O presidente da Embraer, Mauricio Botelho, confirmou hoje que a empresa tem interesse e que avalia a possibilidade, junto com as autoridades chinesas, de montar uma fábrica na China. Ele disse que não se trata de uma concorrência, mas admitiu que empresas como a Bombardier e a alemã Fairchild-Dornier também têm forte interesse em explorar o mercado chinês da mesma forma. O executivo não quis dar quaisquer detalhes sobre os planos futuros na China, nem eventuais investimentos. Afirmou que a Embraer está "lutando ferozmente para se estabelecer na China", onde a empresa já tem escritório e centro de distribuição. Botelho destacou, no entanto, que há muito sendo conversado, mas pouco concretizado na China. A burocracia chinesa é considerada um dos principais fatores que emperram as negociações. A Embraer avalia, também, se de fato haverá demanda suficiente de aviões por parte de Pequim, para justificar o investimento. Nos últimos anos, a China abriu diversas empresas de aviação regional, com o intuito de ligar as distantes regiões do país, um dos maiores do mundo. Nessa área, entretanto, a empresa depende totalmente de importações, já que não domina a tecnologia de fabricação de jatos, segundo fontes da Embraer. Como os chineses têm uma cultura muito mais exportadora do que importadora, o país tem grande interesse em atrair indústrias internacionais para fabricar internamente, limitando a necessidade de a China de equipar suas companhias de aviação com tantas compras externas. A Embraer, que está entre as principais fornecedoras da China - cinco jatos entregues e oito opções desde fim de 2000 - busca justamente se beneficiar dessa necessidade chinesa, embora reclame da lentidão das autoridades em tomar decisões. Botelho não quis comentar informações de hoje, na imprensa, segundo as quais o presidente Fernando Henrique Cardoso teria enviado carta ao primeiro-ministro chinês, manifestando a simpatia do governo brasileiro ao projeto da Embraer. "Não comento atos do governo", disse. Já o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, que esteve na Embraer para inaugurar o Colégio Engenheiro Juarez Wanderley, obra do Instituto Embraer de Ensino e Pesquisa, disse desconhecer a ação de Fernando Henrique, mas reconheceu que o presidente já se posicionou pessoalmente na venda de turbinas para a China, no projeto da hidrelétrica de Três Gargantas, e de outra na Venezuela. "Governos de outros países fazem o mesmo. É uma forma de lutar pelo País, atraindo divisas e gerando empregos", afirmou. Em relação às ações da Embraer na Organização Mundial do Comércio (OMC), Botelho afirmou que ainda não formalizou junto a Brasília um pedido para que o governo investigue a veracidade de informações sobre a concessão de US$ 345 milhões em garantias de empréstimos à indústria aeronáutica Fairchild-Dornier, sediada na Alemanha, dada pelos governos alemão e do Estado da Baviera. Ele lembrou que a preparação para uma investigação como essa pode levar anos, como aconteceu no caso Embraer/Bombardier. Botelho afirmou que o mercado de aeronaves continua deprimido neste início de ano e que a empresa mantém estimativa, já anunciada no ano passado, de entregar 135 aviões, ante 160 no ano passado. No fim do ano, entretanto, o executivo acredita que haverá novas encomendas. A Embraer ainda não vê clima para recontratação em massa, depois da demissão de 1,8 mil funcionários no segundo semestre do ano passado, após os atentados de setembro nos EUA.