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Em Taiwan, internet das coisas é a 'bola da vez'

Queda na venda de tablets e smartphones acelera desenvolvimento de novo mercado

Por Renato Cruz
Atualização:

A vida não está fácil para quem fabrica eletrônicos. E não é só no Brasil. A venda de PCs vem caindo mundialmente desde 2012, quando os consumidores começaram a comprar tablets no lugar de computadores. Desde então, a indústria não conseguiu retomar o crescimento. O segundo trimestre do ano registrou uma queda de 11,8% na venda de PCs, segundo a consultoria IDC. Chegamos num ponto em que nem os tablets se salvam, com menos 7% de unidades vendidas no trimestre. E os smartphones, que vinham sendo a estrela do setor de tecnologia, começam a desacelerar. Entre abril e junho, as vendas mundiais aumentaram 11,6%. Pode parecer bastante, mas é menos da metade dos 23,1% registrados no mesmo período do ano passado. O principal motivo é uma queda de demanda no mercado chinês. Diante desse cenário, as empresas de tecnologia buscam novos caminhos para crescer. Uma grande aposta é a chamada “internet das coisas”, tendência em que tudo passa a ter capacidade de processamento e conexão. Roupas, veículos, máquinas industriais e agrícolas, eletrodomésticos, aparelhos médicos e objetos de uso pessoal começam a ter alguma inteligência e, por meio de uma conexão sem fio, a trocar informações via internet. “No futuro, todos os objetos em casa, nas fábricas e nos escritórios vão ter acesso à internet”, explicou Peter Hsieh, gerente geral da ARM em Taiwan. “E não é só acesso, vão ter inteligência.” A ARM é uma empresa britânica que desenvolve tecnologia de processadores, e que licencia suas patentes para empresas de chips como Qualcomm e MediaTek. Mais de 90% dos smartphones vendidos em todo mundo usam tecnologia da ARM. No ano passado, a ARM criou um centro de desenvolvimento na cidade de Hsinchu, em Taiwan. O centro é especializado em processadores para internet das coisas. “A partir daqui, vamos servir outros mercados da Ásia, como China, Coreia do Sul e Japão”, disse Hsieh.Escala. Taiwan ocupa lugar importante no mercado mundial de eletrônicos. A Acer e a Asus, empatadas no quinto lugar entre os maiores fabricantes de computadores, são taiwanesas. Além de ter sido escolhida para abrigar o único centro de desenvolvimento da ARM na Ásia, a ilha é sede da MediaTek, que está entre as dez maiores fabricantes globais de semicondutores. O desenvolvimento da internet das coisas apresenta uma oportunidade grande. Marc Naddell, vice-presidente dos MediaTek Labs, mostrou as diferenças de escala em relação aos PCs e aos smartphones. O mercado mundial de desktops era de centenas de milhões de unidades, porque normalmente havia uma máquina por casa. Com os smartphones, o potencial passou a ser de bilhões de unidades, pois cada pessoa pode ter um.  A internet das coisas abre um mercado que pode chegar a dezenas de bilhões ou até a centenas de bilhões de unidades. Mas é claro que, para atingir esse volume, os preços não podem ser os mesmos. O processador de um smartphone mais sofisticado chega a custar US$ 40. O chip que vai numa peça de carro pode sair por US$ 0,10.  “A internet das coisas representa um grande volume de demanda para nós, mesmo que os preços sejam mais baixos”, disse JC Hsu, gerente geral de Desenvolvimento de Novos Negócios da MediaTek. “Em 2025, 100% dos carros devem ser conectados e uma casa típica terá mais de 500 equipamentos inteligentes. Mas ainda não sabemos quais produtos serão as superestrelas desse mercado.”Plataforma.Conhecida como fabricante de computadores, a Acer busca se reinventar. Para isso, aposta no crescimento em software e serviços. A empresa criou uma plataforma voltada à internet das coisas, que inclui armazenamento de dados na nuvem e ferramentas de software para a criação de aplicações.  “Nossas expectativas são bastante grandes”, disse Maverick Shih, presidente do Grupo de Negócios Build Your Own Cloud da Acer. Entre os produtos da empresa para esse mercado está o aBeing One, um computador com software para desenvolvedores. A Acer tem soluções completas para áreas como gerenciamento global de frotas e serviços médicos. Empresas de diversas áreas estão de olho nesse mercado. Apesar do nome japonês, a Sakura é uma fabricante taiwanesa de eletrodomésticos. A empresa está colocando sensores e conexão à internet em seus produtos. O aquecedor de água tem um sistema de pré-aquecimento para que a água saia na temperatura certa desde o começo. O equipamento aprende com os hábitos do usuário e procura prever o horário dos banhos.  Um exaustor inteligente identifica a fumaça e liga sozinho. “Vamos tentar desenvolver novos modelos de negócio a partir das informações captadas pelos dispositivos”, disse Harry Lee, diretor da Sakura.Segurança. A Mobiletron é uma fabricante de autopeças que também está presente no Brasil. Kim Tsai, presidente da companhia, apresentou um caminhão conectado. Sensores e câmeras instaladas no veículo podem ser acessados remotamente via rede celular.  “Um ponto importante é a segurança”, disse Tsai. “Temos certeza de que, com nosso sistema, um hacker não conseguiria tomar o controle do motor.” Recentemente, a Fiat Chrysler foi obrigada a anunciar um recall de 1,4 milhão de veículos nos Estados Unidos por estarem vulneráveis a ataques virtuais. Conhecida por fabricar aparelhos de GPS, a Holux viu seu principal mercado declinar nos últimos anos por causa do avanço dos smartphones. Com isso, passou a lançar novas linhas de produtos. Desde 2013 começou a fabricar sensores. A empresa criou aparelhos que monitoram a qualidade do ar em residências, a temperatura em restaurantes e o movimento de pessoas para, por exemplo, verificar se doentes e idosos estão bem. No ano passado, a Holux lançou sua linha de vestíveis, que conta com pulseiras e relógios inteligentes. A empresa registrou a patente de uma tecnologia para que seu relógio identifique cansaço ao volante. “O relógio avisa antes que o motorista caia no sono”, disse Eddy Huang, diretor de Vendas e Marketing da Holux.  Apesar da promessa, a internet das coisas ainda precisa provar seu potencial. Trata-se de um mercado extremamente fragmentado, e ninguém ainda sabe qual tipo de produto terá sucesso. Objetos inteligentes podem facilitar a vida do consumidor, mas também trazem uma ameaça. Informações pessoais passam a ser coletadas o tempo todo, e a grande questão é como esses dados serão tratados. Eles não podem ficar vulneráveis a criminosos virtuais nem ao mau uso de empresas e governo.

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