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Emergentes no aperto

O BC diz vai apenas combater os efeitos secundários de um choque, como a alta do dólar

Foto do author Fábio Alves
Por Fábio Alves (Broadcast )
Atualização:

O movimento global de valorização do dólar, alta nos preços do petróleo e de outras commodities, além de problemas domésticos, como instabilidade política e elevada necessidade de financiamento externo, estão levando os maiores mercados emergentes a recorrer à elevação de juros para conter a forte depreciação das suas moedas e, por tabela, maior pressão sobre a inflação.

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Em meio à migração crescente de investidores estrangeiros para o refúgio de aplicações em dólar, abandonando ativos considerados de maior risco, o quanto esse movimento conjunto de países emergentes elevando os juros colocará pressão sobre o Brasil para também fazer um aperto monetário e não correr o risco de ficar menos atraente ao capital estrangeiro?

Na semana passada, o Banco Central mexicano elevou a taxa básica em 0,25 ponto porcentual, para 7,75%, após ter ficado parado por duas reuniões seguidas de política monetária e a inflação ter desacelerado em maio para o menor nível neste ano. Por outro lado, assim como no Brasil, o México vem lidando com uma forte desvalorização da sua moeda frente ao dólar.

Também o BC das Filipinas elevou os juros em 0,25 ponto na semana passada, a segunda alta consecutiva, para combater a pressão sobre a inflação causada pela valorização do dólar e do petróleo. No início deste mês, a Índia aumentou a taxa básica pela primeira vez em quatro anos, em 0,25 ponto para 6,5%, citando riscos de alta da inflação.

Isso sem falar no choque de juros adotado recentemente pela Argentina e Turquia para combater o que muitos chamaram de ataque especulativo sobre o peso argentino e a lira turca.

Na Argentina, o BC manteve a taxa inalterada em 40% ao ano na sua última reunião de política monetária. No início deste mês, a Turquia aumentou os juros em 1,75 ponto para 17,75%, acumulando um aperto de 9,75 pontos em apenas duas semanas para combater a forte desvalorização da moeda. “Se o diferencial de juros real entre outros países emergentes versus o Brasil aumentar, pode sim aumentar a pressão na nossa moeda”, diz o sócio e gestor da Alaska Asset Management, Henrique Bredda. Segundo ele, se os outros países emergentes, como México e Turquia, começarem a elevar a taxa nominal, aumentando o nível dos juros descontado da inflação em relação ao Brasil, isso pode aumentar o apetite de o investidor ficar vendido em real para financiar posições compradas no peso mexicano ou na lira turca, por exemplo.

Uma combinação de indicadores econômicos decepcionantes, elevada incerteza política e dólar em alta aumentou a pressão por saída de capital estrangeiro dos mercados emergentes, segundo os economistas do banco JP Morgan. Em nota a clientes, esses economistas disseram esperar agora que metade dos bancos centrais emergentes acompanhados por eles vai apertar suas políticas monetárias no segundo semestre deste ano.

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Todavia, os economistas do JP Morgan consideram que um movimento mais amplo e disseminado de elevação de juros entre emergentes aconteça apenas em 2019, quando o hiato do produto se tornar mais positivo, incluindo o início de um aperto monetário no Brasil em meados do próximo ano. Ou seja, quando a ociosidade da economia diminuir e não absorver facilmente, por exemplo, uma depreciação do câmbio.

Na última pesquisa Focus, os analistas apostam que a Selic seguirá inalterada em 6,5% até o fim deste ano, mas terminando 2019 a 8,0%. Por outro lado, as taxas dos contratos futuros de juros embutem a probabilidade de uma alta ao redor de 1,6 ponto porcentual da Selic até o fim deste ano. Alguns economistas apostam em alta de juros após a eleição presidencial. Tony Volpon, do banco UBS, acredita que o BC elevará a taxa Selic em 2 pontos até o fim deste ano, mas após a eleição.

Por enquanto, o BC diz que a política monetária é separada do câmbio e que somente combaterá os efeitos secundários de um choque, como a alta do dólar. Ou seja, se a disparada da moeda americana apenas afetar as expectativas inflacionárias de médio prazo.

Outros países emergentes não estão esperando isso acontecer. Nesta quinta-feira, por exemplo, o BC da Indonésia deve elevar os juros pela terceira vez em apenas seis semanas. E a lista do aperto monetário parece só crescer. 

É COLUNISTA DO BROADCAST 

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