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Energisa vai trocar termoelétricas a diesel por energia solar e subestações na Amazônia

Plano da empresa para o Acre e Rondônia prevê, até 2025, o desligamento das térmicas, que são mais caras e poluentes; em comunidades ribeirinhas serão instalados sistemas de geração solar, em parceria com o programa Mais luz para a Amazônia

Por Denise Luna (Broadcast)
Atualização:

RIO - Considerada o "pulmão do mundo", a região amazônica convive até hoje com termoelétricas caras e poluentes a diesel, tanto pela impossibilidade de acesso por causa da floresta quanto pela falta de investimentos das distribuidoras estatais que atuavam na região e somente em 2018 passaram à iniciativa privada. 

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Até 2025, a Energisa vai concluir um programa de desligamento dessas térmicas no Acre e em Rondônia, áreas de concessão da empresa, com as unidades sendo substituídas por linhas de transmissão e subestações, onde for possível, ou por sistemas de geração solar distribuída nas comunidades ribeirinhas, em parceria com o programa governamental Mais luz para a Amazônia.

Mesmo onde houver apenas uma família morando, informa o presidente do grupo Energisa, Ricardo Botelho, um sistema solar será instalado, permitindo que as famílias tenham acesso a aparelhos eletrodomésticos e internet e desenvolvam negócios. O programa, que soma investimentos de R$ 1,2 bilhão, começou em 2019 e prevê tirar do sistema 19 termoelétricas a diesel, ou 169 megawatts (MW), evitando emissões de 502 mil toneladas de CO2 por ano na atmosfera.

Este ano serão investidos R$ 950 milhões nas duas distribuidoras, sendo que cerca da metade virá do programa do governo para melhorar a vida da região. Mais de 400 mil pessoas serão beneficiadas em 16 municípios. Ao fim do programa, quando a última térmica for desligada, as contas de luz dos brasileiros terão uma economia anual de R$ 665 milhões, referentes à suspensão dos subsídios concedidos para evitar que o alto custo da operação das térmicas seja totalmente repassado para as tarifas. 

Subestação da Energisa no município de Manoel Urbano, no Acre. Foto: Energisa/Divulgação

Três unidades já foram desligadas em Rondônia no ano passado (Alvorada do Oeste, Costa Marques e São Francisco). A partir de 2021, mais nove serão desligadas no Estado e a última em 2022, garantindo a interligação das regiões de Machadinho, Buritis e Ponta do Abunã, chegando a 102,8 MW descomissionados.

"Nos próximos dias vamos disponibilizar um 'descarbonômetro', um reloginho que vai permitir à sociedade acompanhar diariamente todas as emissões evitadas à medida que formos desligando as térmicas", antecipa Botelho, que acompanha pessoalmente o projeto-piloto de Vila Restauração, no Acre, que será inaugurado em julho deste ano e estendido para as outras comunidades ribeirinhas.

O projeto consiste na instalação de um sistema que inclui geração solar fotovoltaica e armazenamento de energia (baterias) e um gerador de backup movido a biodiesel. Os cerca de 750 habitantes da vila passarão a ter energia 24 horas por dia. Atualmente, os moradores só têm energia por cerca de quatro horas por dia por meio de um gerador a diesel custeado por eles. 

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A Vila fica no Alto Juruá e para ser acessada, depois de outros transportes até o município de Marechal Thaumaturgo, o mais próximo, é necessário navegar mais oito horas no rio em pequenas embarcações.

"O grande objetivo é fornecer energia de qualidade para quem precisa, contribuindo para ter uma energia mais limpa e mais sustentável, em uma região que tem tudo a ver com sustentabilidade e onde temos presença bastante expressiva da nossa companhia, 40% dos nossos clientes estão na Amazônia Legal", explica o executivo.

Apesar de não ser área de concessão da Energisa, uma termoelétrica de 16 MW também foi desligada no Pará este ano com a conexão de uma linha de transmissão da empresa (Xinguara II - Santana do Araguaia ), adquirida no leilão de 2018, contribuindo com a descarbonização da região.

Botelho explica que o maior impacto para despoluir a região virá das interligações com linhas de transmissão e subestações, enquanto os projetos de energia solar ligados ao programa do governo Mais luz para a Amazônia devem beneficiar cerca de 1.800 pessoas de baixa renda, que ainda estão sendo cadastradas. Ele destaca que o grande problema da distribuidora tem sido cadastrar esses brasileiros espalhados pela floresta.

Linha de transmissão da Energisa no município de Assis Brasil, no Acre. Foto: Energisa/Divulgação

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"Nós mapeamos toda a área por foto de satélite e vamos atrás de cada pontinho que tem uma casa para ver se é um cliente precisando de energia elétrica", diz. “O problema grande de você ser distribuidor nessas regiões é que é um trabalho enorme das equipes para atender o território. Essas regiões ficaram para trás, não foram atendidas pelas estatais no passado, e agora temos o trabalho de resgatar essa população.”

Para Botelho, outro ponto fundamental do projeto de descarbonização da região será reduzir o número de fraudes, que colocam as duas distribuidoras da empresa no pódio das maiores perdas não técnicas do grupo.Nos próximos três anos serão investidos R$ 310 milhões no combate às perdas no Acre, que hoje chegam a 18,9% de toda a energia elétrica que a Energisa distribuiu, e em Rondônia (perdas de 27,6%). Os índices de perdas da concessionária do grupo no interior de São Paulo ficam em torno de 5%.

“Se pensar em um grande programa de descarbonização e eficiência energética, o melhor jeito é acabar com esse desperdício no bolso do cliente que paga regularmente. No Acre e em Rondônia, temos indicadores de perdas não técnicas e de fraude bastante elevadas, de alguns consumidores apenas, mas o que, além de criminoso, é ambientalmente e socialmemte injustificado”, afirma Botelho.

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