O desempenho das companhias abertas no segundo trimestre deste ano tem tudo para se parecer, e muito, com o dos primeiros três meses de 2001. Segundo analistas, a variação cambial será novamente o motor dos resultados, mas o comportamento das empresas terá novo ingrediente: o racionamento de energia. Um dos segmentos mais afetados será justamente o de energia elétrica. A desvalorização do real em relação ao dólar terá impacto imediato sobre as dívidas reconhecidamente altas em moeda estrangeira dessas companhias. O racionamento, segundo o analista Oswaldo Telles Filho, da BBV Corretora, já provocará reduções nos resultados por conta da queda de consumo, mas de maneira menos intensa. Ele prevê queda de 4,7% no volume de vendas físicas da Light e da Eletropaulo Metropolitana no segundo trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado. Os impactos sobre outros setores O impacto do câmbio sobre a dívida também poderá ser visto nas siderúrgicas. "O setor inteiro é tradicionalmente endividado, pois exige investimentos elevados", disse o analista Vicente Koki, da Sudameris Corretora. Segundo ele, o segmento não terá apenas um segundo trimestre ruim, mas todo o ano. As siderúrgicas ainda sofrerão com o racionamento, se a falta de energia afetar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). "Algumas empresas podem até ser auto-suficientes em geração de energia, mas não se sabe o efeito nos clientes", lembrou a analista Katia Brollo, da Unibanco Corretora. No caso das petroquímicas, o impacto do câmbio sobre as dívidas também será grande, mas poderá ser reduzido com o repasse da variação nos preços. "Parte do custo é em moeda local. Além do mais, os produtos vendidos são commodities, cujos preços tendem a acompanhar os internacionais", citou o analista Cleomar Parisi, da Unibanco Corretora. A ligação com o mercado externo, aliás, promete ser o porto seguro no cenário atual. Prova disso é a valorização em bolsa de ações de companhias exportadoras verificada nas últimas semanas. O quadro será positivo, por exemplo, para fabricantes de papel e celulose que exportam e têm poucas dívidas. As empresas de telecomunicações terão outros problemas. Entre os mais apontados pelos especialistas estão o subsídio de aparelhos e tráfego, que reduz receitas, e o aumento de provisões para devedores duvidosos.