07 de maio de 2020 | 15h19
Em vez de cabo e soldado, o presidente Jair Bolsonaro levou empresários da indústria para constranger o Supremo Tribunal Federal (STF). Quem não se lembra do polêmico vídeo postado nas redes sociais pelo deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, no qual ele fala que bastam um soldado e um cabo para fechar o Supremo?
Após dar aval, Bolsonaro afirma agora que vai vetar possibilidade de reajuste a servidores
"Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo”, disse Eduardo no vídeo de 2018.
Quase dois anos depois, num gesto repleto de simbolismo, o presidente surpreendeu nesta quinta-feira, 7, ao deixar o Palácio do Planalto e caminhar, a pé, em direção ao Supremo para pedir publicamente que as medidas restritivas de isolamento social sejam amenizadas. Tudo com transmissão ao vivo pela TV.
Bolsonaro estava ao lado do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, e empresários para reforçar o discurso de reabertura da economia. Entre os empresários, representantes do Instituto Aço Brasil, Anfavea (automóveis), Abiquim (química), Interfarma (farmacêutica), Abit (têxtil e confecções), Cbic (construção), Abiplast (plástico), Abrinq (brinquedos) e outros setores.
Com a cena desta quinta, não tem como não lembrar o movimento “Não Vamos Pagar o Pato” organizado pela Federação da Indústria de São Paulo (Fiesp), que apoiou o processo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Agora, o que muitos se perguntam é se não parece muito um apelo, às avessas, para não ter impeachment de Bolsonaro, depois das acusações do ex-ministro Sergio Moro.
O presidente e o ministro tinham mesmo é que liderar e propor as saídas para a crise e não levar os problemas e preocupações do empresariado para o Judiciário. Não faz muito sentido, a não ser que ele esteja mesmo pressionando o STF.
“Eu sigo a cartilha de Paulo Guedes. Se ele acha que deve vetar, assim será feito", disse o presidente. Foi o presidente quem deu aval para a abrir a porteira que deixou de fora do aperto fiscal as categorias que lhe dão apoio, principalmente as Forças Armadas e de segurança, contrariando a orientação da sua equipe econômica. Pagando para ver se ele vai cumprir o que prometeu a Guedes.
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