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Embarque de navios depende das marés

Ausência de dragagem prejudica acesso e aumenta espera nos portos

Por Renée Pereira
Atualização:

Nas estradas, carretas se amontoam uma atrás da outra à espera de um espaço para descarregar nos terminais. No mar, navios enfileirados aguardam a ordem para atracar ou deixar o cais, dependendo do regime de marés do canal. Esse é o dia-a-dia dos principais portos brasileiros, que freqüentemente têm sido reprovados no teste de eficiência de movimentação de carga exportada e importada. O problema mais grave é a ausência de dragagem para aumentar a profundidade dos canais de acesso e berços de atracação. Sem esse serviço, o porto perde capacidade para receber navios de grande porte e, conseqüentemente, tem sua competitividade reduzida. Naturalmente, esses problemas se refletem no custo do produto brasileiro no exterior. Para driblar a falta de calado dos portos e evitar perda ainda maior de competitividade, algumas empresas decidiram adotar operações diferenciadas. A concessionária MRS e a operadora portuária Triunfo estão usando barcaças para fazer o carregamento dos navios em alto-mar. Segundo o diretor da MRS, Fernando Poça, desde 2004 a empresa tem feito esse tipo de operação logística para o carregamento de ferro-gusa no Porto do Rio de Janeiro. Só assim é possível aproveitar toda a capacidade dos grandes navios. Poça diz que o navio atraca no cais e carrega até onde consegue sair. Depois, pára na Baía de Guanabara, onde recebe o resto da carga. "Agora, estamos adaptando uma barcaça com guindastes para fazermos esse tipo de operação com navios Panamax, que não têm esse equipamento a bordo", comenta o executivo. Esse tipo de navio tem capacidade para transportar até 70 mil toneladas, mas exige um calado mínimo de 12 metros. No Porto do Rio de Janeiro, boa parte das áreas tem 10 metros. Mas a administração do terminal garante que os estudos para aumentar a profundidade do calado estão sendo concluídos. O problema de baixo calado não é particularidade apenas do Porto do Rio, mas da maioria dos terminais brasileiros, inclusive os de Santos e Paranaguá. Se o País não quiser barrar a expansão do comércio exterior, as dragagens precisam ser iniciadas o mais rápido possível. Hoje, o setor vive a ridícula situação de acompanhar o movimento das marés para movimentar as embarcações. Primeiro o navio espera a maré subir para entrar no cais. Faz o carregamento até o ponto de não ficar encalhado. Depois, espera mais uma vez a maré subir para continuar viagem. Outra restrição é que muitos terminais não permitem a entrada e saída de navios simultaneamente. Toda essa manobra representa aumento de custos para as empresas. Cada dia de um navio parado no porto custa cerca de US$ 40 mil a US$ 50 mil. "Daqui a pouco, os portos brasileiros vão virar portos para canoas", diz o professor da Coppead/UFRJ, Paulo Fleury.

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