PUBLICIDADE

Empresas americanas têm interesse em acordo de transição

O que está em jogo quando se fala em um programa de transição com o Fundo Monetário Internacional (FMI) são mais de R$ 170 bilhões que empresas e bancos dos Estados Unidos têm no Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

Muito mais do que simpatia pelo ajuste implementado no Brasil nos últimos anos, o que está em jogo quando se fala em um novo programa de transição com o Fundo Monetário Internacional (FMI) são mais de R$ 170 bilhões que empresas e bancos dos Estados Unidos têm no Brasil. Segundo dados do próprio Banco Central, esse era o total de ativos que as companhias e instituições financeiras controladas por grupos norte-americanos detinham no final de 2000. No ano passado, o número pode até ter sofrido alterações, mas a contar pela posição apenas dos bancos sabe-se que a exposição ainda é grande. Segundo estatísticas do FMI, as instituições financeiras daquele país que respondem por mais da metade dos ativos norte-americanos no Brasil tinham investimentos de cerca de R$ 78,3 bilhões no País, no final de 2001, o equivalente a US$ 34,2 bilhões. Por isso mesmo, apesar da reação inicial do secretário do Tesouro dos EUA, Paul O?Neil, ter sido contrária a um novo programa de ajuda financeira ao Brasil, as apostas são de que o interesse dos próprios norte-americanos fala mais alto. A visita que o presidente do Banco Central brasileiro, Armínio Fraga, fará amanhã ao secretário e ao diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, é vista como o início das conversas. Crise A viagem de Fraga aos EUA esta semana foi organizada justamente em função da crise que atinge os mercados no Brasil. O socorro de US$ 10 bilhões concedido em maio pode não ser suficiente para a transição de governo e acredita-se que a exemplo da Coréia, que em 1997 teve apoio do FMI por causa das turbulências do período eleitoral, o Brasil seguirá a mesma linha. O próprio ministro da Fazenda, Pedro Malan, já admitiu a hipótese de um novo programa de transição com o FMI. "O Fundo sempre mostrou mais interesse em salvar o Brasil do que a Argentina. Até porque se o Brasil tiver problemas, o contágio será maior para as economias emergentes", afirma José Miguel Moreno, especialista para o Brasil da consultoria norte-americana Stone & McCarthy. Como bancos e empresas dos EUA movimentam uma quantia considerável no Brasil, isso significa que se o País caminhar na direção seguida pela Argentina, as perdas para essas instituições serão incalculáveis, gerando contração nos negócios deles e aumento de desemprego nos EUA. Repercussão Para o FMI, a perda gerada pelo agravamento da crise brasileira pode ser bem maior do que os valores já emprestados ao governo. Isso por causa da repercussão nas demais economias da América Latina. Em muitas delas, o FMI também tem programas de ajuda financeiro. "Não é só a perda financeira das empresas. O Brasil tem exposição financeira e comercial que pode comprometer muitas economias", alerta Ricardo Amorim, estrategista para América Latina da IDEAGlobal, uma das maiores consultorias de investimento e economia dos EUA. Para dar uma idéia do que representaria para o comércio internacional um descontrole da crise brasileira, ele cita como exemplo a Argentina. Por causa do caos que tomou conta do principal parceiro do Brasil no Mercosul, as importações da Argentina, entre 2001 e este ano, caíram cerca de 60%, o equivalente a mais de US$ 10 bilhões. "Se o Brasil tiver uma queda dessa magnitude nas suas importações, isso significa uma contração de US$ 30 bilhões nas exportações de outros países", avalia. Por isso, segundo ele, existe um incentivo para que a comunidade financeira internacional busque soluções negociadas para o caso brasileiro. "O mundo está mais vulnerável por causa da preocupação com o crescimento nos Estados Unidos e, agora, pelo tamanho do Brasil e as consequências que poderiam haver para todos", completa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.