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Empréstimos do BNDES para pessoa física alcançam R$ 11,8 bi, o maior valor desde 2014

Por outro lado, crédito para empresas despencou em 2019, chegando a menos de um quarto do total liberado antes da recessão

Por Douglas Gavras
Atualização:

Diminuindo sua participação em grandes investimentos desde a recessão, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem substituído nos últimos anos a concessão de crédito para grandes empresas por pequenos financiamentos para pessoas físicas.

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Em 2019, a liberação de empréstimos para pessoa física foi a maior desde antes da crise, segundo dados do Banco Central. As concessões de recursos direcionados - que têm taxas subsidiadas - subiram 8% em relação ao ano anterior e somaram R$ 11,8 bilhões. Em 2014, antes da recessão, o banco havia emprestado R$ 12,9 bilhões.

Ao mesmo tempo, a tomada de crédito direcionado para empresas, as pessoas jurídicas, despencou com a recessão e mantém quedas constantes há cinco anos. Se em 2014, ela somava R$ 168,9 bilhões, a liberação de empréstimos foi de menos de um quarto desse valor em 2019, de R$ 39,7 bilhões.

Mais conhecido por ter financiado grandes projetos ao longo da sua história, o BNDES também oferece às pessoas físicas opções de microcrédito, que servem para capital de giro ou cobrir despesas de caixa de pequenos empreendedores, por exemplo.

Outro público-alvo é formado por agricultores e produtores rurais que queiram comprar máquinas e equipamentos, implantar lavouras ou fazer reflorestamento e recuperação do solo. O crédito para agroindústria representa quase a totalidade do que foi emprestado no ano passado às pessoas físicas.

Em 2018, o banco estatal também mudou as regras para concessão de crédito às pessoas físicas para compra de sistemas de aquecimento solar e de placas fotovoltaicas, como parte do Programa Fundo Clima, com financiamento de até 80% dos custos.

A família do advogado Alcir Toledo, de 45 anos, procurou o recurso há dois anos, para instalar painéis solares em sua casa, onde também funciona um escritório que ele divide com a mulher e a filha. "Em menos de dois meses, já tinha mais de cem pessoas na fila. Demorou, mas saiu."

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Como não tem agências, o BNDES acaba tendo de usar a rede de bancos de varejo, sobretudo as do Banco do Brasil, para repassar recursos ao consumidor final, mas ainda não é tão conhecido pelos pequenos.

Há três anos, Nathalie Mikellides, dona de uma pequena fabricante de protetores bucais para lutadores e atletas, tentou conseguir crédito do BNDES para investir em uma nova máquina para o negócio, mas o recurso liberado foi bem abaixo do que ela esperava.

"Precisava de um empréstimo de R$ 80 mil, mas me ofereceram R$ 2 mil. Uma pena, já que esse crédito teria me ajudado a aumentar a produção e a contratar pessoal. Na época, havia pouca divulgação das opções disponíveis também."

Para tentar contornar o problema, o banco lançou um aplicativo para facilitar a tomada de crédito voltado para clientes de pequeno porte.

BNDES está aumentando liberação de crédito para pessoas físicas. Foto: Wilton Junior/Estadão - 28/2/2019

Reorientação

Os planos do atual governo para o BNDES não são muito claros. Desde sua campanha, o presidente Jair Bolsonaro prometia abrir a "caixa-preta" da instituição, para apontar o que ele classificava como desvios ocorridos durante os governos petistas.

Em julho do ano passado, logo após a substituição do ex-presidente do banco Joaquim Levy, o atual responsável pelo BNDES, Gustavo Montezano, disse aos servidores que "a credibilidade do banco, a transparência, o patriotismo e a capacidade de prover informações (estavam) sendo questionadas".

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Reportagem do Estado revelou, em janeiro, que o banco estatal havia desembolsado R$ 48 milhões em uma auditoria cujo relatório não apontou nenhuma evidência direta de corrupção em oito operações com a JBS, o grupo Bertin e a Eldorado Brasil Celulose, realizadas entre 2005 e 2018.

O presidente Bolsonaro rebateu em seguida, dizendo que a "caixa-preta" do BNDES já havia sido aberta, sem dar mais detalhes.

Com a pressão do governo, a falta de grandes investimentos no País nos últimos anos e a maior dificuldade em aprovar projetos mais ambiciosos, os dados do Banco Central reforçam que o BNDES tem se voltado a projetos de menor escala.

O Estado conversou, sob condição de anonimato, com dois executivos que foram presidentes da instituição nos últimos dez anos.

Ambos concordam que houve uma substituição de foco do banco, seja pela recessão econômica e os desdobramentos da operação Lava Jato, seja pela reorientação política após a eleição de 2018. Eles também afirmam que há uma maior morosidade da Justiça na aprovação de financiamentos para grandes projetos.

Questionado se há, de fato, uma reorientação interna, o BNDES disse que não conseguiria responder até o fechamento desta reportagem.

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