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Embaixador dos EUA nega que acordo de etanol seja vago

Usinas do País criticam fato de o acordo não apontar para redução na tarifa norte-americana de importação do etanol; analistas criticam falta de investimentos

Por Agencia Estado
Atualização:

O embaixador norte-americano no Brasil, Clifford Sobel, refutou na terça-feira, 13, críticas de que o acordo de cooperação sobre etanol assinado entre Brasil e Estados Unidos na última semana seja "vago". Apesar de o acordo ter sido festejado por autoridades brasileiras, usineiros no Brasil criticaram o fato de não apontar para uma possível redução da tarifa imposta pelos Estados Unidos para as exportações de etanol brasileiro. E, em outra frente, analistas apontaram para o fato de que o acordo não teve anúncio de investimentos e deve enfrentar obstáculos políticos e financeiros. "Não acredito que o acordo seja vago", disse Sobel a jornalistas depois de um evento para empresários em Washington. "Transformar (o etanol) num recurso energético, criar o ambiente regulatório e os padrões, conseguir desenvolver um mercado para o futuro, isso é bastante explícito." Geopoliticamente, o acordo sobre o etanol busca ampliar o mercado para o biocombustível e reduzir a dependência de petróleo na América Latina, onde a Casa Branca vê com preocupação a crescente influência do presidente da Venezuela Hugo Chávez, um inimigo das políticas de Washington. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltará a se encontrar com o presidente dos EUA, George W. Bush, na residência de Camp David, em 31 de março. O encontro também tenta demonstrar um sinal da importância que os Estados Unidos estão buscando dar ao papel regional do brasileiro, dizem analistas. Nesse encontro, além de aprofundar a discussão sobre o etanol, os presidentes devem firmar um acordo de cooperação entre os fiscos de ambos países, e discutir formas de ampliar investimentos para incentivar a criação de empregos na região, disse uma fonte diplomática brasileira. Um possível acordo para trocar dados da Receita Federal de ambos os países facilitaria, por exemplo, a investigação de processos de lavagem de dinheiro, como os casos que envolvem o ex-governador Paulo Maluf e os bispos da igreja Renascer nos Estados Unidos. Dúvidas Nesse contexto, os Estados Unidos buscarão enfatizar mais o papel do Brasil com um "parceiro" em diversos temas globais, como a redução da pobreza e as negociações comerciais em Doha. Mas alguns expressam dúvidas sobre o futuro do acordo de etanol e a intensidade do comprometimento de Lula com Bush. O brasileiro já deixou claro que não pretende ser um interlocutor dos Estados Unidos para conter a atuação de Chávez no continente, diz Michael Shifter, vice-presidente para Política no Diálogo Inter-Americano, um centro de estudos em Washington. Lula anunciou na semana passada que irá a Caracas para se encontrar com o venezuelano depois da visita de Bush. "Bush e Lula têm alguma química pessoal, e estão entusiasmados em colaborar para a produção de etanol", disse Shifter. "O programa promete, mas enfrenta obstáculos políticos e financeiros. Para dar certo, terá que contar com um compromisso sustentado, o que não será fácil." Levar o acordo adiante será difícil porque Lula quer se relacionar com Bush e com Chávez na mesma medida, disse Shifter. "Ele resiste a adotar um lado e está sempre ansioso para acalmar as coisas", apontou. E, do lado de Bush, fica a dúvida se o "engajamento" dos Estados Unidos com a América Latina é real e será mantido. Ele só poderá ser comprovado no futuro, depois do tour que o norte-americano fez a Brasil, Uruguai, Colômbia e Guatemala nos últimos dias, e que termina na quarta-feira com uma visita ao México, acrescentou o analista.

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