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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Energia limpa e impacto ambiental

Para especialistas, o momento atual é de desenvolver as energias renováveis em bases socioambientais sustentáveis e que dialoguem com as comunidades ao seu redor

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Atualização:

Espalhou-se a ideia de que, por serem limpas, as energias renováveis não causam impactos socioambientais. Mas suas estruturas produtivas podem, sim, criar problemas desse tipo.

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No início deste mês, um grupo de mulheres da região da Borborema, no Estado da Paraíba, marchou contra a instalação de um complexo eólico na localidade. O grupo aponta prejuízos que esses empreendimentos vêm causando às comunidades locais. Entre eles estão problemas contratuais com arrendamento das terras, barulho demais, alterações indesejáveis na paisagem e no solo e prejuízos na agricultura e na pecuária.

Iure Paiva, professor e coordenador do Grupo de Estudos sobre Segurança Energética da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que vem estudando os impactos ambientais, socioeconômicos e de saúde causados por projetos de energia eólica na Região Nordeste do País, observa que essas reivindicações das comunidades que dividem espaços com os empreendimentos não são recentes. Alguns desses parques não vêm gerando o retorno social e ambiental prometido.

Ele reconhece que a movimentação das hélices estressa os animais porque produz ruídos e sombras que se movem na pastagem e interfere na migração de pássaros e outros animais. Por isso, as criações de caprinos e de ovinos têm apresentado elevado número de abortos e de rejeição de filhotes. Os ruídos das turbinas, principalmente à noite, quando a incidência de ventos é maior, tiram o sono dos moradores locais e agravam problemas de saúde, como hipertensão e depressão.

Paiva arremata: "O desenvolvimento das energias renováveis não deve apenas atender à demanda e segurança energética. É preciso harmonizá-lo com as condições da localidade em que estão inseridos e ouvir essas comunidades para que tais impactos sejam minimizados”.

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A proximidade das torres eólicas tem impactado a vida de diversas comunidades, principalmente na Região Nordeste do País. Ilustração: Marcos Müller/Estadão Foto:

A Europa, como aponta Emilio La Rovere, pesquisador da área de planejamento energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe), passou por problemas semelhantesnos anos 70, quando a produção de energia eólica avançou na região. Para garantir qualidade de vida à população vizinha, a solução foi a adoção do modelo offshore de geração eólica (parques instalados em alto-mar). Além de aumentar os custos de investimento e de manutenção dos equipamentos, a saída só é possível a países costeiros.

O pesquisador também chama a atenção para a montagem de parques eólicos em dunas, onde a ocupação intensiva tende a acarretar danos ambientais ao ecossistema, que podem ser percebidos só depois.

Os impactos ambientais não se resumem à geração eólica. As fazendas solares precisam estar sempre limpas de mato. O uso intensivo de herbicidas pode danificar o solo. A própria geração hidrelétrica pode causar danos se instalada em locais inapropriados. A energia de biomassa também apresenta riscos de vazamento de resíduos tóxicos para o meio ambiente.

Nenhum desses problemas é contraindicação decisiva para o necessário esforço de substituição da energia fóssil, desde que sejam evitados por planejamento cuidadoso.

La Rovere adverte que essas novas necessidades exigem, no Brasil, atuação mais eficaz dos organismos de defesa do meio ambiente durante os estudos de viabilidade e impacto desses empreendimentos , o que, por sua vez, pede mais capacitação dos profissionais da área. “O País conseguiu evoluir porque simplificou os termos de referência dos estudos de impactos ambientais desses projetos, em um momento que era preciso fomentar o uso das energia renováveis. Mas o momento agora é outro. Precisamos conseguir o desenvolvimento delas em bases sustentáveis.” /COM PABLO SANTANA

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*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA 

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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