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Entenda a alta do dólar e a ação do governo

Moeda americana ultrapassou R$ 2,50, mas fechou em baixa após anúncio do BC.

Por Alessandra Corrêa
Atualização:

O pessimismo em relação à economia mundial tem empurrado a cotação do dólar para cima. Nesta quinta-feira, 23 de outubro, a moeda americana chegou a ser negociada a R$ 2,52. A alta foi revertida por um anúncio do Banco Central de que irá destinar até US$ 50 bilhões a um programa de venda de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro). No fim do dia, o dólar fechou em queda, cotado em R$ 2,30. Abaixo, a BBC Brasil responde a algumas perguntas sobre as causas e os efeitos da alta da moeda americana na economia brasileira. Por que o dólar tem subido tanto? Diferentes aspectos estruturais e conjunturais contribuem para a alta do dólar nas últimas semanas. Há um crescimento da procura, que supera a oferta e leva ao aumento da cotação. O economista Alcides Leite, professor de Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios, diz que investidores estrangeiros, que investiram em bolsa de valores e títulos do governo no Brasil, estão enviando dinheiro de volta para o exterior, porque precisam desse dinheiro lá, devido à crise financeira. Segundo analistas, o Brasil recebeu muita moeda estrangeira nos últimos tempos. "Então, há muito (dólar) para sair", diz o economista André Sacconato, da Tendências Consultoria. A alta do dólar, porém, não é um fenômeno exclusivo do Brasil. O dólar vem se valorizando em relação a todas as moedas, e não apenas ao real. De acordo com Sacconato, isso se explica pelo movimento chamado de "flight to quality", que é uma busca por segurança, ou seja, a ação dos investidores de mover seu capital para os investimentos mais seguros. "Quando há uma crise, a tendência dos investidores é buscar o que é mais seguro. E apesar de a atual crise ter começado nos Estados Unidos, o dólar ainda é considerado o mais seguro pelos investidores", afirma Sacconato. Alguns analistas relacionam ainda a forte alta na cotação registrada na quarta e na quinta-feira (22 e 23 de outubro) em parte ao anúncio da Medida Provisória (MP) 443, que permite ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal a compra de participação em instituições financeiras privadas. Essa medida teria causado uma reação de pânico no mercado, com o temor de que haja risco de quebra de instituições financeiras no Brasil. "Os investidores foram em busca do que consideram mais seguro: o dólar", diz o economista da Tendências. A alta do dólar se deve a um movimento especulativo? Segundo analistas, a alta do dólar pode ser atribuída em parte à especulação, mas esse não é o principal motivo. "O grande responsável é mesmo o volume de remessas para fora, para pagar compromissos em dólar, por necessidade", diz o economista da Trevisan. O valor atual do dólar é um valor justo? Muitos analistas afirmam que o dólar está sobrevalorizado. A opinião dos especialistas é de que houve um overshooting, ou seja, uma reação exagerada do mercado. A expectativa de alguns economistas é de que, uma vez passada a fase mais aguda da crise internacional, a moeda americana volte a baixar e se estabilize entre R$ 1,80 e R$ 2,00. Qual o efeito das ações do governo na alta do dólar? O anúncio do Banco Central de que irá destinar até US$ 50 bilhões a um programa de venda de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro) teve efeito nesta quinta-feira. O dólar, que chegou a ser cotado a R$ 2,52, recuou logo após o anúncio e fechou em queda, cotado em R$ 2,30. O Banco Central já vinha agindo antes desta quinta-feira mas, segundo alguns analistas, houve uma mudança de postura. "O Banco Central estava sendo muito tímido, talvez pensando que a crise fosse mais passageira", disse Sacconato. O economista da Tendências afirma que o Banco Central não deve intervir no mercado a toda hora, mas em momentos de pânico, como o atual, sua ação é necessária. No Brasil, o câmbio é livre, mas está sujeito a intervenção em casos extremos. O analista da Trevisan diz que, caso o governo não tivesse agido, o dólar poderia estar em R$ 2,50. Leite afirma ainda que, para que o dólar caísse abaixo de R$ 2,00, seria necessário um volume de dinheiro muito grande. "Não valeria a pena. Gastaríamos reservas demais em um momento de muita turbulência", afirma Leite. Segundo ele, a tendência é de que a cotação baixe naturalmente passada essa turbulência. Como a alta do dólar afeta as empresas brasileiras? As empresas que atuam no comércio internacional são afetadas diretamente pela oscilação do dólar. As exportadoras são favorecidas pela alta, já que suas receitas são em moeda estrangeira. No caso das importadoras, o efeito é o oposto, pois essas empresas têm seus custos em dólar. A alta do dólar também aumenta as dívidas das empresas. Segundo analistas, a dívida do setor privado no Brasil é de cerca de US$ 130 bilhões. Outro aspecto que tem impacto sobre as empresas é o fato de muitos exportadores utilizarem as operações de hedge para se proteger das variações cambiais. Nessas operações, a empresa fixa um valor para o dólar e está segurada caso a moeda suba ou caia até esse patamar. No entanto, especialistas afirmam que algumas empresas fizeram um volume maior de operações de hedge do que precisavam e acabaram perdendo dinheiro com a alta do dólar. Qual o impacto da alta do dólar na economia brasileira de maneira geral? A alta do dólar não tem impacto na dívida e na capacidade de pagamento, já que as dívidas do Brasil não estão atreladas ao câmbio, são em real. Na opinião de economistas, os efeitos mais danosos estão relacionados à inflação. Muitos produtos consumidos no Brasil têm preço influenciado pelo dólar e ficam mais caros com a alta da moeda americana, o que pressiona a inflação para cima. Segundo analistas, o impacto depende de como o dólar vai se estabilizar. Se, passado o momento de pânco, a moeda ficar em torno de R$ 2,00, como nas previsões mais otimistas, não deve haver forte pressão inflacionária. Caso a cotação ultrapasse R$ 2,50, como nos cenários mais pessimistas, os efeitos podem ser mais graves. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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