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Energia eólica à espera de linhas no sertão baiano

Equipamentos só vão iniciar geração em julho de 2013

Por RENÉE PEREIRA , TEXTO , HÉLVIO ROMERO , FOTOS , CAETITÉ e GUANAMBI (BA)
Atualização:

O cenário daquela manhã de 9 de julho era perfeito para a inauguração do maior complexo eólico da América Latina, na região de Caetité, no sudoeste da Bahia. O céu estava límpido, o sol a pino e ventava como nunca. Em tendas brancas, construídas no pé dos cataventos gigantes, cerca de 400 personalidades do meio político, técnicos do setor elétrico e moradores da região se acomodavam para testemunhar a nova realidade da caatinga. Mas a festa não foi completa. Nenhum aerogerador pode ser acionado. Desde então, eles estão lá, fincados na terra seca e vermelha do sertão sem poder gerar um único megawatt. Viraram enfeites.O vento continua a soprar forte. Só esqueceram de construir o sistema de transmissão para escoar a energia gerada. Neste complexo, 184 aerogeradores, divididos em 14 parques eólicos, estão parados há dois meses por falta de conexão. E devem continuar assim, pelo menos até julho do ano que vem. No lugar onde deveria existir uma subestação para conectar a usina ao sistema nacional, há apenas mato e cupinzeiros. Pior: não há nenhuma indicação de que as obras serão iniciadas em breve.Enquanto isso, quase 300 megawatts (MW) - suficientes para abastecer uma cidade do tamanho de Brasília - estão sendo desperdiçados por falta de planejamento. Construído pela Renova Energia, empresa com participação da Light e da Cemig, o complexo Alto Sertão 1 custou R$ 1,2 bilhão e demorou 17 meses para ser concluído.Embora a Renova tenha cumprido o prazo para entrega do complexo eólico, a estatal Chesf, do Grupo Eletrobrás, não honrou o compromisso para a construção do sistema de transmissão. Procurada, a empresa não respondeu ao pedido de entrevista. Mas, nos bastidores, executivos afirmam que ela costuma jogar a culpa do atraso na demora - de seis meses - do governo para realizar o leilão de transmissão. Também reclama do licenciamento ambiental, apesar de ter entrado com o pedido poucos meses antes de os parques serem entregues.O diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, diz que não é possível aceitar essa explicação. "Não é um atraso de um dia. São meses. Quando o leilão foi realizado, o edital mostrava todas as condições. Se a empresa considerava o prazo curto, não deveria ter dado o lance." Rufino diz ainda que o processo de licenciamento ambiental é uma obrigação, uma responsabilidade do empreendedor.Sem a obra, os parques mais parecem esqueletos no meio do sertão. Cada aerogerador pesa 243,7 toneladas. A torre, que suporta o gerador e as três pás, mede 80 metros de altura e é sustentada por uma base de concreto de quase 3 metros de profundidade.O coordenador de Implantação em Campo da Renova, em Caetité, Roberto Lopes, conta que o mais complicado na construção foi a logística. Todos os equipamentos usados na montagem dos 14 parques eólicos foram fabricados fora da região. As pás, por exemplo, saíam do interior de São Paulo de caminhão até o Porto de Santos, onde eram embarcadas em navios. Chegando em Ilhéus, mais uma vez a carga era transferida para caminhões até chegar à região.Outra dificuldade foi abrir caminho até os locais onde seriam instalados os aerogeradores. Apesar de o equipamento girar 360 graus para captar todo o potencial do vento, independentemente da direção que vier, o local para instalação de cada torre é milimetricamente calculado. No caso da Renova, elas foram montadas no topo de morros, que ficam a mais de 860 metros acima do nível do mar. Para chegar até lá, tiveram de abrir 68 quilômetros de estradas.Muitos dos acessos serão aproveitados nos próximos parques da empresa no sertão baiano. No total, são mais 230 aerogeradores, e 100 deles começam a ser construídos dentro de dois meses. A esperança é que, dessa vez, as unidades entrem em operação ao mesmo tempo que as subestações. Assim, a empresa poderá fazer a festa completa no dia da inauguração.

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