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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Empregos gorados

É preciso aceitar o diagnóstico correto e abandonar as ilusões há muito cultivadas por aqui; e a verdade é que a indústria brasileira é pouco competitiva

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Atualização:

O fechamento da fábrica da Ford, em São Bernardo, produziu forte trauma porque ameaça 3 mil postos de trabalho, diretos e indiretos. É a hora em que sindicatos e autoridades correm atrás de providências que tentem reduzir os estragos. 

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No entanto, poucos se importam com os milhões de postos de trabalho que deixam de ser abertos porque empresas de todos os tamanhos não se animam a investir e, portanto, deixam de contratar mão de obra. Nesta quarta-feira, a Pnad Contínua apontou população desempregada no trimestre móvel encerrado em janeiro de 12,0%, ou12,7 milhões de pessoas (veja o Confira).

É preciso aceitar o diagnóstico correto e abandonar as ilusões há muito cultivadas por aqui. O diagnóstico correto começa por admitir que, com as exceções de praxe, a indústria brasileira é pouco competitiva. Por isso, investe pouco e emprega pouco. São como ovos gorados.

O setor de veículos é a prova mais dolorosa disso, como os exemplos mais recentes da GM e da Ford o demonstram. Não consegue exportar e mesmo para garantir mercado interno precisa de enorme proteção tarifária e de generosos pacotes de incentivos. Uma das lendas divulgadas por empresários é a de que isso só acontece porque o câmbio não ajuda, sempre está “pelo menos 30% defasado”, como nos anos 80 insistia o empresário Laerte Setúbal.

Como também insistem certos economistas, o câmbio só é bom quando atende à indústria “no estado da arte”. O problema é que esse “estado da arte” é o da crônica incapacidade de competir. Seria preciso armar um câmbio artificial que garantisse esse “estado da arte” descabido. Toda a macroeconomia do País teria de ser redesenhada de maneira a dar lugar à montagem de metas de câmbio.

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Não dá mais para afirmar que a indústria não tem escala de produção. O Brasil, com 220 milhões de habitantes, não é o Chile, que tem apenas 18 milhões. A indústria brasileira não consegue se inserir nas redes globais de produção e distribuição porque está excessivamente protegida e, também, tributada. 

É superprotegida porque sofre de complexo de Peter Pan: exige tratamento dado ao estágio da primeira infância, bem diferente do que houve na Coreia do Sul, que hoje produz 5 milhões de veículos por ano, dos quais exporta 4 milhões.

Mas há, também, a supertributação. O veículo brasileiro leva uma carga tributária de 34%, enquanto a dos Estados Unidos é 7%. Não dá para competir nessas condições. O ministro da Economia, Paulo Guedes, reconhece a carga excessiva e já avisou que pretende cortar o Imposto de Renda das empresas de 34% para 15%. Mas ainda não explicou como compensará a queda da arrecadação, assunto que fica para desenvolver em outra oportunidade.

Mas o que ficou dito empurra ao círculo vicioso de sempre: a carga tributária é alta porque as despesas do Estado ficaram grandes demais, em especial as da Previdência Social. E carga tributária alta demais semeia incertezas, afasta investimentos e não cria empregos.

Ou se reduz o tamanho do Estado e, com ele, o tamanho da arrecadação ou será necessário manter e aumentar a carga tributária e, com ela, a indústria seguirá pouco competitiva, com impacto sobre o emprego de mão de obra.

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CONFIRA:

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» Emprego ainda emperrado Era esperada certa redução da desocupação no período novembro-janeiro. Mas deu o contrário. A principal explicação é a de que a atividade econômica não avançou quanto se imaginava no período pós-eleitoral. Tudo se passa como se as empresas continuem à espera de que alguma coisa aconteça, tanto na política econômica quanto no consumo, para que a confiança se recupere e voltem as contratações de pessoal. Se esse raciocínio está correto, o avanço do PIB ao longo de 2019 continuará medíocre.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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