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Empresários defendem corte de 2 pontos na Selic

Por Ricardo Leopoldo
Atualização:

Dirigentes de grandes grupos empresarias, como os presidentes da Embraer, da Nestlé e da Gol, reunidos na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), avaliaram que é fundamental que o Banco Central (BC) reduza os juros hoje em 2 pontos porcentuais. De acordo com o diretor do Departamento de Estudos Econômicos da entidade, Paulo Francini, ocorreu uma avaliação unânime de que o Comitê de Política Monetária (Copom) precisa aumentar a magnitude da redução da Selic, taxa básica de juros, dado o forte desaquecimento da economia. A Selic está atualmente em 12,75% ao ano, depois de uma redução de 1 ponto porcentual na última reunião do Copom, em janeiro. O Produto Interno Bruto (PIB) registrou uma retração de 3,6% no quarto trimestre de 2008 em relação ao anterior. "Há uma música do Gonzaguinha, ''Grito de Alerta'', que pode representar a nossa posição sobre o que deveria ter sido feito pelo governo em relação à crise", comentou. "Foi perdido muito tempo na discussão se a crise iria ou não chegar ao Brasil. Se o impacto seria forte ou fraco. Ela chegou, está no seu inicio e seus efeitos devem se prolongar ainda em alguns trimestres. Assim, é importante que os juros caiam de forma expressiva", afirmou ele. Francini ressaltou que não só a política monetária será o único instrumento que o governo pode utilizar para reduzir ou mitigar os efeitos da crise sobre o País. Segundo ele, é essencial que o crédito às empresas e às famílias seja restabelecido imediatamente, pois os bancos comerciais no Brasil ainda estão excessivamente cautelosos e não viabilizam a liberação de financiamentos em níveis razoáveis. Fiesp deve apresentar ao BC, em breve, estudos nos quais devem sugerir medidas para que a concessão de crédito volte à normalidade rapidamente. O ex-ministro da Fazenda Delfim Neto, que participou do encontro, defende que o BC repasse diretamente financiamentos às companhias para que possam voltar a operar normalmente e elevar o nível de produção. Ele se baseia em ações adotadas por outros BCs, como o dos Estados Unidos e do Reino Unido, que passaram a conceder crédito para empresas, pois seus respectivos sistemas financeiros passam por problemas estruturais muito sérios e há enormes problemas de liquidez. Uma das alternativas que está sendo analisada, pela Fiesp, é a securitização de títulos das empresas para que possam ter acesso a financiamentos concedidos pelo BC. Produção industrial Francini afirmou também que, devido ao forte desaquecimento da economia brasileira provocado pela crise internacional, o Brasil poderá registrar uma queda do PIB em 2009 ou, na melhor das hipóteses, um crescimento bem modesto. Além disso, ele disse que seguramente o nível fraco de atividade fará com que a produção industrial caia, neste ano, em relação a 2008. Para Francini, a crise está apenas no início e ainda deve provocar impactos fortes na indústria, pois a queda registrada pelo setor nos últimos meses foi extraordinariamente intensa. Somente em janeiro, a atividade das fábricas apresentou uma queda de 17% ante o mesmo mês do ano passado. "Como o nível de atividade recuou bastante e tenho plena certeza de que há ociosidade nas indústrias de transformação, a produção industrial medida pelo IBGE precisaria crescer 35,9% de fevereiro a dezembro para que o setor apresente uma expansão média em 2009 igual à apurada em 2008 (de 3,2%). Isso equivale a um incremento médio mensal de 2,8% nesse período, o que é uma marca praticamente impossível de ser alcançada na atual conjuntura econômica global". Na Fiesp, é avaliado que a retração forte do nível de atividade tornará inevitável que o Brasil registre uma queda do PIB também no 1º trimestre, em relação ao trimestre anterior, o que caracterizaria uma recessão técnica (dois trimestres seguidos em queda). O conceito de recessão técnica, porém, é considerado incompleto por vários economistas. Nesse sentido, os dirigentes da Fiesp atentam também para o desemprego, que deve crescer como consequência da crise.

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