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Empresas brasileiras perderam R$ 151 bi em valor de mercado

Com a queda de 12,2% da Bolsa, as empresas valem o mesmo hoje do que em 2009, mas há algumas exceções, como exportadoras e distribuidoras de energia

Foto do author Fernando Scheller
Por Fernando Scheller , Marina Gazzoni e MÔNICA SCARAMUZZO E NAIANA OSCAR
Atualização:

Ao longo de 2015, as empresas brasileiras de capital aberto comprovaram a máxima popular de que “nada está tão ruim que não possa piorar”. Mês a mês, elas viram seu valor de mercado despencar a patamares que não eram registrados desde 2009, depois da crise financeira global. Desde janeiro, o Ibovespa, principal indicador da Bolsa, caiu 12,2% e as companhias de capital aberto perderam R$ 151 bilhões em valor de mercado. Mas nem todo mundo chegou até aqui se lamentando. Há um grupo de empresas que vai se lembrar com certa satisfação do ano que a maioria quer esquecer.

  Foto: DIV

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Entre elas, no topo do ranking das que mais se valorizaram em 2015, estão exportadoras, empresas que atuam em mercados resilientes à crise, como o de medicamentos, e outras que, na visão de investidores, fizeram uma boa gestão, apesar da crise econômica e política. A lista de companhias foi elaborada pela Economática, empresa de informações financeiras.

Para Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper, essas empresas têm uma característica em comum: conseguiram combinar geração de caixa com menor endividamento. “Embora não seja uma regra a ser aplicada a todas as empresas de commodity, podemos dizer também que o dólar valorizado beneficiou as exportadoras.”

As gigantes de papel e celulose, Klabin, Suzano e Fibria, lideram o ranking: na média, seus papéis subiram mais de 60%. Para Carlos Farinha, vice-presidente da Pöyry, consultoria especializada neste setor, a celulose sofre menos do que outras commodities porque atende a uma emergente classe média global que busca novos produtos, como papel higiênico e fraldas descartáveis.

Com isso no radar, a Klabin, cujos papéis subiram 81% neste ano, está mudando sua estrutura de receita para que, já em 2016, metade das vendas venha do mercado externo. Hoje, 67% do faturamento ainda se concentra no Brasil. Com essa divisão “meio a meio”, o presidente da Klabin, Fabio Schwartzman, diz que a empresa fica protegida das oscilações de demanda aqui e lá fora.

A concorrente Suzano usou o momento positivo – com preço de celulose estável e dólar alto – para reequilibrar suas finanças e acelerar investimentos. A meta estipulada para 2016, de uma alavancagem de 2,5 vezes o Ebitda (potencial de geração de caixa), deverá ser antecipada para o primeiro trimestre, segundo Marcelo Bacci, diretor de relações com investidores da empresa.

Além das fabricantes de celulose, o dólar alto colocou na lista das ações que mais ganharam em 2015 os papéis da petroquímica Braskem. Apesar de ter seus dois maiores acionistas, a Petrobrás e o grupo Odebrecht, no centro das investigações da operação Lava Jato, a companhia foi a quarta que mais ganhou valor este ano. A empresa atribuiu o bom desempenho ao “sucesso das operações internacionais” e do “bom momento do mercado petroquímico global”.

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A companhia atingiu no terceiro trimestre um lucro líquido de R$ 1,5 bilhão, o maior de sua história, e tem um cenário positivo pela frente. Em relatório, os analistas do Itaú BBA projetam aumentos de receita e geração de caixa e redução de endividamento para a empresa até 2019.

Empresas ligadas a setores resistentes à crise, como Raia Drogasil e Hypermarcas, fabricantes de medicamentos, também conseguiram ganhar valor este ano. “Em épocas difíceis, o consumidor corta gastos com bens duráveis e direciona sua renda para produtos essenciais”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

A Hypermarcas chegou a ser olhada com desconfiança pelos investidores neste ano, mas fez as pazes com o mercado depois de vender, no início de novembro, sua divisão de cosméticos para a multinacional Coty, para se concentrar em medicamentos.

Até o combalido setor elétrico conseguiu manter representantes na lista das empresas que se destacaram. Num ano em que o consumo de energia caiu e as despesas financeiras aumentaram, duas companhias viram seus papéis subirem mais de 25%: a EDP Energias do Brasil, que controla as distribuidoras Escelsa (ES) e Bandeirante (SP), e a Equatorial, com Cemar (MA) e Celpa (PA).

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A primeira, na opinião de analistas, registrou alta fora da curva, já que seus papéis estavam muito desvalorizados no início do ano. “Mas esse ajuste não acontece se a empresa não entrega o que promete”, disse Maytê Souza Dantas de Albuquerque, diretora financeira da EDP. Ela destaca a venda de ativos não estratégicos e a compra dos 50% na usina de Pecém I como fatores que afetaram positivamente o valor de mercado. Já a Equatorial há tempos vem sendo tratada por investidores como porto seguro, sobretudo pelos resultados da reestruturação das distribuidoras do Maranhão e do Pará, que deixaram de ser deficitárias e saíram do ranking de pior atendimento.

Único do mercado financeiro na lista das maiores valorizações, o Santander atribui o bom desempenho a melhorias operacionais, como redução da inadimplência e retirada do banco do topo da lista de reclamações do Banco Central.

Futuro. Ter se destacado neste ano não garante tranquilidade em 2016. Apesar de, nos últimos meses, a regra no mercado de capitais ter sido de ações descendo a ladeira, muita gente defende que a bolsa brasileira ainda não está barata. “Não dá para atrair investidores com base no valor atual das companhias.”, diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. O grande fiel da balança, diz ele, será a redução da despesa financeira. Viriato, do Insper, não vê um horizonte favorável. “O cenário ainda é incerto.” 

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