena revolução para correr atrás de um novo patamar de crescimento. E isso se refletiu na saída de cinco sócios do negócio – entre eles Gabriel Chalita, Celso Loducca e Luiz Felipe d’Avila –, com a entrada de outros, que aportaram recursos para transformar a Casa do Saber em uma plataforma prioritariamente online (a empresa não revelou o valor dos aportes). “Estamos fazendo a transição de negócio de lazer para negócio de verdade”, disse Ribeiro, em entrevista ao Estadão na semana passada.

Sob nova direção

Na esteira dessa mudança, a Casa do Saber vai ganhar um novo presidente: o executivo Alexandre Max, de 43 anos, que está de mudança de Nova York para São Paulo. Depois de ter trabalhado em gigantes multinacionais como Dell, McDonald’s, Kimberly Clark e Nestlé, ele atua hoje na área de inovação da Pearson, uma das maiores empresas de educação do mundo, que tem presença no Brasil desde o fim de 2013, por ser dona do grupo Wizard, conhecido pelas escolas de inglês. Max assume o novo cargo em novembro.

Entre os novos sócios da Casa do Saber estão Andrea Álvares, principal executiva de marketing da gigante dos cosméticos Natura; Camila Costa, sócia do grupo de publicidade ID\TBWA; Pedro Drevon, egresso do fundo 3G Capital, onde atuou por mais de uma década, chegando a ser presidente da Kraft Heinz para a América Latina; Alexandre Ostrowiecki e André Poroger, diretor e vice-presidente da Multilaser S/A (que distribui smartphones, entre outros produtos). Do grupo anterior de sócios, além de Ribeiro, permanecem ainda a atriz Maria Fernanda Candido e o jornalista Mario Vitor Santos.

Digitalização

Com essa nova equipe, explicou o fundador da Casa da Saber, o projeto quer aproveitar para engordar a biblioteca de conteúdos, que hoje inclui 800 cursos ministrados ao longo de 16 anos, e também ampliar sua presença digital. Embora a empresa já tenha 1,2 milhão de seguidores no YouTube, além de um aplicativo próprio, que já contabiliza 230 mil usuários inscritos na versão gratuita, o consenso dos novos sócios é de que esse predomínio digital pode ser maior.

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Tanto é assim que, embora a Casa do Saber vá continuar a ter uma sede física – em um modelo tipo loja conceito –, a expansão significativa por meio de abertura de filiais está descartada. “Essa nova fase representa uma super mudança para o projeto. Estamos potencializando essa presença digital com a perspectiva de democratizar o conhecimento para um número bem maior de pessoas”, disse Ribeiro sobre o novo direcionamento. “E a gente não está trazendo apenas um novo CEO, mas também sócios com essa pegada mais digital e de empreendedorismo.”

Embora a Casa do Saber não pretenda mudar sua linha de cursos – que é a busca da origem dos temas, com um verniz teórico que muitas vezes falta à formação acadêmica brasileira –, Ribeiro disse que existe espaço para alguma ligação com aplicações práticas. Ele lembrou, por exemplo, que certas habilidades interpessoais são cada vez mais valorizadas em carreiras executivas. “Só não esperem da gente autoajuda simplificada. A gente discute Sócrates, Aristóteles, Nietzsche.”

A busca por novos sócios – e recursos – incluiu, segundo a Casa do Saber, discussões com grupos especializados em educação que não prosperaram. O Estadão conversou com uma dessas companhias, que disse ter ficado em dúvida se as temáticas dos cursos da empresa teriam volume suficiente para atingir larga escala. Parte do mercado acredita que manter uma estratégia de ter escolas “de nicho” em paralelo, em vez de focar quase exclusivamente no digital, seria uma boa ideia.

Força

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O diretor do comitê de startups de educação (edtechs) da Abstartups, associação que reúne as empresas nascentes brasileiras, Leo Gmeiner, discorda dessa visão. Para ele, existe sim muita demanda por diferentes tipos de cursos livres na web – e a Casa do Saber sai na frente nesse quesito por já ter uma marca consolidada e associada à qualidade. “Hoje, das 793 edtechs brasileiras, 158 são plataformas de ensino online, o que evidencia o apetite por conhecimento”, diz.

“Acredito que o ensino online dá uma flexibilidade que as pessoas vêm procurando, além de garantir que a oferta seja mais abrangente e democrática”, disse Gmeiner. Atualmente, a Casa do Saber tem uma promoção de assinatura anual de R$ 500 para acesso aos cursos – valor que, segundo o especialista, está competitivo em relação ao resto do mercado. “A gente tem visto outras plataformas, especialmente as voltadas a conteúdos corporativos, com preços bem mais altos.”

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