PUBLICIDADE

Empresas defendem corte de salários

Empresários pedem redução de jornada e de salários para evitar demissões, mas não dão garantia de empregos

Por Paula Pacheco
Atualização:

Representantes de 17 das maiores empresas do Brasil decidiram ontem apoiar a proposta de redução dos salários e da jornada de trabalho. Para o grupo de pesos pesados, é o caminho para evitar demissões da indústria, comércio e setor financeiro. Não se cogita no meio empresarial, porém, dar garantias de que as demissões serão interrompidas. A sugestão foi feita na semana passada por Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Estiveram na entidade alguns dos presidentes das maiores companhias do País, como Vale, Fiat, Siemens, Telefônica, Embraer, AmBev, Grupo Martins, Moinho Pacífico e Unipar, para a reunião do Conselho Superior Estratégico da Fiesp. Juntas, elas empregam no Brasil cerca de 250 mil pessoas. A entidade já havia conseguido dias atrás o apoio da Força Sindical, cuja base no Estado abrange 4,8 milhões de trabalhadores e 612 sindicatos. Os empresários evitaram encontrar a imprensa para comentar os possíveis cortes de pessoal. Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico e um dos participantes do encontro, disse que o clima era de preocupação quanto ao futuro da economia brasileira. "Todos se mostraram apreensivos com o stress da economia", disse o empresário. Skaf, como representante do grupo, afirmou que o apoio à redução de salário e de horas trabalhadas foi unânime. Para os empregadores, é a melhor maneira de não demitir no curto prazo. O presidente da Fiesp não economizou nas alfinetadas à Central Única dos Trabalhadores (CUT). "Quem é contra redução de salário e de jornada num momento atípico desses está a favor do desemprego. Negociaremos com a CUT ou sem ela", avisou. A CUT é contra a sugestão da federação paulista, mas admite aprovar outras medidas de contenção de cortes. Quintino Severo, secretário-geral da central, avaliou que a discussão deva ser de âmbito nacional, e não se restringir ao universo da Fiesp. "Em nenhum momento a Fiesp concordou em garantir o emprego e nós não abrimos mão dos direitos dos trabalhadores. As discussões não podem ser unilaterais, por isso temos procurado dialogar com todos os lados", explicou Severo. A CUT já fez os primeiros contatos com a Confederação Nacional da Indústria, o Sindicato das Pequenas e Médias Empresas de São Paulo e a Abimaq, entidade que representa os fabricantes de máquinas e equipamentos. Segundo Severo, o setor, um dos mais afetados pela crise, não concorda com a redução salarial e das horas trabalhadas. "Estamos nos articulando. Nem todos fecham com a Fiesp." Na segunda-feira, a CUT nacional vai reunir em São Paulo os representantes estaduais, além das confederações e sindicatos dos setores mais afetados pela retração econômica. Será, segundo Severo, uma forma de ter uma ideia mais precisa de como a crise abalou o mercado de trabalho até agora. MINISTRO NA MIRA Skaf desqualificou os comentários do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, sobre a indústria automobilística, beneficiada pela redução de impostos federais para interromper a queda nas vendas. Apesar da ajuda, montadoras como a General Motors cortaram pessoal. Lupi disse que essas empresas foram salvas com a ajuda financeira do governo, afirmação da qual o presidente da Fiesp discorda: "A palavra salvar é inapropriada. Não é justo que o governo se refira às empresas de forma desrespeitosa, falando que elas se beneficiaram de recursos públicos".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.