PUBLICIDADE

Entenda a variação nos preços do petróleo

A BBC preparou uma série de perguntas para ajudar você a entender o mercado.

Por Da BBC Brasil
Atualização:

A cotação do petróleo no mercado internacional vem caindo desde julho, quando atingiu o ápice de US$ 147. Seis meses depois, o barril já está mais de US$ 100 mais barato. Preocupada com isso, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) anunciou um corte recorde na produção, de 2,2 milhões de barris, que deve passar a vigorar em janeiro de 2009. A BBC Brasil preparou uma série de perguntas e respostas para ajudar você a entender a alta do preço do produto e os cenários para o mercado de petróleo no futuro. Por que os preços subiram tanto até julho? Economistas costumam dizer que o preço de um produto é resultado da relação entre oferta e demanda. De fato, essa é uma das raízes da alta na primeira metade de 2008. A demanda por petróleo aumentou, especialmente por parte da China e da Índia, países que nos últimos anos vêm registrando uma alta taxa de crescimento econômico. Por outro lado, a cotação do petróleo também é influenciada por problemas enfrentados pelos países exportadores. A indústria petrolífera e os oleodutos na Nigéria e no Iraque, por exemplo, costumam ser alvo de ataques. Devido a esses problemas, cresce a preocupação de que a oferta não vá suprir a demanda, e o preço sobe. Por que os preços caíram tão rapidamente nos últimos meses? Economistas acreditam que isso ocorreu por causa da crise financeira global. Na metade do ano, começaram a surgir sinais de que havia problemas na economia dos Estados Unidos e, desde então, diversos países foram obrigados a adotar medidas para tentar frear o desaquecimento econômico. Em uma crise econômica, diminui a oferta de crédito e as pessoas e empresas evitam investir no que não consideram essencial. Isso acaba levando a uma queda na demanda por petróleo, algo que vem ocorrendo em todo o mundo. Dados recentes indicam, por exemplo, que os motoristas americanos reduziram seu consumo de gasolina em mais de 5% nos últimos 12 meses. Como há menor demanda, diminui o preço do produto. É tão simples assim? Seria, se as pessoas soubessem exatamente quanto petróleo existe. Essa é uma variável importante, que pode influenciar os preços no futuro, revertendo as baixas que estamos vendo neste momento. Ninguém sabe ao certo qual o volume das reservas de petróleo que ainda existem para ser exploradas. Muitos produtores evitam dar detalhes sobre quanto petróleo já extraíram e também não se sabe quanto do produto está em petroleiros espalhados pelo mundo. Além disso, não há dados confiáveis sobre quanto petróleo os países guardam em suas reservas para o caso de emergências, nem quanto petróleo exatamente é consumido no mundo. Por tudo isso, o que influencia verdadeiramente os preços é a percepção que as pessoas têm da oferta e da demanda, e não esses dois fatores em si. Isso significa que, quando dados reais sobre o petróleo são divulgados, como o balanço semanal das reservas de petróleo dos Estados Unidos, eles acabam tendo uma influência muito grande - já que poucos países são tão transparentes nessa área. Tirando isso, o mercado do petróleo é como o de qualquer outra commodity, não é? Não, o mercado de petróleo tem algumas características próprias. Primeiramente, existe a Opep, o cartel que controla 55% do petróleo exportado no mundo. A organização coordena aumentos e quedas da produção, para que todos os seus membros adotem a mesma medida. Nem sempre isso dá certo, mas certamente a existência da Opep indica que o mercado de petróleo não opera livremente, como acontece com outras commodities. Em segundo lugar, o petróleo tem a característica de ser um produto não-renovável, ou seja: um dia, vai acabar. Nisso, assemelha-se a commodities como o minério de ferro ou manganês. Os primeiros barris que foram extraídos foram os mais fáceis de obter. À medida que o produto ficar escasso, será necessário investir mais dinheiro para o produto que é mais difícil de extrair e refinar. É o caso do petróleo da camada pré-sal, no Brasil, que exigirá um investimento milionário para ser trazido à superfície. Por causa dessa variável, é natural que, com a passagem do tempo, o petróleo fique mais caro. Por fim, o petróleo é influenciado por fatores aleatórios. Se um furacão passar pelo Golfo do México, pode interromper a produção na região. O mesmo pode acontecer no Oriente Médio se, por exemplo, um novo conflito começar por lá, e tudo isso tende a elevar os preços. Países que não pertencem à Opep têm capacidade de influenciar o preço do produto? Sim, bastante. A Rússia é o segundo maior produtor mundial e não pertence à Opep. Outros produtores importantes que não fazem parte do cartel são o México, a Noruega e o Azerbaijão. Ao anunciar que vai cortar em 2,2 milhões de barris por dia a produção, a Opep pediu que os não-membros colaborem com o esforço e também adotem a mesma medida. A Rússia, que enviou um representante à reunião, indicou que cogita fazer isso, mas não deu nenhuma garantia. Nos anos 90, além da Rússia, México e Noruega decidiram se unir e diminuir a produção para elevar o preço do barril, que, na época, estava em cerca de US$ 10. Qual é o papel dos especuladores no mercado? Desde que o preço do petróleo começou a cair, cada vez menos se ouve falar dos especuladores, mas eles continuam bem ativos nesse setor. Eles compram contratos de entrega futura de petróleo na esperança de que eles se valorizem antes de vendê-los para que, assim, possam lucrar. Se avaliam que o preço vai cair, eles também podem vender contratos que ainda não têm e comprá-los depois, antes que tenham que entregá-los aos seus donos. Mesmo aqueles que acreditam que o mercado funciona puramente na base da oferta e da demanda concordam que os especuladores aumentam a volatilidade das cotações. A influência dos especuladores pode fazer com que um fator que no passado poderia mudar a cotação do petróleo em alguns poucos centavos aumente em um dólar o preço do barril. Os especuladores também tornam relevantes fatores que antigamente não mudariam em nada as cotações. Que tipo de fatores? Até mesmo testes nucleares na Coréia do Norte já foram citados como razão para que o preço do petróleo aumentasse - embora seja difícil ligar os dois pontos e imaginar a relação de uma coisa com outra. Em um mercado com uma carência tão grande de informações confiáveis, basta pessoas suficientes acreditarem que um fator vai ter alguma influência no preço do petróleo que ele terá. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.