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Endividamento é só um dos problemas da Triunfo

Além da crise, grupo tem empresa acusada por superfaturamento em obras da BR-040 e é sócio da UTC, envolvida na Lava Jato

Por Renée Pereira
Atualização:
Triunfo é dona do Porto de Navegantes, um dos mais importantes da Região Sul Foto: Felipe Christ|AE

O inferno astral da Triunfo Participações e Investimentos (TPI) vai além do vencimento de dívidas de curto prazo. Ela é sócia de uma das empresas envolvidas na Operação Lava Jato (a UTC), entrou na mira do Ministério Público Federal por causa de uma obra e tem uma importante concessão de rodovia que vence no ano que vem. No meio disso tudo, ainda tem de conviver com a crise econômica que afeta a movimentação nas estradas e aeroportos. 

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“Nossa margem de manobra é limitada. Não posso deixar o nível de serviço piorar por causa da crise (sob pena de ser punido pela agência reguladora)”, afirma o presidente da TPI, Carlo Bottarelli. Mas, segundo ele, com ganho de escala, a empresa conseguiu fazer sinergias em algumas concessões. Isso permitiu reduzir o quadro de funcionários, por exemplo.

Segundo o executivo, o objetivo hoje é “desalavancar” a empresa, ou seja, reduzir o nível de endividamento. Esse processo foi iniciado em 2015 com a venda de duas hidrelétricas para a China Three Gorges Energia Brasil (CTG), por cerca de R$ 2 bilhões. “A empresa tem uma capacidade de solvência grande porque tem patrimônio e ativos bons que podem ser vendidos”, diz o analista da Eleven Financial Research, Adeodato Netto. 

Na avaliação dele, como a capitalização não parece razoável no atual cenário, a venda de ativos deve ser prioritária. Na lista de empreendimentos, está a participação do grupo na empresa de energia Tijoá e até em Viracopos. Há ainda um terreno de 1 milhão de metros quadrado em Santos. O executivo garante que, por ora, não há nenhuma venda em curso ou em estágio avançado.

Concer. Além das renegociações de dívidas, a Triunfo tem outra preocupação imediata. Em meados do mês passado, o Ministério Público Federal entrou na Justiça com uma ação de improbidade administrativa por causa de supostas irregularidades cometidas em obras da nova subida da serra na BR-040, entre as cidades de Juiz de Fora (MG) e Petrópolis (RJ). 

Por causa desse pedido, a Concer – empresa do grupo que administra um trecho da rodovia BR-040 – teve bens bloqueados judicialmente por suspeita de superfaturamento nas obras. “Mas os únicos bens que a concessionária tem são 2 ambulâncias, 1 guincho e veículos leves”, destaca Bottarrelli, explicando que o governo está inadimplente com a empresa por causa dessa obra. Em 2013, a empresa assinou um aditivo com o governo para tocar a construção.

“Pegamos uma dívida e tínhamos de pagar com o dinheiro que receberíamos do governo, mas os pagamentos foram suspensos no ano passado. Em maio deste ano, desmobilizamos uma obra de 2.500 pessoas num eixo importante para o País.” Hoje a empresa está renegociando a dívida da Concer com os bancos. A companhia já havia feito quatro de cinco túneis previstos no projeto. “Em algum momento terão de nos pagar por esse serviço, seja por meio de tarifa, prazo ou dinheiro.”

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Questionado sobre a acusação de superfaturamento, ele explicou que o Tribunal de Contas da União (TCU) reclama de sobrepreço numa pintura antipichação que nem está pronta. “Esse superfaturamento não existe. Se acham que essa pintura é cara, que encontrem uma alternativa e nos apresente”, reclama Bottarelli. A concessão da Concer vence em 2021 e um dos objetivos do governo era renovar a concessão. Mas, diante da situação, a decisão virou uma incógnita.

Antes disso, no entanto, a Triunfo terá outra “perda”. A concessão da Concepa, que administra 121 quilômetros nas BRs 290 e 116 no Sul do País, vence em julho de 2017. A concessionária é uma importante geradora de caixa para o grupo. “Essa rodovia deve ser relicitada e vamos disputar. Com sorte, continuaremos com ela.”

Por fim, há ainda os problemas envolvendo o Aeroporto de Viracopos, em Campinas, onde o grupo detém 23% de participação. Além de uma multa milionária aplicada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a UTC, envolvida na Lava Jato, deve vender sua participação. Isso sem contar que a própria Triunfo pode ser obrigada a se desfazer do ativo para fazer caixa.

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