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EM NÚMEROS ESTADÃO Crise altera planos de redes no exterior

Por Carolina Dall'Olio
Atualização:

A rede Yogoberry gastou quase um ano em estudos e negociações para preparar a abertura de uma loja em Lisboa. Seria sua primeira unidade fora do Brasil. Mas a crise econômica na zona do euro, com impactos profundos em Portugal, fez a empresa desistir do negócio. A rede decidiu centrar forças na expansão nacional e deixar a internacionalização para depois.Mas a proposta feita por um empresário iraniano, que conheceu a marca em visita ao Brasil, alterou os planos da Yogoberry. "O Oriente Médio não estava em nosso mapa de expansão. Mas não quisemos desperdiçar essa oportunidade", afirma Marcelo Bae, diretor da empresa. Em julho de 2011, a rede ganhou uma loja em Teerã, capital do Irã. E outras três unidades devem ser abertas em 2012.O caso da Yogoberry, uma das 80 redes brasileiras que administram lojas no exterior, ilustra bem a situação vivida hoje por franqueadoras que pretendem abrir unidades lá fora. Assim como ela, a maioria das empresas elege Portugal como primeiro destino da expansão internacional - dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) mostram que 22 redes têm unidades naquele país. Os Estados Unidos são o segundo destino mais procurado, com 11 marcas."A maior parte das franqueadoras só decide ir para o exterior porque recebe proposta de um empresário local. Poucas colocam, de fato, a expansão internacional no foco de sua estratégia de crescimento", afirma Ricardo Camargo, presidente da ABF. "Mas com a Europa e os EUA em crise, há pouca demanda dos empresários estrangeiros para a abertura de franquias nessas regiões. Assim, a internacionalização deixa de estar na agenda de redes brasileiras no momento."As oportunidades, então, surgem de outros cantos do planeta, como América Latina e Oriente Médio. A Via Uno, franqueadora brasileira com maior número de unidades no exterior (são 104) e presente em todos os continentes, aposta atualmente na América Latina."Fecharemos o ano 10% abaixo da meta de abertura de lojas no exterior por conta da crise na Europa. Também por isso, em 2012, vamos investir mais em países latino-americanos, onde podemos ganhar em volume de vendas e posicionamento de marca", diz Alexandre Sá Pereira, diretor de varejo da Via Uno. "Hoje há também mais empresários dispostos a investir em franquias nesses países."A Hope segue estratégia semelhante. A empresa atua em países bem distintos. São duas lojas em Israel, três em Portugal e uma na Argentina. A operação em Buenos Aires é mais recente e a que apresenta melhores resultados. "Foi muito importante encontrar o parceiro comercial adequado", reconhece Carlos Padula, diretor da Hope. "Além disso, percebemos que vender para um país que é nosso vizinho é muito mais fácil, tanto do ponto de vista logístico como cultural." Por isso, a empresa pretende inaugurar mais seis lojas na Argentina no ano que vem. Mas o verdadeiro foco da expansão da Hope é mesmo o mercado brasileiro. Mesmo assim, Padula admite que levar sua marca para o exterior é uma excelente forma de aprender a pensar globalmente, conhecer o comportamento do consumidor, identificar tendências e antecipar movimentos do mercado antes que eles cheguem ao Brasil. "O ideal seria investir nas duas frentes: internacional e nacional. A exposição da marca no exterior é valorizada tanto pelos nossos clientes brasileiros como também pelos franqueados, que gostam de fazer parte de uma rede internacional", afirma o empresário. "Mas como os recursos para investimentos são limitados, preferimos nos concentrar no Brasil por enquanto."Outros negócios têm feito o mesmo. "O mundo está olhando para o Brasil. Não seria diferente com as redes nacionais", afirma Ricardo Camargo, da ABF. "Mas além das oportunidades que temos aqui, as empresas também repensam a internacionalização porque muitas delas são pouco competitivas no exterior."InovaçãoPesquisa realizada pela ABF com redes que administram lojas no exterior mostra que a maior dificuldade enfrentada por elas é a falta de inovação de seus produtos. Lá fora elas descobrem que, para serem competitivas de fato, precisam de algo novo para mostrar. "Por isso, as franqueadoras ligadas às indústrias de moda, calçados e cosméticos costumam se destacar no exterior. Elas têm inovação e design", afirma Camargo. "Já as do setor de serviços têm menos chances", conclui.Adir Ribeiro, da consultoria especializada em franchising Praxis Education, afirma que as redes brasileiras devem ter ambição de serem marcas globais. Mas isso pode esperar. "Elas podem aproveitar o bom momento da economia brasileira para fazer caixa, pesquisar os mercados de interesse e estudar bem como será feita a expansão", recomenda o especialista em franquias.Europa e EUA deixam de ser o foco das franquias nacionais, que buscam oportunidades no Oriente Médio e América Latina

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