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Embate de ideias na reunião do G-20

Por Gilles Lapouge
Atualização:

Enquanto a França estava nas ruas para manifestar a angústia e o sofrimento em consequência da crise econômica, os dirigentes europeus se encontravam ontem à tarde em Bruxelas para se prepararem para a grande e histórica reunião do G-20 (as 20 potências econômicas mundiais), em Londres, no dia 2 de abril, dentro de duas semanas. Trata-se de uma reunião histórica porque desses debates sairá a estratégia para cortar os tentáculos da crise bancária, financeira, econômica e social que, há seis meses, abala o planeta. Por enquanto, a estratégia é vaga, mutável, hesitante e confusa. Portanto, será preciso "afinar os violinos" para transformar a cacofonia em orquestra. Neste momento, duas escolas se contrapõem. A primeira é a dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, que querem dar prioridade ao saneamento do sistema bancário, o que inclui os ativos tóxicos, e a uma retomada coordenada do crescimento. A segunda é a dos europeus, tendo à frente Alemanha e França, que querem reformar o sistema financeiro, dotá-lo de controles e obrigá-lo à transparência. Paris e Berlim estão mais interessados nas causas da crise do que nas consequências. Querem reformar o sistema, moralizá-lo, transformá-lo. Washington e Londres, ao contrário, preferem sanar os efeitos em vez de investigar as causas. A leitura da imprensa americana e inglesa é eloquente. Há algumas semanas, The Wall Street Journal, The Financial Times e The Economist imploram aos líderes para garantirem em primeiro lugar o salvamento dos bancos e a retomada do crescimento. A City londrina e Wall Street devem beneficiar-se prioritariamente de todas as atenções. Não é essa a ideia dos alemães e dos franceses. Tais divergências de análise são extremamente curiosas, paradoxais. Vemos estes dois homens, de centro ou de esquerda (o democrata Obama, e o trabalhista Brown) determinados a salvar o "capitalismo financeiro". E, diante deles, dois dirigentes de direita, a cristã democrata Merkel e o "bonapartista" Sarkozy, que se lançaram numa cruzada para reformar e purificar o capitalismo financeiro. Em suma, cada um dos dois campos ideológicos inspira-se para as suas análises e suas armas no arsenal do outro: a esquerda segue uma linha de direita. A direita arrola ao seu serviço o arsenal da esquerda. Em Londres, o embate será direto. Evidentemente, podemos até sorrir notando que Sarkozy, um liberal frenético há dois anos, se passou repentinamente, de armas e bagagens, para o lado dos que execram o capitalismo selvagem e querem controlá-lo, regulá-lo e saneá-lo. Pelo menos procura fazê-lo com a mesma energia com a qual ontem celebrava o capitalismo, chegando a reconciliar-se com sua inimiga preferida, a chanceler alemã, Angela Merkel. * Giles Lapouge é correspondente em Paris

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