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Dona da Eletropaulo muda comando no País e coloca ativos à venda

Britaldo Pedrosa Soares será substituído pelo venezuelano Julian Nebreda; entre os motivos estão os resultados abaixo do esperado e a discordância sobre a venda de ativos do grupo

Por Luciana Collet (Broadcast) e Renée Pereira
Atualização:

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A saída repentina de Britaldo Pedrosa Soares do comando da AES Brasil, controladora da distribuidora Eletropaulo e AES Tietê, levanta mais uma vez a possibilidade de o grupo americano se desfazer de seus ativos no País. A notícia fez as ações da Eletropaulo, principal companhia da holding, fecharem em alta de 13,96% no pregão desta quarta-feria, 17. Na máxima do dia, os papéis subiram 23% e chegaram a ir a leilão.

Soares esta à frente da companhia desde 2007 e seu mandato venceria em agosto deste ano (ele vai para a presidência do Conselho de Administração). No seu lugar, entrará o venezuelano Julian Nebreda, que até então comandava a unidade de negócios da AES na Europa. Outros dois executivos passam a integrar o quadro do grupo: Charles Lenzi, ex-presidente de uma associação do setor, será o novo diretor presidente da Eletropaulo e Ítalo Tadeu de Carvalho Freitas Filho, conduzirá os negócios da AES Tietê.

O agora ex-presidente do grupo AES,Britaldo Soares Foto: Epitácio Pessoa/AE

Segundo fontes próximas da empresa, a saída de Soares é resultado de uma série de questões. Uma delas seria o desgaste do executivo com a matriz diante dos resultados abaixo do esperado pelos americanos. Executivos do setor, que preferem não se identificar, explicam que nos últimos anos as distribuidoras viram sua rentabilidade ser achatada pelo rigoroso processo de revisão tarifária da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). 

A demanda em queda também reduz o fluxo de caixa das concessionárias. “A margem diminuiu, as exigências de investimentos aumentaram (afinal a rede fica cada vez mais velha) e o custo de capital subiu”, afirmou uma fonte da área de distribuição de energia elétrica.

Outro ponto de desconforto para o ex-presidente da AES Brasil foi o reflexo do descumprimento de alguns indicadores que obrigaram a empresa a antecipar (ou renegociar) o pagamento de dívidas. “No fim do ano passado, houve uma variação brutal do Ebitda (ganhos antes dos juros, taxas, depreciação e amortização) que rompeu os covenants (mecanismo que permite ao investidor antecipar o vencimento de dívidas)”, afirmou um executivo. Isso acabou gerando um custo maior para a empresa, que não era esperado.

Venda de ativos. Para completar a lista de fatores que ajudaram Soares a deixar a presidência do grupo, estaria a discordância em relação à venda de ativos, como a geradora AES Tietê, a distribuidora AES Sul e a termoelétrica Uruguaiana. “Qualquer ativo, mesmo a Eletropaulo, está à venda se o preço for bom”, disse uma fonte ligada ao grupo.

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A empresa nega essa versão e diz que os ativos do grupo no Brasil não estão à venda. A companhia reforçou essa informação em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As mudanças na direção da companhia ocorrem na esteira da reestruturação do grupo, em andamento desde o ano passado, disse a companhia. Em meados de 2015, a AES anunciou uma reorganização das operações, em especial no que diz respeito à AES Tietê. A geradora, que tinha seu controle acionário compartilhado entre o grupo AES e o BNDESPar, passou a ser comandada apenas pela AES, dando mais liberdade para a empresa expandir suas atividades.

Segundo o grupo, a decisão foi motivada “pela estratégia da AES no País, que é crescer em geração, aprimorar a qualidade de serviço e recuperar o valor das distribuidoras”.

No setor elétrico, no entanto, essa explicação não convenceu. Quem está mais próximo das empresas do grupo afirma que tem sido muito difícil para a unidade brasileira obter aval dos americanos para novos negócios no País. “A diretoria de novos negócios está praticamente parada”, observou a fonte. A AES Brasil chegou a negociar a compra de ativos nos últimos anos, mas não conseguiu fechar nada por dificuldade com a matriz, disse um executivo do setor.

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